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“A desconfiança não é no SNS, é em quem o gere”

Luís Cunha Miranda - coordenador do Observatório do Ato Médico, da Ordem dos Médicos - é o décimo e último convidado a comentar, em vídeo, o estudo sobre “A Saúde do Homem”, realizado pela GfK Metris para o Expresso. Segundo o estudo, três em cada quatro portugueses continuam a confiar no médico como principal fonte de informação sobre saúde. Para o especialista, a relação de proximidade entre o médico e o doente é insubstituível e está hoje ameaçada por tempos de consulta mais curtos, burocracia e má gestão do SNS

“A desconfiança não é no SNS, é em quem o gere”

Sara Fevereiro

Jornalista

Segundo o estudo, três em cada quatro portugueses ainda recorrem prioritariamente ao seu médico. No entanto, 54% admitem também utilizar motores de busca, uma tendência que evidencia um comportamento cada vez mais híbrido na procura por respostas.

“Apesar deste desenvolvimento, quer da inteligência artificial, quer dos motores de busca, o médico continua a ser a fonte de referência de informação do doente. E terá de ser sempre assim”, afirma Luís Cunha Miranda, coordenador do Observatório do Ato Médico da Ordem dos Médicos. Para o clínico, esta confiança é um reflexo direto da relação médico-doente, que considera essencial manter. “Essa informação deverá ser debatida em consulta. Só assim o doente pode ter uma qualidade de informação que lhe permita ser co-gestor da sua doença”.

Luís Cunha Miranda sublinha que o tempo de consulta está a tornar-se cada vez mais escasso, o que ameaça comprometer o vínculo com o doente. “Temos de combater a perda de tempo clínico para a burocracia e impedir que imposições externas ou legislativas destruam o que é essencial: o contacto humano”.

O mesmo estudo mostra que, apesar de a maioria dos portugueses ter médico de família, 44% têm também um seguro de saúde. Um dado que levanta questões sobre a confiança no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“O que isto mostra é que o SNS precisa de uma profunda reestruturação”, considera Luís Cunha Miranda. “Mas a desconfiança não é no SNS. A desconfiança é em quem o gere e não aporta às pessoas aquilo que elas mais necessitam: o médico de família, consultas de especialidade atempadas e um percurso de saúde que dê resposta aos problemas das pessoas”.

Para o coordenador do Observatório do Ato Médico, os privados “são importantes como complemento e não deverão nunca ser encarados como substituição do SNS."

A importância do humanismo na prática clínica

Os inquiridos identificam o atendimento personalizado, a proximidade e a boa relação com o médico como as principais vantagens de recorrer ao médico de família. Luís Cunha Miranda reforça que esta dimensão humana é central: “Essa é a base da medicina: a relação médico-doente, a consulta, a proximidade, o humanismo. É isso que caracteriza os médicos.”

Ainda assim, considera que este modelo está sob pressão. “Vivemos tempos de burocratização, tempos completamente irrealistas de consulta, softwares desajustados à prática clínica. Tudo isso tem vindo a prejudicar a relação médico-doente e, consequentemente, os cuidados de saúde.”

Homens vão menos ao médico e isso tem consequências

O estudo indica que mais de 70% dos casos de doenças como cancro do pulmão ou da próstata foram sinalizados por exames de rotina. Contudo, os homens continuam a ir menos ao médico do que as mulheres.

“É algo cultural, muito marcado no sul da Europa. A mulher continua a ser a garante não só da sua saúde, mas também da dos filhos e muitas vezes do próprio companheiro”, observa.

Para contrariar este padrão, Luís Cunha Miranda defende uma maior articulação com a medicina do trabalho: “Muitos homens vão às consultas de medicina do trabalho por imposição legal. Isso pode ser um ponto de ligação ao médico de família.”


Adicionalmente, sugere campanhas mais direcionadas à saúde masculina. É uma área que tem sido negligenciada e "ainda há muito por fazer.”


A Saúde do Homem

Este é um projeto a que o Expresso chamou “A Saúde do homem” e que conta com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine e ainda com o Alto Patrocínio da Presidência da República e a Ordem dos Médicos, na qualidade de parceiro institucional. O estudo foi conduzido pela empresa de estudos de mercado, GfK Metris.

No total, serão publicadas dez entrevistas em vídeo e dez entrevistas em texto. Acompanhe tudo em expresso.pt .

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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