A queixa não é gratuita, assegura João Paulo Gomes, que lamenta que o país não aposte mais em investigação científica. “Portugal não aposta na investigação, apesar de, reconhecidamente, ter investigadores e institutos de investigação absolutamente brilhantes”, aponta o coordenador de investigação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
A propósito da cerimónia de entrega de bolsas de investigação e apoio a projetos comunitários da 10ª edição do Programa Gilead Génese, a que o Expresso se voltou a associar como media partner, publicamos dez artigos sobre vencedores das anteriores edições da iniciativa. Desta vez, vamos até ao Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge que, em 2023, conquistou uma bolsa de investigação neste programa.
Esta conquista, encabeçada pela investigadora Elisabeth Pádua, centrava-se na procura por mais conhecimento sobre hepatite delta e os efeitos de uma coinfecção com hepatite “porque parece haver uma sinergia negativa da ação entre os dois vírus para originar uma patologia mais agressiva”. “Isto tem um impacto na aplicação de terapêutica”, atesta João Paulo Gomes, que refere que este trabalho está a ser feito com vários hospitais nacionais.
“As taxas de aprovação do nosso sistema de financiamento da investigação via Fundação para a Ciência e Tecnologia, não passam dos 5%. Significa que em cada 20 projetos, 19 são chumbados. Não me venham dizer que isto é por falta de qualidade, ninguém acredita nisso”
O apoio alcançado através do Programa Gilead Génese foi, explica, de “enorme importância” porque permitiu financiar este projeto com perguntas muito concretas, ao contrário do que acontece, por norma, nos financiamentos atribuídos pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que são “projetos mais globais”. “Este tipo de financiamento preenche uma lacuna importante, porque muitas vezes é a única forma de conseguirmos responder a questões científicas e resolver problemas no âmbito da saúde”, esclarece o coordenador.
Além de doenças infecciosas, o INSA dedica o seu esforço à investigação aplicada em várias áreas, incluindo genética humana, epidemiologia (particularmente dinâmica no período da pandemia de covid-19) ou alimentação e nutrição.
Embora Portugal tenha “investigadores e institutos de investigação absolutamente brilhantes”, com qualidade reconhecida além-fronteiras, João Paulo Gomes acredita que “a investigação no país está em crise, uma crise profunda, há vários anos”. Em causa está a falta de financiamento e de estabilidade, mas também a baixa taxa de aprovação de projetos submetidos à FCT – apenas 5% das candidaturas são aceites. “Significa que, em cada 20 projetos, 19 são chumbados”, critica.
“Para entrarmos num bom caminho tem de haver, obviamente, uma aposta muito mais séria na investigação científica. Estes apoios que as empresas privadas dão constituem, muitas vezes, uma tábua de salvação para os investigadores”, conclui.
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