“Deem-nos condições para trabalhar”, pedem médicos de família
O pneumologista Filipe Froes (à esquerda) moderou a conversa que contou com Céu Mateus (Universidade de Lancaster), Cristina Bárbara (Programa Nacional Doenças Respiratórias), Maria da Conceição Gomes (Fundação Portuguesa do Pulmão) e Nuno Jacinto (Associação Portuguesa de Medicina Geral)
Matilde Fieschi
Mais articulação entre serviços de saúde, reforço da prevenção e da sensibilização são cruciais para diminuir a incidência de doenças respiratórias na população. Estas foram algumas das conclusões do Fórum Saúde Respiratória, a que o Expresso se associou como media partner
Em Portugal, as doenças respiratórias são a terceira causa de morte e as estimativas apontam para que possam subir ao primeiro lugar até ao final desta década. Por se tratarem de patologias que limitam a qualidade de vida dos doentes e que podem ter impactos severos na morbilidade, médicos e especialistas em saúde pedem mais recursos para esta área. “Respirar não é um privilégio”, apontou Rita Sá Machado, responsável máxima da Direção Geral da Saúde (DGS), durante a abertura do Fórum de Saúde Respiratória 2025.
A diretora-geral, que participou no evento promovido pela Sanofi e que contou com o Expresso como media partner, reconheceu a importância de rever o Programa Nacional de Doenças Respiratórias para o reforçar e incluir, por exemplo, a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), a quinta causa de morte no país. “O nosso programa nacional é vivo e, como outros, precisa de continuar a ser atualizado”, apontou.
Jorge Ferreira (Sociedade Portuguesa de Pneumologia) e José Albino (Associação Respira) apresentaram o white paper sobre DPOC em Portugal
Matilde Fieschi
Rita Sá Machado defende uma maior aposta na articulação entre os diferentes programas nacionais geridos pela DGS, de forma a potenciar os resultados positivos na saúde da população. “Temos outros programas que se ligam e fazem este puzzle dinâmico que vai potenciar este tema”, insiste.
“A primeira palavra-chave é colaboração”, concordou Francisco Rocha Gonçalves, que pede “multidisciplinaridade” e “consensos” em torno da saúde dos portugueses. “Colocar o doente ao centro tem de significar uma efetiva integração do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, acredita o diretor de acesso ao mercado e relações institucionais da Sanofi Portugal.
No evento, foram ainda apresentados os dados do índice da DPOC, pelo Instituto de Copenhaga, que colocam Portugal em 14º lugar entre 34 países analisados. A taxa de mortalidade associada à doença no país é de 4,63%. “O acesso e cobertura [do sistema de saúde] está na média”, apontou Bogi Eliasen. O diretor de saúde do Instituto de Estudo do Futuro de Copenhaga identifica a falta de acesso a exames de espirometria, a falta de conhecimento dos médicos sobre esta questão nos cuidados de saúde primários e desmotivação destas unidades em gerir doentes com DPOC como os principais desafios a superar.
Jorge Ferreira (SPP) moderou a conversa que juntou Rita Sá Machado (DGS), Francisco Sousa Vieira (PSD - Comissão de Saúde na AR), Carlos Alves (Infarmed), João Neiva Machado (SPP), Álvaro Almeida (Direção Executiva do SNS) e Cláudia Vicente (GRESP)
Matilde Fieschi
O Fórum Saúde Respiratória 2025 contou com dois painéis de debate, moderados pelo pneumologista Filipe Froes e Jorge Ferreira (Sociedade Portuguesa de Pneumologia), sobre o estado atual das doenças respiratórias em Portugal e a urgência de uma resposta integrada aos seus desafios. Consulte a lista completa de oradores aqui.
Conheça abaixo as principais conclusões.
Mais proximidade é a chave do sucesso
Entre os participantes, há um consenso: faltam recursos no SNS para fazer face ao número de doentes respiratórios e é preciso um investimento em mais meios de diagnóstico. “No Alentejo Central temos dois pneumologistas que têm de esticar para dar resposta a tudo”, exemplifica Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. “Deem-nos condições para trabalhar”, insiste.
Em simultâneo, o SNS precisa de mais “consultas de cessação tabágica e espirometrias para o diagnóstico de DPOC nos cuidados primários”, identifica a coordenadora do programa nacional de doenças respiratórias, Cristina Bárbara. Um projeto-piloto do programa permitiu perceber que é possível, com o reforço dos cuidados de saúde primários, retirar dos hospitais 77% dos doentes respiratórios.
A proximidade é, para o presidente da Associação Respira, essencial para conseguir reduzir o número de doentes respiratórios, mas sobretudo para conseguir diagnosticá-los precocemente e manter a sua qualidade de vida. “O centro de saúde de Alverca é um bom exemplo porque tem um centro de reabilitação respiratória”, aponta José Albino, que lamenta que esta seja uma exceção à regra no país.
Jorge Ferreira, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), considera que a DPOC é hoje “uma doença evitável e é possível tratá-la com sucesso”, o que permite “transformar a vida das pessoas”. Mas, para isso, é preciso maior investimento público no combate às doenças respiratórias.
Carlos Alves, vice-presidente do Infarmed, diz que é desejável continuar a encurtar o tempo entre a submissão de um novo medicamento e a sua aprovação nacional. “Conseguimos reduzir em quase 40%”, partilhou.
No evento, foi ainda apresentado um white papersobre a DPOC em Portugal, resultado da colaboração entre a SPP e a Respira, que define orientações e sugestões de melhoria na gestão desta doença. “70% da população não sabe o que é esta doença e, não sabendo, não há diagnóstico precoce”, lamenta José Albino.
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