O apagão, a segurança de abastecimento, a autonomia energética, a dependência da tecnologia da China e de materiais críticos foram os temas mais destacados na conferência que a Associação Portuguesa de Energia (APE) organizou esta tarde, em Lisboa, para marcar o Dia Mundial da Energia.
No encontro estiveram Paulo Carmona, director geral de Energia e Geologia (DGEG); Nelson Lage, presidente da Adene – Agência para a Energia; António Coutinho, presidente da Associação Portuguesa da Energia (APE); Jorge Barata Marques, diretor de formação, informação e educação da ADENE; Manuela Fonseca, directora de serviços de planeamento energético e estatística da DGEG; João Conceição, administrador executivo da Redes Energéticas Nacionais (REN); José Ferrari Careto, presidente da E-Redes; Filipe Arnaut Moreira, Major-General, comentador em geopolítica e geoestratégia; Sofia Tenreiro, CEO da Siemens Portugal, Vítor Santos, professor Catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e ainda Jean Barroca, secretário de Estado da Energia. Estas são as principais conclusões.
O apagão
Numa conferência que decorreu, precisamente, um mês e um dia depois do apagão que deixou Portugal inteiro sem eletricidade, em alguns casos, durante mais de 10 horas, era inevitável que o apagão não fosse um dos temas em discussão. Mais ainda porque o primeiro painel era sobre segurança de abastecimento.
João Conceição recorda que o apagão não teve origem em Portugal, ma sim em Espanha, e que “a dimensão do problema foi, de tal ordem violenta, que não era possível estancar”.
Paulo Carmona também lembra a origem do apagão, mas salienta que “conseguimos fazer um trabalho de reposição sozinhos” e ainda que conseguimos viver “duas semanas de forma autosuficiente”, ou seja, sem importar energia de Espanha, que era o que estava a acontecer aquando do apagão, ainda que não fosse só por isso que Portugal tenha sido afectado pelo corte no país vizinho.
José Ferrari Careto, da E-Redes
Matilde Fieschi
As redes
No que toca à segurança de abastecimento, as redes têm um papel fundamental e José Ferrari Careto salienta que “há um consenso muito grande de que é necessário investir nas redes de distribuição”.
Contudo, João Conceição alerta que esses investimentos “não passam por uma mera aprovação. Passam por garantir que ninguém está a fazer sobreinvestimentos. Que estejamos a contar com muitos data centers e depois não há assim tantos data centers para ligar”.
Jean Barroca também referiu isso no encerramento da conferência: “que o facto de termos tido um apagão não nos leve a tomar decisões a quente”.
Outra característica fundamental que Paulo Carmona destaca nas redes é a flexibilidade porque tanto o consumo como a produção são hoje diferentes do que eram, havendo mais produção descentralizada (autoconsumo).
Mas João Conceição salienta que até 27 de abril a palavra mais usada na energia era flexibilidade, mas depois de 28 de abril (dia do apagão) passou a ser “flexibilidade com segurança de abastecimento”.
Por isso foi mencionada a questão do armazenamento e a de mudar os sistemas de mercado, ou seja, a forma como se compra e vende energia que ainda hoje é baseado nos mercados tradicionais de quando havia poucas ou nenhumas renováveis.
António Coutinho, presidente da Associação Portuguesa da Energia (APE)
Matilde Fieschi
Segurança energética
A segurança energética de Portugal está relativamente assegurada por causa da produção renovável adicionada nos últimos 20 anos, tanto eólica como solar, mas também a hídrica que já existia no sistema, mas foi reforçada.
De acordo com o estudo Energia em Números, que também foi apresentado esta tarde, a dependência energética de Portugal decresceu para 66,7%, e apesar de ser um bom indicador, Vitor Santos recorda que “é um desafio” porque “temos de saber o que fazer à dependência que ainda temos” e uma das soluções é “avançar para a descarbonização dos transportes e da indústria”.
Vitor Santos recorda ainda a dependência que ainda existe das tecnologias usadas na energia, tal como temos de materiais críticos para a descarbonização, como referiu Sofia Tenreiro.
“A dependência perdura. Não é algo que possamos mudar rapidamente”, considera Filipe Arnaut Moreira.
A segurança energética não está, contudo, apenas relacionada com a produção e o consumo. A guerra na Ucrânia veio mostrar como a energia “é um alvo preferencial”, repara o major-general e, por isso, é preciso saber quem vai defender as centrais existentes, porque elas “são infraestruturas criticas” que temos de proteger não só por causa dos desastres naturais mas também para casos de intervenções armadas.
Filipe Arnaut Moreira, major-general, comentador em geopolítica e geoestratégia