Dar novo uso à lenhina, uma substância natural subvalorizada, é o objetivo do projeto de cosmética LignoBeauty
André Vilela/Reframe
Portugal. Os recursos florestais enfrentam uma fase crítica entre o impacto das alterações climáticas e as pressões económicas. É neste contexto que novas ideias — como satélites com inteligência artificial ou CO2 sólido — podem indicar um novo caminho
A floresta portuguesa vive uma fase desafiante, mas a sua relevância continua a ser clara: de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), as indústrias de base florestal e as empresas da silvicultura geraram um volume de negócios de cerca de €13,59 mil milhões, contribuindo, respetivamente, para 4,6% e 0,47% do PIB em 2023. Para que o impacto não desapareça é preciso continuar a renovar, algo bem presente nas 10 novas ideias para a floresta que pode conhecer de seguida.
BIOMATERIAL COSMÉTICO
Giovana Colucci
Centro de Investigação de Montanha
“Transformar a lenhina, um subproduto industrial, num ingrediente multifuncional de elevado valor para a indústria cosmética” é o objetivo do LignoBeauty, projeto que está a ser desenvolvido pela estudante de doutoramento Giovana Colucci no Instituto Politécnico de Bragança. Trata-se de algo que “pode ser diretamente incorporado em formulações cosméticas mais sustentáveis, superando desafios técnicos de aplicação”, e que “ajuda a fechar o ciclo de produção”.
SATÉLITE COM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
José Gaspar
CoLAB ForestWISE
O projeto que permitirá desenvolver algoritmos de inteligência artificial (IA) baseados em imagens de satélite, nanossatélites e drones tem como meta produzir e recolher informação florestal, além de produzir produtos cartográficos relacionados com as florestas. São projetos que “dinamizam a bioeconomia” e “a gestão dos recursos florestais”, garante José Gaspar, CTO do ForestWISE — Laboratório Colaborativo para a Gestão Integrada da Floresta e do Fogo.
BOLOTA COMO ALIMENTO
Alexandra Azevedo
Quercus
A presidente da Quercus, Alexandra Azevedo, chama a atenção para a “falta de medidas para valorizar a fileira da bolota como alimento e consequentemente as árvores nativas do género Quercus, como a redução do IVA para 6%, face à atual taxa de 23% aplicada aos produtos de bolota”. Pode ser parte do caminho para um “efetivo retorno económico e financiamento dos proprietários para soluções mais sustentáveis para o país”.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA FORA DE LISBOA
Carlos Fiolhais
Universidade de Coimbra
É em oposição a um “centralismo quase sem paralelo na União Europeia” (UE) que o diretor do Rómulo Centro Ciência Viva, da Universidade de Coimbra, garante ser “preciso incentivar a ocupação do interior”. Diz Carlos Fiolhais que “a descentralização devia ser a primeira prioridade da reforma do Estado”, com o professor emérito a defender que o “Ministério da Agricultura devia dar o exemplo, saindo de Lisboa para vir para perto da floresta”.
DISCIPLINA DA FLORESTA
Maria José Roxo
FCSH
É preciso criar o mais cedo possível no percurso escolar uma disciplina do currículo académico inteiramente dedicada à floresta. A ideia é de Maria José Roxo, com a professora catedrática da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa a reforçar que o “o que falta muitíssimo é não haver uma educação” mais prática. Até porque “não é com o iPad ou o YouTube” que as crianças vão sentir “o cheiro da floresta”.
MONITORIZAÇÃO INTELIGENTE
Renato Silva
Kropie
Renato Silva e André Conde fundaram a Kropie para desenvolverem uma “tecnologia que permite recolher e cruzar dados de análises de solo, água e planta, com sensores ambientais e modelos de IA, para apoiar produtores e técnicos”, que “democratiza o acesso à agricultura e silvicultura de precisão, com uma solução simples, acessível e adaptada à realidade nacional”.
REVERTER A FRAGMENTAÇÃO
Filipe Duarte Santos
CNADS
Segundo números da UE, a média anual da percentagem de área ardida no período de 2006 a 2024, relativamente à área de Portugal continental, foi de 1,05%, o que constitui o valor mais elevado nos 27 países da UE”, ilustra o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Filipe Duarte Santos. “Sem criar condições para reverter a extrema fragmentação da propriedade rústica não é possível melhorar”, avisa.
LUCRO AMBIENTAL
Nuno Gomes Oliveira
FAPAS
Segundo o presidente da Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, Nuno Gomes Oliveira, “há que colocar as matas sob a tutela da Economia e as florestas autóctones e de conservação sob a tutela do Ambiente”. Até porque “das primeiras há que tirar lucro económico e das segundas lucro ambiental, nomeadamente dos serviços dos ecossistemas”.
CO2 SÓLIDO
João Silva Pereira
Universidade de Coimbra
A ideia fundadora do projeto BW2C, da Universidade de Coimbra, consiste no “desenvolvimento de um sistema semimóvel e energeticamente autónomo capaz de realizar, in situ [no local], a combustão controlada de resíduos florestais e a subsequente captura”, o que “evita a utilização de reagentes químicos e produz CO2 em estado sólido” e “facilita significativamente o seu transporte para posterior uso e/ou armazenamento”, explica o investigador João Silva Pereira.
PUZZLES DE ÁRVORES
Helena Pereira
ISA
Para Helena Pereira, investigadora do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia, uma resposta inovadora pode passar pela criação de “livros mostrando árvores, folhas e cascas adequados para as várias idades, brinquedos, puzzles e cubos, assim como histórias e canções com meninos e meninas na floresta”. E pode “ajudar as creches e infantários a fazer atividades de plantar árvores em jardim ou vasos. No fundo, “fazer com que as árvores sejam amigas”.