Sector das bebidas incentiva mudança de hábitos com novo sistema de depósito e reembolso em 2026
"Ambiente, Sustentabilidade e Circularidade" foi o tema que marcou o regresso das Conversas Improváveis
Nuno Fox
Esta foi a informação que serviu como ponto de partida para mais uma sessão de Conversas Improváveis, uma parceria entre o jornal Expresso e a PROBEB, Associação Portuguesa de Bebidas Refrescantes Não Alcoólicas. Numa era cada vez mais virada para a proteção do meio ambiente, é fulcral que as organizações se unam para pensar um mundo mais verde
Portugal prepara-se para implementar um novo Sistema de Depósito e Reembolso (SDR) para embalagens de bebidas em plástico, metais ferrosos e alumínio, excluindo o vidro. O objetivo é promover a reciclagem, responsabilizando os produtores e incentivando os consumidores a devolverem as embalagens usadas. Foi este o tema da primeira discussão da segunda edição das Conversas Improváveis de 2025, realizada no Edifício Impresa e transmitida no Facebook do Expresso.
Este novo sistema aplica-se a embalagens de produtos como águas, sumos, refrigerantes, bebidas energéticas, cervejas e mixes alcoólicos. Ficam de fora embalagens com ingredientes lácteos ou com vinho, por poderem contaminar os materiais recicláveis. “Queremos matérias-primas de primeiríssima qualidade e sem qualquer tipo de contaminação”, sublinhou Francisco Furtado Mendonça, diretor-geral da PROBEB.
Ao comprar uma bebida, será cobrado um valor adicional – o depósito (que se pensa que poderá andar na ordem dos €0,10 cêntimos) – que só será devolvido quando a embalagem for entregue num ponto de recolha autorizado.
A rede de recolha incluirá supermercados (com regras específicas consoante a sua dimensão), estabelecimentos Horeca, autarquias e sistemas de gestão de resíduos, bem como pontos em espaço público. Estão previstas cerca de 2 mil e 500 máquinas de recolha automática (estilo vending machines) e 10 mil pontos de recolha manual.
“Esta foi uma das melhores decisões que assumimos”, afirmou Francisco Furtado Mendonça. A PROBEB assinou os primeiros acordos circulares com o Governo em 2018 e, desde então, “foi sempre a andar”. O dirigente lembra que o objetivo é claro: “Queremos que as nossas embalagens não sejam desperdício, mas sim a matéria-prima de novas embalagens”. Ainda assim, reconhece a complexidade do processo: “Estamos a partir do zero em Portugal”, o que representa uminvestimento estimado em €100 milhões. “Mas a meta é ambiciosa: queremos atingir uma taxa de reciclagem na ordem dos 90%”, reforçou.
Para debater esta questão central, a sessão contou - para além de Francisco Furtado Mendonça (diretor-geral da PROBEB) - com Mafalda Mota (chefe de divisão de fluxos específicos e do mercado de resíduos da APA), Ismael Casotti (membro da direção da Zero) e Ana Isabel Trigo Morais (CEO da SPV), numa conversa moderada por Rodrigo Pratas, jornalista da SIC Notícias.
Ana Isabel Trigo Morais, CEO da SPV
Nuno Fox
Ana Isabel Trigo Morais, CEO da SPV
Nuno Fox
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Conheça, abaixo, as principais ideias deixadas pelos intervenientes:
Mafalda Mota, da APA, sublinhou a importância de garantir contaminação zero nas embalagens destinadas a consumo alimentar e lembrou que “há metas para cumprir, incluindo a incorporação de material reciclado”. Acrescentou ainda que “as garrafas de bebidas, por exemplo, têm de ter materiais de maior qualidade”, razão pela qual a separação eficiente é essencial e deve ser mais rigorosa do que a separação seletiva;
Ismael Casotti, da Zero, considerou o sistema SDR “disruptivo” no sentido em que "vamos ter que repensar os nossos hábitos. Se não nos apetecer devolver a embalagem, temos de repensar se queremos adquiri-la”. Lembrou igualmente a necessidade de se continuar a investir na recolha seletiva e de não ficar para trás a realidade de muitas zonas do país, ainda sem ecopontos. “Ainda há muita gente que não recicla e nem quer falar disto, mas vamos ter que falar. Isto vai obrigar-nos a mudar enquanto sociedade”, afirmou. Destacou também que “é essencial que o ecodesign e a substituição de materiais sejam compatíveis com o sistema de recolha”;
Ana Isabel Trigo Morais, da SPV, defendeu mais concorrência no sector e alertou para o desperdício: “Depositamos em aterro €37 milhões em embalagens”. Destacou o valor económico dos resíduos e defendeu uma restruturação urgente na forma como o país lida com os bioresíduos. “Temos que deixar de olhar para os resíduos como lixo: são recursos”. Pôs a tónica no facto de “mais de 70% dos portugueses" separem as suas embalagens, mas que - infelizmente - "não chega”. Acrescentou que “o vidro continua a ser um problema, com 40% a acabar em aterros ou incineração”, quando as três grande vidreiras nacionais até têm capacidade para o transformar;
Francisco Furtado Mendonça concluiu que o SDR é uma ferramenta crucial para cumprir as exigências ambientais europeias. “É um modelo testado e comprovado que pode permitir taxas de reciclagem na ordem dos 90%”, afirmou. Recordou que a PROBEB é membro fundador da Sociedade Ponto Verde e destacou: “Queremos transformar o sector e fazer parte da solução. Estamos entusiasmados, mas conscientes de que o sucesso depende da colaboração de todos os agentes: empresas, consumidores, autarquias e operadores de resíduos”.
A sessão completa pode ser vista no vídeo abaixo.
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As Conversas Improváveis regressam no dia 26 de junho, com o tema Saúde e liberdade de escolha: antagónicas ou complementares?.
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