Projetos Expresso

Doentes respiratórios estão em sufoco

Doentes respiratórios estão em sufoco

Pulmões. Faltam equipamentos de diagnóstico e técnicos para identificar, de forma precoce, doenças que ceifam a qualidade de vida dos portugueses. Médicos são unânimes: melhor articulação entre centros de saúde e hospitais é a chave

Entubados e com uma botija de oxigénio às costas. É este o cenário que regularmente a Associação Respira leva até aos alunos do ensino básico, a partir dos 12 anos, na esperança de mostrar os efeitos prolongados do tabagismo. “Eles veem os doentes com dificuldades e isso causa maior impacto à nossa mensagem”, aponta José Albino. O presidente da coletividade vive com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), maleita que vai ‘roubando’ oxigénio ao longo do tempo. “As novas formas de tabaco são uma verdadeira praga”, sublinhou durante a participação no Fórum Saúde Respiratória 2025.

A sensibilização para os efeitos nocivos do tabaco é apontada como uma das principais armas de prevenção às doenças respiratórias, que representam a terceira causa de morte no país. Aliás, entre os quase um milhão de doentes com DPOC em Portugal 90% são fumadores ou ex-fumadores, avisam os especialistas. “Continua a ser uma doença extraordinariamente desafiante e tem uma prevalência muito elevada”, afirma Jorge Ferreira. O presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), que esteve na conferência para apresentar um white paper sobre a gestão da patologia, lembra que o impacto da doença é particularmente sentido durante o período de inverno, quando existem mais casos de agravamento. “A probabilidade de morte depois de um internamento por exacerbação de DPOC é superior à de um enfarte do miocárdio”, exemplifica.

Faltam armas 
ao exército da saúde

Em todo o mundo, 300 a 400 milhões de pessoas são afetadas pela doença, que, apesar de grave para a saúde respiratória, já não é hoje uma sentença de morte garantida. A vacinação contra a gripe é um dos vários instrumentos de prevenção disponíveis, mas começam também a surgir novos medicamentos que prometem ajudar a controlar a doen­ça, a mitigar as suas consequências e a melhorar a qualidade de vida dos doentes. “Temos a capacidade de encontrar novas respostas terapêuticas que podem ajudar a reduzir o impacto destas doenças”, aponta Carlos Alves, vice-presidente do Infarmed. Para o responsável, a prioridade deve ser encurtar o tempo entre a submissão de uma nova terapêutica à entidade e a sua aprovação e disponibilização aos doentes. “No último ano conseguimos reduzir em quase 40% o tempo de demora”, assegura.

“Deem-nos condições para trabalhar”, pediu o presidente da Associa­ção Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto, inspirado pela icónica frase de Cavaco Silva. Para o médico, não há dúvidas de que é preciso investir seriamente na capacidade de diagnóstico de doen­ças respiratórias em Portugal — e isso implica, sublinha, mais profissio­nais de saúde e mais equipamento disponível. Conceição Gomes, da Fundação Portuguesa do Pulmão, diz que “é preciso acrescentarmos, com muita urgência, a reabilitação respiratória” aos cuidados de saúde primários.

Tendo acesso à terapia, José Albino garante que “as pessoas saem de lá como novas” e com melhor qualidade de vida, mas para que isso seja uma realidade transversal a todos os doentes é crucial criar mais centros de reabilitação. Outra das dificuldades prende-se com o diag­nóstico precoce de várias doenças respiratórias, que se faz através de espirometrias. Problema? O exame está disponível apenas em hospitais e tem uma fraca cobertura nacional.

Cristina Bárbara, coordenadora do Plano Nacional de Doenças Respiratórias, lembra o projeto-piloto desenvolvido pela Direção-Geral da Saúde que mostrou, ao fim de um ano, que era possível “tirar dos hospitais 77% dos doentes” se fosse viável fazer espirometrias nos cuidados de saúde primários. “O projeto acabou em dezembro, mas a ideia é ser escalável para a Europa e ser alargado em Portugal.”

“O grande desafio para a Direção-Executiva do Serviço Nacional de Saúde é devolver a centralidade aos cuidados de saú­de primários”, reconhece o CEO do SNS, Álvaro Almeida, que diz mesmo que esta é “a grande preocupação” da sua equipa. De acordo com o responsável, está a ser criado um conselho consultivo na estrutura, que envolverá associações de doentes e outros interessados, para apoiar a tomada de decisão do organismo que gere o SNS.

FRASES DO EVENTO

“Apenas com um programa nacional não conseguimos alcançar todos os objetivos. Precisamos de uma sinergia entre os diferentes programas”

Rita Sá Machado
Diretora-geral da DGS


“Os cuidados de saúde primária têm de ser o centro do sistema, porque são eles que acompanham as pessoas ao longo da sua vida”

Álvaro Almeida
Diretor executivo do SNS

PROBLEMAS E SOLUÇÕES

ASMA

Problema Inflamação das vias aéreas. Causa tosse
Solução Medicação e cuidado com exposição à poluição. É crónica

PNEUMONIA

Problema Infeção dos pulmões. Febre, tosse e dor
Solução Antibióticos quando bacteriana

DPOC

Problema Danifica pulmões
Solução Reabilitação pulmonar, broncodilatadores e oxigenoterapia

TUBERCULOSE

Problema Infeção bacteriana que afeta os pulmões. Tosse e febre
Solução Antibióticos e tratamento prolongado

CANCRO DO PULMÃO

Problema Destruição do tecido pulmonar e bloqueio das vias aéreas
Solução Cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia

GRIPE

Problema Febre, tosse e mal-estar
Solução Repouso e hidratação. Medicação para sintomas

BRONQUITE AGUDA

Problema Inflamação dos brônquios. Tosse, dor e febre
Solução Hidratação e medicação

RINITE ALÉRGICA

Problema Inflamação da mucosa nasal. Causa espirros e entope nariz
Solução Medicação para aliviar sintomas

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate