O último almoço do projeto Portugal Export +60’30 decorreu em Viana do Castelo e teve como orador principal o presidente da AICEP, Ricardo Arroja
Investimento. Quando o tema é crescer, principalmente para o exterior, a maioria dos empresários tende a falar da inovação e do aumento de produção, mas alguns lembram que o foco deve ser nas pessoas, na sua formação e bem-estar
“Há uns anos, tivemos o caso de um funcionário muito especial, um operário com 20 anos de casa que teve uma situação terrível. Um cancro. E cuidámos dele, levámo-lo à Clínica Mayo, nos EUA. Está na nossa disponibilidade dar.” Na Metaloviana há uma máxima que move tudo o resto: “Os recursos humanos à frente de tudo. Eles emprestam-nos as mãos, os olhos, o esforço físico. Ajudam-nos a atingir a riqueza”, considera o administrador, Duarte Parente.
É por isso que grande parte do dinheiro desta empresa de metalomecânica de Viana do Castelo é aplicado nas pessoas. “Para fazer qualidade é preciso investir em recursos humanos. Investimos forte em formação profissional, na segurança no trabalho, mas também na assistência social. Vamos ao ponto de cuidar da higiene oral dos trabalhadores, para que mantenham a autoestima. Temos cuidado na escolha do fardamento. É seguro, mas sem subestimar a beleza, para que se sintam respeitados”, conta. Porque “quem semeia colhe”, acrescenta. E a qualidade é um fator muito importante numa empresa, mais ainda quando se trabalha para o exterior, que exige maior rapidez na entrega e produtos inovadores.
Daí que, neste último almoço da edição deste ano do projeto Portugal Export +60’30, Mário Jorge Silva, administrador da Tintex, tenha mencionado os dois tipos de investimento que as empresas têm de fazer, e de forma contínua: “No aumento da produção e em inovação.” Mas também em sustentabilidade, acrescenta Duarte Parente. Tem sido assim na Metaloviana, que lhes permitiu ganhar obras em duas construções carbono zero em França ou na linha de alta velocidade entre Birmingham e Manchester, no Reino Unido. E, claro, na Tintex, uma empresa têxtil de Vila Nova de Cerveira que tem investido “em acabamentos de grande nível técnico” e “em processos de otimização das águas usadas no tingimento das malhas”, o que lhes deu clientes como a Hugo Boss, Balenciaga ou Louis Vuitton.
Por isso é que uma das sugestões dos empresários presentes neste almoço foi que o Governo e a banca tenham especial atenção às organizações que implementam inovação. “O investimento no aumento de produção dá logo retorno, mas em inovação só quatro ou cinco anos depois. Neste caso, a banca devia dar dois anos de período de carência ou um prazo de pagamento mais longo. Há muitas empresas que inovam e estão sempre endividadas”, repara Mário Jorge Silva. Até porque, acrescenta, “os subsídios [europeus] vêm sempre muito tarde”. E quando vêm. De acordo com Helena Painhas, administradora do grupo Painhas, existe “uma desadequação do acesso aos apoios europeus”. “Na Europa sou uma empresa pequena, mas em Portugal sou uma grande empresa e não me posso candidatar aos fundos. Devia haver uma revisão do estatuto de PME em Portugal”, defende.
Outra solução para ajudar as empresas portuguesas a crescer, nomeadamente para o exterior, diz Luís Ribeiro, administrador com o pelouro das empresas do Novo Banco, passa por encontrar investidores estrangeiros. De acordo com Ricardo Arroja, presidente da AICEP — Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, a metalomecânica e o têxtil são alguns dos “sectores em alta [neste momento] para captar investimento”. Contudo, “a escala pode ser por parceria, não tem de ser por fusão ou aquisição”, tranquiliza Luís Ribeiro.
Investimento e intenções
420
milhões de euros foi o investimento estrangeiro contratualizado pelo Estado através da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) em 2024
20
mil milhões de euros é o valor de intenções de investimento com que a AICEP está a trabalhar agora, ou seja, o total que pode ser aplicado em empresas portuguesas
FRASES do almoço-debate
“Investir em marketing também é muito importante. Os italianos vendem o que não têm e nós não conseguimos vender o que temos. Se soubermos vender, conseguimos internacionalizar-nos mais”
Mário Jorge Silva
Administrador da Tintex
“Um dos desafios de Portugal é sair da parte mais baixa do mercado”
Luís Ribeiro
Administrador do Novo Banco
“Continua a ser difícil obter financiamento bancário para projetos inovadores ou de expansão internacional. Não existe um banco português forte na Europa”