De que nos vale viver mais anos se não tivermos saúde para os desfrutar? Olhando para os dados, concluímos que o cenário demográfico do país se alterou nas últimas décadas. A verdade é que, a este nível, as características da população mostram que somos um país de gente envelhecida. Segundo o Eurostat, a idade média da população portuguesa fixou-se, em 2022, nos 46,8 anos, a segunda mais elevada entre os 27 Estados-membros da União Europeia, tendo sido a que mais aumentou nos últimos 10 anos. Se, por um lado, o aumento da longevidade é sinal de evolução da ciência, por outro pode haver um preço alto a pagar. Ou seja, quanto mais tempo vivermos, mais doenças podemos desenvolver e menos qualidade de vida poderemos experienciar se continuarmos a agir como sempre. “Acima de tudo, há que discutir como é que nos vamos manter saudáveis”, sublinha Maria Manuel Mota, diretora-executiva do Instituto de Medicina Molecular (IMM), uma das 28 especialistas presentes no debate de apresentação das soluções do projeto 50 Mulheres, 50 Ideias para Mudar a Saúde.
O caminho para uma vida mais saudável — que se prolongue ao longo do tempo — começa, segundo as especialistas, na prevenção primária. Isabel Saraiva, presidente da Respira, recorda que a prevenção tem sido um dos parentes pobres da saúde. Para contrariar esta situação, a especialista acredita que “é crucial promover a cessação tabágica, assim como a vacinação”. Para o atingir são precisas campanhas e outras estratégias de comunicação que aumentem a literacia da população quanto à prevenção. Ana Correia de Oliveira, médica especialista em medicina geral e familiar, sugere que a promoção dessa literacia se faça através de sites, por exemplo, e na incorporação por parte da comunicação social de esclarecimentos que promovam o conhecimento sobre o sector. Mas, para fazer isso, a forma de comunicar na academia, nos media e na prática clínica é fulcral, defende a médica de família Sofia Baptista.
O caminho passa mesmo por prevenir antes de remediar. O aparecimento de casos de cancro é um bom exemplo: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 30% e 50% das mortes por cancro podem ser evitadas se se adotarem hábitos de vida mais saudáveis. Não consumir álcool em excesso, fazer exercício físico para combater o sedentarismo ou optar por alimentos enquadrados nas diretrizes da dieta mediterrânica são pequenas ações que cada pessoa pode replicar e que irão diminuir a chance de padecer de algumas doenças. Quando se fala em nutrição, por exemplo, “não devemos apenas contar calorias”, lembra Inês Falcão Pires, professora catedrática e investigadora na Unidade de Investigação e Desenvolvimento Cardiovascular da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. “Nos últimos anos tenho verificado o impacto que os fatores de risco — nomeadamente a má alimentação — têm na deterioração da saúde cardiovascular”, revela. A jornada inicia-se, segundo a própria, com a sensibilização junto dos mais novos, tal como se fez em tempos com a questão da reciclagem, podendo ser estes a ensinar aos mais velhos sobre que hábitos alimentares devem ter.
Tecnologia? Sim, mas com segurança
Como diz Maria de Belém, ex-ministra da Saúde, as “tecnologias permitem aproximar os especialistas” e os cidadãos das instituições e ninguém pode negar os benefícios das mesmas. Não obstante, para a investigadora do CINTESIS da Universidade do Porto Ana Ferreira, a cibersegurança é transversal a todas as ideias apresentadas neste projeto. A principal motivação dos criminosos que atuam no mercado negro são os dados em saúde, que valem cinco vezes mais do que os outros dados, como os bancários. A especialista em cibersegurança garante que é essencial que todos os utilizadores e instituições de saúde tenham uma certificação base nesta área, à qual Ana Ferreira chama de “carta de condução”, para que consigam garantir que a tecnologia na sua posse é segura e confiável.
O futuro está na medicina personalizada
Colocar o doente do centro de todas as decisões, adaptando as terapêuticas, parece ser o caminho que a medicina quer traçar. A vogal do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) Catarina Baptista gostaria de ver executada esta abordagem para todas as doenças crónicas. “Tratar aquilo que é diferente de maneira diferente” é a ideia que a especialista defende para que as terapêuticas aplicadas aos doentes sejam cada vez mais eficazes. O que acontece atualmente é que nem todos os doentes respondem de maneira igual à mesma medicação. No caso da diabetes, por exemplo, 40% dos doentes que estão a ser medicados para controlar esta doença não estão a alcançar o seu potencial de saúde. Há outras áreas, como “a genética ou a imagiologia, que nos permitem personalizar a abordagem clínica”, explica Catarina Baptista. Com este tipo de abordagem clínica aumenta-se a eficiência do sistema — financeiramente falando —, assim como a qualidade e a equidade.
50 mulheres, 50 ideias para mudar a saúde
O projeto
É uma iniciativa do Expresso, que tem o apoio da Sanofi, e que surge nas comemorações dos 50 anos do jornal. Dar voz a mulheres que se destacam nos diferentes campos da Saúde — dentro e fora de Portugal — e encarar as suas ideias e soluções como algo benéfico para o desenvolvimento deste sector no país é o propósito do projeto.
As categorias
A seleção é abrangente e conta com a participação de mulheres agrupadas em cinco categorias distintas: Liderança, Inovação, Investigação, Comunicação e Profissionais de Saúde.
As ideias
As 50 ideias são publicadas no site do Expresso, em formato vídeo. Todas as segundas-feiras são conhecidas cinco novas ideias, sendo que — até ao momento — já foram divulgadas 45.
O debate
Ocorreu no dia 3 de maio e foi discutido o presente e o futuro da Saúde em Portugal, tendo em conta as 50 ideias apresentadas. A sessão pode ser revista no Facebook do Expresso.
Saiba mais
Acompanhe tudo AQUI.
Ideias e soluções
Agora é que são elas. 50 mulheres, de várias especialidades, dão 50 ideias sustentadas para o desenvolvimento da saúde em Portugal. As 50 soluções foram apresentadas e debatidas no evento e prometem abrir as portas para o futuro do sector. 50 Mulheres, 50 Ideias para Mudar a Saúde é um projeto do Expresso com o apoio da Sanofi.
Textos originalmente publicados no Expresso de 5 de maio de 2023
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