Jorge Dias, diretor-geral da Granvinhos, deu a cara por uma das empresas portuguesas exportadoras que estiveram em destaque num vídeo exibido no evento
D.R.
Transição. O processo de internacionalização de Portugal tem acelerado o passo nos últimos anos, com as exportações a subirem e os produtos mais reconhecidos. Urge aumentar o valor acrescentado e diversificar os destinos de venda
A trajetória ascendente das exportações portuguesas nos últimos anos é inegável e assente nos números. Se em 2000 representava 28,2% do PIB — segundo dados do INE — em 2024 ficaram acima dos 46%, uma ligeira quebra face ao máximo histórico de 49,5% atingido em 2022. Mas subsistem desafios para produtores, retalhistas e governantes. Porque, por exemplo, se em termos nominais, as exportações de bens subiram 2,5% no ano transato, o défice comercial de bens agravou-se em €78 milhões, com as importações a subirem 1,9% e a atingirem os €107.171 milhões.
“Temos de prestar atenção ao valor que criamos na exportação e para os mercados que exportamos”, lembra o ex-ministro da Economia Augusto Mateus, para quem ainda “exportamos pouco valor acrescentado” e muitas vezes “para mercados pouco dinâmicos”. Segundo o professor universitário, estamos “a aumentar as exportações mas não a sua importância na criação de riqueza” porque o “impacto positivo é todo comido pelo aumento do valor importado”. Temos de apostar em incentivos públicos para diversificar os mercados até porque “qualquer pessoa percebe que é mais fácil vender em Espanha do que na Coreia”.
É um dos motivos pelos quais a “AICEP — Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal tem apoiado a produção nacional na sua transição para segmentos de maior valor acrescentado”, explica o administrador Paulo Rios Oliveira, o que “significa identificar tendências internacionais que criam procura por sectores onde Portugal pode ser competitivo”. E lembra que, “embora exista ainda uma elevada concentração nas grandes empresas exportadoras, um grupo relevante de empresas tem conseguido expandir-se para múltiplos destinos, reduzindo a dependência de poucos mercados”.
Mudanças
Maria Estarreja, diretora executiva do Retail Innovation Lab da Católica Lisbon considera que se tem “vindo a assistir a uma maior aposta das cadeias de retalho na aquisição de produtos nacionais apoiando diretamente produtores locais e promovendo o selo de produção portuguesa nas prateleiras”. É o caso do sector vitivinícola em que, sem exportações relevantes de vinho, “a produção nacional seria excedentária, uma vez que o consumo interno não teria capacidade para absorver todo o volume produzido. A internacionalização é, por isso, determinante”, elucida Frederico Falcão, presidente executivo da ViniPortugal. Na opinião de Gonçalo Santos de Andrade, presidente da Portugal Fresh, “apesar da dimensão, Portugal tem condições de excelência para produzir com valor acrescentado”.
“Este processo tem permitido levar estas empresas” para vários mercados do mundo, reforça Pedro Silva, head of consulting da Forvis Mazars, “no que seria, de outra maneira, um esforço difícil de alcançar”. O secretário de Estado da Economia, João Rui Ferreira, não tem dúvidas de que “Portugal é um país que tem de diferenciar se pelo valor” e olhar para o mundo como a sua “plataforma de negócios”. Sem esquecer que o “retalho é um sector com impacto enorme na qualidade de vida das pessoas”, o governante destaca a importância de “abrir portas para que estes produtores possam fornecer produtos noutras cadeias no estrangeiro”.
Como afirma Bruno Pereira, administrador de compras da Lidl Portugal, “é imperativo promover e valorizar os produtos portugueses, tanto em Portugal como além-fronteiras, pois são essenciais para o crescimento da nossa economia e da nossa sociedade”. Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED, Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, acrescenta que “muitos dos produtos que hoje chegam a dezenas de países tiveram no retalho nacional o primeiro espaço de valorização, de escala e de inovação”, com o sector a funcionar “como plataforma de promoção e de credibilidade”: ajuda “produtores a testarem novos produtos, a ganharem notoriedade e a prepararem-se para competir lá fora”. Ou seja, “falta reforçar a capacidade produtiva e de organização da fileira, acelerar a modernização tecnológica e garantir condições de competitividade fiscal e regulatória”.
EXPORTAÇÕES EM NÚMEROS
55%
do PIB até 2029 é a meta do Governo para as exportações. Em julho, as exportações caíram 11,3% e as importações aumentaram 2,8%
€2,5
mil milhões foi quanto as exportações portuguesas de frutas, legumes e flores representaram em 2024, mais 7,5% que em 2023 e o valor mais alto de sempre
3
países (Espanha, Alemanha e França) concentraram mais de metade do total das exportações nacionais (50,5%) em 2024