Os hábitos fazem os homens

Estudo. Parte do retrato sobre as doenças que caracterizam os homens revela o impacto que as rotinas têm na prevenção e combate
Estudo. Parte do retrato sobre as doenças que caracterizam os homens revela o impacto que as rotinas têm na prevenção e combate
Jornalista
Ilustrador
A rotina diz muito sobre uma pessoa e influencia tudo à sua volta. Veja-se como os homens tendem a preocupar-se menos com as doenças no geral, incluindo os diferentes tipos de cancro. Uma das raras exceções são as doenças da próstata, que são, maioritariamente, uma preocupação do género masculino (7,33 contra 5,58 numa escala de zero a dez), de acordo com estudo da GfK Metris para o Expresso sobre “A Saúde do Homem”. E atente noutra: 11% dos inquiridos do género masculino considera que tem um risco acrescido de vir a ter alguma doença por consumo de álcool, percentagem que nas mulheres é de 7%.
“Creio que podemos afirmar com bastante segurança que no nosso país as condições são altamente favoráveis ao contacto com as bebidas alcoólicas”, garante a investigadora do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências, Ludmila Carapinha. Explica a psicóloga que “se quisermos olhar para a população residente em Portugal, em geral (15-74 anos), verificamos que a percentagem de homens que consome é superior à das mulheres (74% para 49% referente ao consumo recente)”. Por outro lado, “o consumo entre as mulheres tem aumentado”.
Falemos de algo transversal: 90% dos inquiridos (de ambos os géneros) afirmam que a saúde dos seus parceiros é algo que os preocupa. A gripe (52%), as doenças do coração (34%) e a depressão, sobretudo junto das mulheres, são as três doenças mais comuns na população, ao passo que 7% admitem ter ou já ter tido cancro. Jaime Melancia, presidente da Plataforma Saúde em Diálogo, reforça que, segundo o INE, “Portugal é o terceiro país da União Europeia onde as pessoas mais se queixam de doenças crónicas” (cerca de 42,3%). Algo que se explica por fatores como “pobreza”, assim como “normas de género e estigmas associados à doença”. Se a isto acrescentarmos o “agravamento da inflação, o aumento do custo de vida e a elevada escassez de recursos humanos de saúde”, poderemos estar perante uma tempestade perfeita.
O sedentarismo (31%) ou o excesso de peso (30%) estão entre os fatores que mais levam as pessoas a preocuparem-se com a saúde dos parceiros, com impacto em doenças como a diabetes. “Tem crescido de forma explosiva. Se perguntasse a um cientista há 30 anos, nenhum adivinhava”, atira José Manuel Boavida, presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal. É responsável por “30% dos internamentos e é a 5ª causa de mortalidade”, o que se explica pela “mudança radical no estilo de vida das populações”, propagação de “produtos alimentares hipercalóricos”, “urbanização” e “envelhecimento das populações”. Por outro lado, o “tipo de obesidade que existe nos homens faz com que estes tenham um terço mais de diabetes”.
Na procura de tratamento há uma maior tendência para recorrer a hospitais públicos do que privados (80% vs. 57%), com os homens a reservarem uma parte menor do orçamento (11%) para a saúde. Segundo o especialista em economia da saúde, Pedro Pita Barros, “Portugal é dos países europeus onde a despesa direta das famílias é maior e, por isso, onde o efeito das despesas em saúde mais se fazem sentir nos orçamentos, sobretudo nos grupos familiares de menor rendimento, em particular, nas despesas com medicamentos”. De acordo com o estudo, 33% dizem que o seu rendimento influencia significativamente a capacidade de aceder a cuidados de saúde, com o professor catedrático da Nova School of Business and Economics a lembrar que “uma maior cobertura financeira em caso de necessidade de recurso a cuidados de saúde implica um maior esforço agregado de canalizar verbas para o Serviço Nacional de Saúde”.
Rotinas de vida
78%
A percentagem de homens que consomem álcool esporadicamente é superior à das mulheres (71%). Já no que toca à prática de exercício físico regular, a média entre ambos é de 49%
Rendimento mensal para a saúde
11%
A percentagem do orçamento reservada para esta área sobe para 18% nas mulheres. 55% das pessoas não têm qualquer seguro de saúde
40%
Percentagem dos inquiridos que têm (ou tiveram) um familiar com diabetes, ao passo que 12% (16% no caso do sexo masculino) sofrem da doença
8,46
Média de quanto as pessoas se preocupam de zero a dez com o cancro, a patologia que mais as inquieta. Segue-se o Alzheimer (7,96)
31%
Pessoas que admitem terem o sono perturbado como resultado da sua doença. 26% garantem preocupar-se com a causa e 21% dizem que afetou a sua autoestima ou o trabalho, por exemplo
49%
Tempo de espera para marcar a consulta é a grande dificuldade identificada pelo estudo na relação dos inquiridos com médicos de família
O QUE É O PROJETO
“A Saúde do Homem” tem por base dois inquéritos: um geral (sobre as doenças que preocupam os portugueses) e outro mais específico (sobre as doenças dos homens). Foram realizadas 800 entrevistas online.
Para debater a saúde dos homens, olhando para todos os parâmetros, o Expresso organiza no próximo dia 26 de junho, quinta-feira, uma conferência com vários experts, no Edifício Impresa, em Paço de Arcos.
Entre finais de maio e final de junho, entrevistamos 20 embaixadores do projeto — médicos, figuras públicas e especialistas em saúde. Publicaremos online 10 vídeos e 10 minientrevistas dos peritos. Acompanhe tudo em www.expresso.pt
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt