Inovação foi o tema do terceiro almoço do projeto Portugal Export +60’30, que decorreu em Aveiro, na sede da Câmara de Comércio e Indústria daquela região
Inovação. Apostar em investigação e criar produtos únicos é considerado um passo “fulcral” para as empresas exportadoras, mas, na maior parte das vezes, implica fazer parcerias — com outras empresas e com universidades
Em 2018, na tentativa de ajudar um cliente de um amigo a encontrar um fornecedor para um produto específico, Carlos Alves, fundador e administrador da HFA, colocou esse cliente em contacto com duas empresas. À saída da primeira reunião, o tal cliente disse que não ia ser possível trabalhar com aqueles fornecedores, e Carlos Alves perguntou: “Então e não dá para uma parceria?” Mas a resposta foi semelhante: “As outras empresas são minhas concorrentes.”
“Em Portugal não é fácil cooperar. As empresas veem sempre nas outras uma rival”, considera Carlos Alves, para quem é preciso “ser humilde” e “ter capacidade de adaptação” para trabalhar em parceria. Além disso, a colaboração entre empresas não tem de implicar uma fusão ou uma aquisição. “Podem ser participações cruzadas”, repara Jorge Portugal. Aliás, para o diretor-geral da COTEC Portugal — Associação Empresarial para a Inovação, a cooperação “é incontornável”. E não só entre empresas.
No que respeita à inovação, a parceria entre empresas e universidades é essencial, mas também aqui há um défice. De acordo com Carlos Alves, “apenas uma em cada 25 empresas colabora com o sistema científico”, e isso vê-se nas poucas patentes registadas em Portugal, declara Luís Ceia, vice-presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP). Em parte, isto acontece por “receio” de não ser garantida a confidencialidade dos produtos que estão a ser criados, nota Carlos Alves.
“Não é essa a minha experiência”, garante o fundador da HFA, empresa de tecnologia sediada em Águeda que trabalha com universidades nos EUA, Alemanha ou Índia, mas também com a Universidade de Aveiro, o INESC — Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores em Lisboa, o International Iberian Nanotechnology Laboratory (INL), em Braga, ou o Instituto das Telecomunicações. Contudo, Jorge Portugal reconhece que há ainda algum desconhecimento sobre a proteção de patentes. “No ano passado fizemos uma clínica de propriedade industrial, e havia empresas em que os trabalhadores sabiam tudo e se se fossem embora levavam o segredo com eles”, conta.
Exportação de “alto valor”
A HFA é uma das cerca de três mil Pequenas e Médias Empresas (PME) que têm Investigação e Desenvolvimento (I&D) próprio. Parecem muitas, mas estas três mil fazem parte de um universo de 23 mil PME e microempresas que exportam mais de 30% da sua produção, diz Jorge Portugal, para quem este é um número que é preciso aumentar se o objetivo é fazer com que as exportações atinjam os 60% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2030. É que, repara, “não basta ser 60%, têm de ser [exportações de produtos] de alto valor”. Alto valor esse que se consegue com inovação.
Aliás, segundo Jorge Portugal, patentear um produto inovador, que seja único, “custa dinheiro” e, por isso, ele “tem de ter uma rentabilidade acrescida”. Mas que depois compensa, garante, contando que, nas duas mil empresas que analisaram no âmbito do projeto Inovadora COTEC — que distingue as empresas pelo seu investimento em inovação e robustez financeira —, ficou claro que “a inovação ajuda a manter o EBITDA”.
Duarte Bruges concorda. Ele é coCEO da Fajota, uma empresa de componentes para equipamentos de frio, como puxadores e dobradiças, e que exporta 50% da produção. “Temos um foco muito grande na inovação. É fulcral para empresas exportadoras”, diz.
FRASES DO ALMOÇO-DEBATE
“Convém não confundir inovação com invenção. Inovação é o que traz valor às empresas”
Luís Ribeiro
Administrador com o pelouro das Empresas no Novo Banco
“Queremos exportar bens transacionáveis e não talento”
Fernando Castro
Presidente da direção da Câmara de Comércio e Indústria do distrito de Aveiro
“Pagamos acima da média, senão estava lá [na empresa] sozinho. E mesmo assim...”
Messias Cardoso
Sócio-gerente na Repaveiro
“Há uma correlação direta entre o investimento em inovação e a competitividade das empresas e dos países”
Luís Ceia
Vice-presidente da AEP
Exportações e inovação
1
é a percentagem do PIB que é investido em Investigação e Desenvolvimento (I&D) e em Inovação em Portugal. Na Europa é 2%
3000
é o número aproximado de Pequenas e Médias Empresas que exportam mais de 30% da sua produção e investem em inovação própria