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SNS teve “imenso progresso” em 45 anos, mas está na altura de “sofrer transformações”

Graça Freitas fotografada pelo Expresso em janeiro de 2023
Graça Freitas fotografada pelo Expresso em janeiro de 2023
Tiago Miranda

Graça Freitas, que hoje é provedora do utente no IPO Lisboa, fala na importância de aumentar o investimento em prevenção e melhorar o acesso a cuidados de saúde. Esta é a última de dez entrevistas curtas sobre os principais desafios do sector, a propósito da 10ª edição do Programa Gilead Génese, a que o Expresso se associou como media partner

Passaram 45 anos desde que a jovem estudante de medicina, Graça Freitas, terminou o curso que a empurrou para uma área em que viria a desempenhar um relevante papel como responsável pela Direção Geral da Saúde (DGS). Sucedeu a Francisco George em 2018, mas foi há exatamente cinco anos que enfrentou um dos maiores desafios profissionais: a chegada da pandemia de covid-19 a Portugal.

O Expresso associa-se, uma vez mais, como media partner ao Programa Gilead Génese, que celebra a sua 10ª edição de apoio à investigação e a projetos comunitários na área da saúde. Ao longo de dez semanas, entrevistámos dez figuras de relevo ligadas ao sector para elegerem os principais desafios nesta área. Hoje, o ciclo de conversas termina com Graça Freitas, atualmente provedora do utente no IPO Lisboa.

“Houve um imenso progresso”, reconhece quando desafiada a fazer uma retrospetiva sobre os 45 anos de vida do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que acompanhou ao longo da sua vida profissional. Desde logo, na infraestrutura de prestação de cuidados e no acesso. “Lembro-me de um episódio na minha infância, com 8 ou 9 anos, das conversas em casa dos meus avós maternos à volta das poupanças necessárias para quando se ficasse doente ter acesso a cuidados de saúde”, recorda.

“Temos, de facto, capacidade de fazer boa ciência em Portugal. Desde as ciências básicas que temos muito desenvolvidas há muitos anos, até à investigação clínica e translacional”

Se essa parece ser hoje uma realidade longínqua, Graça Freitas assinala, porém, que permanecem desafios para cumprir os princípios basilares do SNS – acesso universal, equitativo e tendencialmente gratuito. “O SNS veio permitir a todas as pessoas, independentemente da sua condição, um acesso a cuidados de saúde de qualidade. E é por isso que temos de lutar”, acrescenta.

Os problemas da saúde continuam em torno da falta de recursos humanos, dos modelos organizacional, de gestão e de financiamento, mas também na prevenção da doença e, sobretudo, na manutenção da qualidade de vida depois dos 65 anos. O avanço na esperança média de vida é, aponta, “uma conquista e um problema ao mesmo tempo” pela carga de doença na terceira idade.

“Haverá questões genéticas que ajudarão à longevidade e alguma resiliência em relação à morbilidade, mas há muitas questões que têm a ver com determinantes ambientais e comportamentais”, diz. Portugal deve, por isso, aumentar a prevenção e olhar para outros países da Europa com melhores indicadores neste campo. “Se outros conseguem, nós também conseguimos”, reforça.

Neste caminho para um futuro mais saudável e com mais qualidade de vida, a ciência, a investigação e a inovação são factores cruciais. “É um grande desafio, mas acho que Portugal tem dado passos muito largos. Veja-se, por exemplo, como progrediu a área da oncologia nas últimas duas décadas e como hoje alguns cancros se tornaram praticamente doenças crónicas”, aponta.

“A saúde é o bem que as pessoas mais valorizam. Continuo hoje, como há 45 anos quando acabei o curso de medicina, a pensar que o acesso universal é possível”, remata.

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