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Homens com notas baixas no exame à saúde

Homens com notas baixas no exame à saúde

Estudo. Adiam consultas, ignoram sintomas e recorrem menos do que as mulheres aos cuidados primários. Negligência 
e risco são palavras que ficam associadas ao inquérito “A Saúde do Homem”. Várias personalidades analisaram os dados do estudo na plataforma digital: modo geral, manifestaram as suas preocupações, aconselharam a prevenção e o rastreio 
e apontaram soluções. Conheça as reservas e as propostas de alguns dos especialistas

A SAÚDE DO HOMEM O Expresso — com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine e o apoio institucional da Ordem dos Médicos — perguntou aos homens portugueses quais são 
as doenças que os preocupam. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo 
todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver código de conduta online), sem interferência externa.


1. Horários flexíveis e mais teleconsultas

Adalberto Campos Fernandes
Médico, professor universitário e político

Para melhorar o acesso dos homens à saúde — o estudo “A Saúde do Homem” indica que, apesar de 86% terem médico de família, só 57% recorrem aos centros —, o ex-ministro da Saúde defende horários flexíveis nos cuidados primários e mais teleconsultas e sugere reforço da literacia em saúde e equipas multidisciplinares com psicologia, nutrição e enfermagem. No tratamento, 80% preferem hospitais públicos; 33% referem que o rendimento limita o acesso. Adalberto Campos Fernandes propõe ras­treios em locais como empresas e uso de apps e monitorização remota. Destaca a importância de um sistema “proativo, inclusivo e tecnicamente capacitado”.


2. Aumentar a investigação

Adolfo Mesquita Nunes
Advogado

Adolfo Mesquita Nunes alerta: “48% dos homens adiaram cuidados por falta de dinheiro. Este número não surpreende — mas devia preocupar.” Num país onde 30% da despesa em saúde é paga diretamente pelos utentes, aconselha um debate sobre o peso dos encargos financeiros no acesso. Só 52% dos homens nunca adiaram consultas por questões económicas. “Portugal vive mais, mas vive pior”, diz, citando que dos 19,8 anos após os 65 apenas 7,8 são com saúde. Critica o uso de inteligência artifi­cial para aconselhamento médico: “Plausibilidade não é rigor clínico.” Pede mais investigação, menos estereótipos e políticas com base em dados.


3. A estupidez de ignorar a ciência

Álvaro Beleza
Médico e professor universitário

O professor universitário pede campanhas “sem tréguas” contra o tabaco, principal fator do cancro do pulmão, que preocupa 44% dos portugueses. Critica a fraca influên­cia das campanhas de saúde — estudo refere que apenas 8% dos homens foram ao médico por essa via. Sobre o cancro da próstata, que afeta 16%, diz: “Hoje não há motivos nenhuns para os homens fugirem ao rastreio.” Considera-o um dever cívico. Alerta ainda para os riscos do álcool — só 11% reconhecem risco acrescido — e reforça a importância da moderação: “Modas, excessos e fobias são maus conselheiros. Ignorar a ciência e a evidência é estúpido.”


4. O apelo à literacia em saúde

Helena Canhão
Reumatologista e professora catedrática

Helena Canhão argumenta que “os homens, quando enfrentam a doença, podem apresentar níveis elevados de ansiedade face ao diagnóstico”. Segundo o estudo, gripe (52%), doenças cardíacas (34%) e depressão (24%) são as mais prevalentes, com preocupações centradas em antecedentes familiares (41%) e idade (32%). Sugere programas de literacia em saúde ajustados a diferentes grupos populacionais — sobretudo os que recorrem menos aos médicos — e realça o papel da academia. Sublinha ainda a importância da prevenção, diagnóstico precoce e formação médica empática para superar barreiras culturais no acesso dos homens à saúde.


5. Sensibilização para a mortalidade

José Dinis
Oncologista e investigador

O oncologista aponta: “O combate aos cancros da próstata e do pulmão são ponto de preocupação em Portugal” devido à alta incidência e mortalidade. Em 2021 registaram-se 7099 casos de cancro da próstata e 5547 do pulmão, este último principal causa de morte oncológica. José Dinis apela a uma luta sem tréguas para travar estas doenças e defende um reforço das campanhas de sensibilização, “apesar de Portugal estar entre os países com melhores políticas de rastreio oncológico na Europa”. O cancro preocupa, de acordo com o inquérito, 47% dos portugueses, 52% receiam o do cólon e 44% o do pulmão.


6. Melhorar a comunicação

Maria de Belém Roseira
Jurista e antiga ministra da Saúde

Maria de Belém Roseira considera que a saúde dos homens continua marcada por uma fraca cultura de prevenção. O estudo assinala que, após o aparecimento de sintomas, os homens demoram entre três e seis meses a procurar ajuda — 33% no caso do cancro do pulmão e 50% no da próstata. Para a ex-ministra da Saúde, essa demora reflete estereótipos masculinos ligados à força e resistência que dificultam a aceitação da fragilidade. Propõe melhor comunicação em saúde, uso de ferramentas digitais, envolvimento de figuras públicas e reorganização do SNS. A investigação revela ainda que 25% das mulheres se preocupam com a recusa do parceiro em ir ao médico (vs. 19% dos homens).


7. Diminuir atrasos no diagnóstico

Maria Manuel Mota
Cientista e CEO

O cancro é a maior preocupação dos portugueses (47%), com destaque para o do cólon e reto (52%), pâncreas (49%) e pulmão (44%). Um terço já teve cancro da mama, 16% da próstata e 11% do cólon e pele. Os principais fatores de risco apontados são a idade (40%), hereditariedade (42%, sobretudo em mulheres), sedentarismo (29%) e obesidade (28%). A cientista Maria Manuel Mota realça: “Atrasos no diagnóstico têm impacto muito significativo no tratamento”, pois a deteção tardia reduz a eficácia e a qualidade de vida. Defende uma abordagem personalizada, “por género, idade ou perfil genético”, para melhorar o autocuidado masculino.


8. Os inaceitáveis tempos de espera

Marta Temido
Administradora hospitalar e ex-ministra da Saúde

O estudo revela que 86% dos portugueses têm médico de família, mas 49% apontam os longos tempos de espera e 36% as dificuldades no contacto telefónico como barreiras ao acesso. Marta Temido critica: “Não é aceitável aguardar anos por uma consulta de especialidade ou por uma cirurgia.” A ex-ministra refere também a crise da força de trabalho em saúde, que limita a capacidade de resposta do SNS. Segundo o inquérito, 66% visitam o médico de família pelo menos uma vez por ano. Apenas 5% consideram “extremamente fácil” o acesso a hospitais públicos e 7% aos centros de saúde.

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