Portugal enfrenta um sério problema de envelhecimento que agrava os desafios já sentidos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), uma tendência que se deverá agudizar à boleia de comorbilidades e doenças crónicas entre idosos. “A nossa população cada vez envelhece mais, isto vai representar mais sobrecarga para os serviços”, constata Fernando Maltez.
O Expresso associa-se, uma vez mais, como media partner ao Programa Gilead Génese, que celebra a sua 10ª edição de apoio à investigação e a projetos comunitários na área da saúde. Ao longo de dez semanas, entrevistamos dez figuras de relevo ligadas ao sector para elegerem os principais desafios nesta área. Hoje, a conversa é com o diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral.
Para Fernando Maltez, a prioridade deve ser garantir que o SNS é capaz de responder, de forma rápida e eficaz, à procura de cuidados de saúde pelos doentes. “Não podemos normalizar este esgotamento a que temos vindo a assistir”, aponta, referindo-se às dificuldades do sistema em manter urgências abertas, serviços de pediatria ou de obstetrícia a funcionar sem interrupções. “Esta é apenas a ponta do iceberg. Isto já se vem a acumular há vários anos, não é um problema de agora”, acrescenta.
“Todos os séculos têm duas, três pandemias. Vamos ter mais pandemias. Vamos ter novos agentes infecciosos a emergirem, a causarem grandes preocupações, stress e pânico público, a causar medo nos políticos, e não nos estamos a preparar para isso”
Assegurar uma resposta eficaz depende, desde logo, de condições básicas para o funcionamento dos serviços: recursos humanos em número adequado, articulação entre instituições e condições técnicas. “Enquanto isto não estiver resolvido, é uma bola de neve. Leva à sobrecarga dos serviços, à desumanização dos cuidados e, naturalmente, à falta de qualidade”, conclui.
Especialista em doenças infecciosas, Fernando Maltez lembra o “susto enormíssimo” causado pela pandemia de covid-19 para dizer que “continuamos a não estar preparados para a emergência de novos agentes infecciosos”. Aprender a “lição” e investir em inovação científica são, acredita, passos essenciais para aumentar a resiliência da saúde e do país em situação pandémica.
Em matéria de VIH, assunto que domina, Maltez reconhece a evolução positiva do país ao longo das últimas décadas, mas mostra-se preocupado por Portugal continuar a ser “um país com maior incidência [de infeção por VIH] comparativamente ao resto da União Europeia (UE)”. “Temos que repensar estratégias preventivas, apostar em mais informação, maior facilidade no acesso aos cuidados de saúde e, sobretudo, maior retenção”, sugere.
Recorde-se que Portugal registou, em 2023, um total de 924 casos de infeção por VIH. Hoje, vivem no país mais de 46 mil pessoas com o vírus.
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