Não há dúvidas de que Portugal tem vindo, cada vez mais, a dar cartas no combate ao HPV (vírus do papiloma humano) — infeção sexualmente transmissível que pode, em muitos casos, ser assintomática. Contudo, a batalha não está ganha. Ainda que os dados indiquem uma redução do número de casos de HPV no país ao longo dos anos, é importante realçar que o vírus pode causar outras doenças ou cancros (como o cancro do colo do útero) e, por isso, há que pensar nas maneiras mais eficazes de prevenir o seu surgimento. É aqui que prevenção e vacinação se tornam palavras de ordem.
A prevenção é, realmente, a melhor forma de garantir que haja um baixo risco de ter a infeção ou outras doenças associadas. Aliás, só a combinação entre a vacinação e o rastreio é que determinarão a fórmula ideal para a eliminação dos tumores provocados pelo HPV, sublinhou Rui Medeiros, investigador, professor universitário e membro do European Cancer Organisation, na conferência “Eliminar os cancros e doenças associados ao HPV: meta europeia, oportunidade portuguesa”, que aconteceu esta sexta-feira. Organizado pela MSD com o Expresso como media partner, o evento foi protagonizado por especialistas da área da saúde que discutiram acerca do panorama do HPV em Portugal, bem como a sua prevenção.
No centro da conferência esteve também a apresentação dos resultados iniciais do “White Paper”, estudo coordenado por Rui Medeiros cuja conclusão assenta no alargamento da vacinação na população até aos 26 anos, incluindo homens, mulheres e grupos de risco acrescido (imunocompetentes e imunocomprometidas). No entanto, o estudo defende que não devem ser feitas alterações nos esquemas vacinais atuais até que haja evidência clara de que o impacto dessas mesmas alterações é positivo.
A conferência foi apresentada por Liliana Carvalho, jornalista da SIC, e contou com a presença de Rui Medeiros, investigador e professor universitário; Miguel Guimarães, membro da Comissão Parlamentar de Saúde; Isabel Fernandes, coadjuvante da direção do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, da DGS; Ana Correia de Oliveira, vogal da direção executiva do SNS; Hugo Sousa, virologista; Nuno Luís, diretor do serviço de doenças infecciosas do Hospital de Setúbal; Bruno Jorge Pereira, médico urologista e andrologista; Pedro Montalvão, diretor do serviço de otorrinolaringologia do IPO; e Ricardo Falcato, pessoa com HPV e vogal da direção do GAT.
Conheça as principais conclusões.
Um caso de sucesso
- A cobertura vacinal em Portugal é elevada e os números mostram que a vacina tem vindo a reduzir a prevalência da infeção, assim como tem vindo a reduzir, no caso das mulheres, a prevalência do cancro do colo do útero.
- “Conseguimos ver uma redução claríssima na prevalência da infeção por HPV 16 e 18 na população com a vacina. Precisamos de mais dados para provar que isto é eficaz? Não precisamos”, apontou o virologista Hugo Sousa.
- As medidas de rastreio e vacinação no país são até um exemplo a seguir para outros países da Europa: “No caso do HPV e da erradicação do cancro do colo do útero, temos esta questão de uma alta percentagem de vacinação e um rastreio que não envergonha ninguém (...) e há países, como é o caso da Croácia, que nos olham com admiração e tentam perceber as razões do nosso sucesso”, afirmou Rui Medeiros.
Como atingir melhores resultados
- No geral, os especialistas acreditam que é importante alargar a vacinação até aos 26 anos nas mulheres, nos homens e nas pessoas de risco. Apresenta-se como a forma mais eficaz de combater o HPV.
- “A questão da vacinação e da neutralidade de género é essencial e Portugal caminha neste bom sentido”, acredita Rui Medeiros, acrescentando que tanto a OMS como o Plano Europeu de Luta Contra o Cancro defendem esta medida.
- Nuno Luís também acredita que esse é um dos próximos passos a tomar: “A vacinação com neutralidade de género e multicohort [a diferentes grupos etários ao mesmo tempo] aumentam automaticamente a efetividade nos ensaios que foram feitos para o dobro (...) Este efeito tem, obviamente, relação com a imunidade direta através da vacinação dos homens, mas também com esse efeito de grupo — essa imunidade de grupo é bilateral.”
- A literacia em saúde e a educação sexual foram ainda referidas como peças essenciais na prevenção do HPV.
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