“Conturbado”. É assim que André Albergaria, especialista em oncobiologia, vê o estado da saúde em Portugal, área que “desde há muito padece de manifesta incúria no que toca ao investimento público”. Os obstáculos ao sonho de uma saúde universal, tendencialmente gratuita e inovadora são, sobretudo, três: falta de financiamento, ausência de planeamento e a consequente dificuldade em responder de forma adequada aos doentes.
O Expresso associa-se, uma vez mais, como media partner ao Programa Gilead Génese, que regressa em 2025 para a sua 10ª edição de apoio à investigação e a projetos comunitários na área da saúde. Ao longo das próximas semanas, publicamos dez entrevistas curtas com personalidades de renome sobre o que consideram serem os principais desafios do sector. André Albergaria, que acumula as atividades de investigação com a docência na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e com a função de principal na Biovance Capital, é o oitavo convidado deste ciclo.
O investigador reconhece as dificuldades que atravessa o Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas lembra que o período pandémico foi, para o sistema, muito penalizador. “A verdade é que o teste de resistência decorrente da covid-19 não só adicionou um expectável desgaste no SNS, como veio avivar as suas fragilidades, as quais são ainda visíveis, ou até mais evidentes, decorridos cinco anos”, diagnostica.
“Os investigadores portugueses têm demonstrado uma resiliência notável e um sucesso sem precedentes no que toca ao acesso a financiamento europeu, não só em termos de bolsas científicas de elevado prestigio, mas também no que se refere e ganhar projetos de grande relevo em programas da Comissão Europeia”
Perante este “ponto crítico”, André Albergaria não tem dúvidas: o principal desafio na saúde em Portugal é recuperar a confiança dos cidadãos no SNS. Mas, para isso, será necessário apostar num “esforço acrescido no que se refere à gestão, ao planeamento e ao funcionamento mais eficiente”, a par de uma maior motivação dos seus profissionais. “Portugal tem de deixar de ver a saúde como arma de arremesso político”, defende. O segredo para o sucesso está também, diz, numa melhor articulação entre entidades e serviços de saúde – públicos, privados ou sociais – para “evitar gastos desnecessários” e permitir “a otimização dos recursos existentes”.
Porém, os desafios do sector não se esgotam na prestação de cuidados e na sua qualidade, mas incluem também o “desinvestimento ou estagnação do mesmo” em matéria de investigação científica. André Albergaria insiste que é preciso deixar de olhar as atividades de inovação como “um gasto ou despesa”, mas antes como um “investimento com retornos futuros”.
No que lhe diz respeito, Albergaria tem procurado contribuir com o seu conhecimento e experiência em três áreas – na docência, na investigação em oncobiologia e ainda no apoio, via financiamento, a projetos de biotecnologia. Há €50 milhões de capital levantado junto de investidores para investir “em startups inovadoras que desenvolvam terapias disruptivas nas mais variadas modalidades e áreas terapêuticas”. Em particular, em áreas como a oncologia, a imunologia e as doenças neurológicas e neurodegenerativas.
“Existe efetivamente um grande potencial no ecossistema português, o qual pode e deve ser catalisado e capitalizado sob a forma de novas empresas, novas soluções médicas de alto valor para o mercado, com óbvios impactos no estimulo à inovação e à economia”, remata.
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