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Baixar adicional à taxa de juro? “A decisão não é para agora”

Francisca Guedes Oliveira, administradora do Banco de Portugal, foi uma das participantes na conferência
Francisca Guedes Oliveira, administradora do Banco de Portugal, foi uma das participantes na conferência
TOMAS ALMEIDA

Na conferência "O futuro do crédito à habitação", que a Century 21 organizou esta quarta de manhã e a que o Expresso se associou como media partner, foram discutidas as taxas de juro, a digitalização da banca e o crescimento dos Intermediários de Crédito

A possibilidade de o Banco de Portugal (BdP) voltar a baixar o adicional à taxa de esforço que é aplicada aos créditos à habitação esteve em destaque na conferência que a Century 21 organizou esta quarta-feira de manhã e a que o Expresso se associou como media partner. Além da administradora do BdP, Francisca Guedes Oliveira, o encontro contou com António Ramalho, membro do conselho consultivo da Century 21; Patrícia Costa, secretária de Estado da Habitação; Ricardo Guimarães, diretor do Confidencial Imobiliário; Ricardo Sousa, CEO da Century 21 e da Finance 21; Rui Teixeira, administrador do Millennium BCP; Miguel Carvalho, administrador do Santander; Luís Pereira Coutinho, administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD); João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI; Rui Fontes, administrador do Novo Banco; Tiago Leite, Finance 21; Pedro Cassiano Santos, sócio da Vieira de Almeida Sociedade de Advogados; Nuno Silva, fundador da Finsolutia e João Matos, diretor da consultora EY em Portugal. Estas são as principais conclusões.

Taxas de esforço

  • O BdP não descarta voltar a baixar o adicional que os bancos juntam à taxa de juro dos créditos à habitação a taxa variável para garantir que a prestação da casa não ultrapassa os 35% dos rendimentos das famílias (taxa de esforço). Contudo, não será para já: “Está em cima da mesa voltar a mexer, mas a decisão não é para agora. Estamos a avaliar”, diz Francisca Guedes Oliveira.
  • A acontecer, seria a segunda alteração a esta taxa. A primeira aconteceu no final de 2023, passando de 3% para os atuais 1,5%, e tinha como objetivo aliviar o cálculo das taxas de esforço para facilitar a contratação do crédito num momento de taxas de juro elevadas.
    Ricardo Guimarães recorda mesmo que antes dessa alteração houve situações em que o spread mais as duas taxas - adicional mais a taxa de juro - chegaram aos 7%.
  • Para Ricardo Sousa seriam boas notícias se o BdP anunciasse uma nova redução e até sugere que seja para 1%, porque iria melhorar o acesso ao crédito, porque apesar de já terem descido, as taxas de juro continuam elevadas.
    Segundo dados recentes do BdP, a “taxa de juro média das novas operações de crédito à habitação caiu para 2,88% em julho”, e é “valor mais baixo desde novembro de 2022”, mas ainda está longe das taxas inferiores a 1% que se registaram, pelo menos, entre outubro de 2020 e fevereiro de 2022.
  • E por falar em taxas de esforço, Ricardo Sousa sugere que os pais possam entrar no cálculo da taxa de esforço dos filhos. Para o CEO da Century 21 seria mais um incentivo ao crédito jovem que, desde que foi aprovada a garantia do Estado, cresceu significativamente.
  • Segundo Francisca Guedes Oliveira, “54% do novo crédito concedido é dos jovens”. O que significa que “esta garantia está, de facto, a ser produtiva”, acrescenta Ricardo Guimarães.
Ricardo Guimarães, diretor do Confidencial Imobiliário
TOMAS ALMEIDA

Taxa fixa vs variável

  • O diretor do Confidencial Imobiliário defende que este era um bom momento para os bancos incentivarem mais à contratação de empréstimos a taxa fixa, precisamente porque o adicional está mais baixo e porque as taxas de juro desceram ligeiramente.
  • Miguel Carvalho explica, contudo, que existem questões técnicas e regulatórias que impedem os bancos de incentivar as taxas fixas porque têm um limite de 2% no ajuste do valor da amortização desses empréstimos. Em contrapartida, “este ano já vamos para mais de 40% [de créditos] na taxa variável, porque as taxas de juro estão a descer”, diz.

João Pedro Oliveira e Costa, do BPI; Rui Teixeira, do BCP e Miguel Carvalho, do Santander estiveram no painel que juntou vários administradores da banca, incluindo ainda Luís Pereira Coutinho, da CGD e Rui Fontes, do Novo Banco
TOMAS ALMEIDA

Mais sugestões

  • A forma de fazer crédito à habitação é agora um processo em constante mudança, muito por causa da digitalização da banca. Estes garantem que à medida que implementam novas tecnologias, alteram os processos e segundo João Matos isso é visível porque os procedimentos estão mais rápidos e simples, mas ainda há alterações a fazer.
  • Por exemplo, Nuno Silva pede que haja uma maior estandardização nos processos dos bancos, apesar de concordar que já existem melhorias.
  • Para Luís Pereira Coutinho e Rui Teixeira as alterações começam no regulador e nas medidas macroprudenciais, por exemplo, nos prazos dos empréstimos que deviam ser ainda mais alargados para os jovens.
  • Para João Pedro Oliveira e Costa o que é preciso é “o Estado dar uma orientação sobre o que quer fazer” ou, como diz Miguel Carvalho, “apresentar políticas concretas de habitação”.

A tecnologia e a protecção de dados foram os temas do último painel de debate
TOMAS ALMEIDA

Os Intermediários de Crédito

  • O número de Intermediários de Crédito (IdC) cresceu muito desde 2018, quando foi publicada a legislação que regula esta atividade.
  • Atualmente são já mais de seis mil IdC, dos quais três mil são vinculados, ou seja, têm contratos com bancos com entidades mutuantes, e destes 21% trabalham apenas com crédito à habitação.
  • O BdP está, por isso, a reforçar a supervisão e vai também apresentar uma alteração ao quadro regulatório para aumentar a proteção ao consumidor.
  • Mas de acordo com todos os intervenientes na conferência desta manhã, não tem havido queixas relevantes.
  • Pedro Cassiano Santos considera que se trata de uma atividade escrutinada e que, em termos de proteção ao consumidor, Portugal compara bem com outros países da Europa. Ainda assim, deixa um alerta em relação ao digital, “onde a proteção do consumidor será talvez sempre mais difícil de assegurar”.
  • Os IdC fazem muitos procedimentos e tratamento de dados pessoais e sensíveis digitalmente e com, o advento da Inteligência Artificial, farão ainda mais. Mas é isso que os distingue, que os liberta de tarefas repetitivas e que lhes permite prestar mais atenção às pessoas, remata Tiago Leite.

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