Mistérios da doença de Alzheimer valem €100 mil a investigador português
Tiago Gil Oliveira (Universidade do Minho) recebeu o diploma das mãos do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e de Luís Portela (Fundação Bial)
Matilde Fieschi
Tiago Gil Oliveira (Universidade do Minho) recebeu o diploma das mãos do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e de Luís Portela (Fundação Bial)
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Tiago Gil Oliveira, da Universidade do Minho, é o vencedor do Prémio Bial de Medicina Clínica, de que o Expresso é media partner. O anúncio foi feito esta manhã na Aula Magna da Universidade de Lisboa, onde foram conhecidas ainda duas menções honrosas no valor de €10 mil cada
Com sala cheia, a Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa recebeu, na manhã desta quarta-feira, a cerimónia do Prémio Bial de Medicina Clínica 2024, que distinguiu três trabalhos científicos de investigadores portugueses. Tiago Gil Oliveira, professor associado na Escola de Medicina da Universidade do Minho, é o grande vencedor com um projeto sobre as regiões do cérebro mais afetadas pela doença de Alzheimer.
“É uma vida [dedicada à investigação e prática clínica] que não é fácil. Podemos aproveitar este momento para refletir como é que podemos criar uma carreira que seja benéfica e motivadora para que mais médicos investigadores possam seguir este percurso”, sugeriu o também neurorradiologista no Hospital de Braga que venceu um prémio no valor de €100 mil.
Esta investigação, “Desvendando os mistérios da suscetibilidade regional do cérebro à neurodegeneração na doença de Alzheimer: da neuropatologia à ressonância magnética cerebral”, revelou que algumas regiões do cérebro são afetadas de forma diferente pelas várias proteínas tóxicas responsáveis pela doença de Alzheimer. Depois de perceber de que maneira estas proteínas comprometem o funcionamento do órgão, é possível mapear a composição dessas regiões e abrir caminho para um diagnóstico precoce e melhores tratamentos. “Estamos interessados em continuar o nosso trabalho”, assegurou Tiago Gil Oliveira.
A edição do Prémio Bial de Medicina Clínica deste ano celebra também os 40 anos desde a fundação deste galardão, motivo que levou o professor Manuel Sobrinho Simões a fazer uma reflexão sobre o passado, o presente e o futuro da saúde. “Estes 40 anos correspondem ao período do Serviço Nacional de Saúde”, lembrou, acrescentando que há hoje desafios no sector que continuam por resolver. “Pessoalmente, acho que esta solução das unidades locais de saúde (ULS) parece uma solução possível. Gostava que fizéssemos os possíveis para que estas ULS sobrevivessem com qualidade”, afiançou.
No entanto, reconhece ser “difícil”, mas insiste que não encontra “forma de salvar o SNS sem ser à custa de um modelo deste tipo”. Para o futuro, pede ainda mais foco no ensino das “profissões da saúde”, maior articulação entre ULS e hospitais académicos, bem como tempo protegido para quem, além da atividade clínica, faz ensino.
Marcelo Rebelo de Sousa, que marcou presença na cerimónia, disse ter ficado “muito impressionado” com a qualidade dos trabalhos distinguidos, mas também com a humildade dos vencedores. “O que impressiona é a característica nacional deste prémio, a origem dos premiados que vêm de várias universidades e centros de pesquisa”, acrescentou o presidente da República.
No evento, foram ainda atribuídas duas menções honrosas que mereceram um prémio de €10 mil cada: “Centro de Rastreio e Exame Ocular com Recursos de Inteligência Artificial” e “Degenerescência Macular da Idade - A Primeira Causa de Cegueira Irreversível em Portugal”.
“Tenho o gosto de anunciar que convidámos para presidir à edição de 2026 deste prémio o professor Jaime Branco, que nos deu a honra de aceitar”, confirmou Luís Portela, presidente da Fundação Bial.
No final da cerimónia, os representantes dos três trabalhos distinguidos com Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Povo (Secretária de Estado da Saúde) e Luís Portela (Fundação Bial)
Matilde Fieschi
Conheça abaixo os dois projetos distinguidos com menções honrosas nesta edição do Prémio Bial de Medicina Clínica.
Menção honrosa | Luís Abegão Pinto, Joana Tavares Ferreira e Quirina Tavares Ferreira (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e ULS Santa Maria)
“Centro de Rastreio e Exame Ocular com Recursos de Inteligência Artificial”
Este trabalho propõe um modelo inovador de rastreio de doenças oculares, como o glaucoma e a retinopatia diabética, utilizando Inteligência Artificial (IA). Através de uma simples fotografia, o sistema é capaz de identificar sinais precoces de doenças oculares, permitindo encaminhar os doentes para tratamento especializado de forma rápida e eficaz.
O projeto – Screening & Eye Examination Centre using AI resources (SEER) – que será implementado num centro piloto no Hospital Pulido Valente, demonstrou uma taxa de eficácia de 90% na deteção de doenças oculares, com um elevado potencial de custo-benefício. Ao permitir diagnósticos precoces e tratamentos mais eficazes, o SEER pretende contribuir para melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas e reduzir a pressão sobre os serviços de saúde.
Menção honrosa | José Paulo Andrade e Ângela Carneiro (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e ULS São João)
“Degenerescência Macular da Idade - A Primeira Causa de Cegueira Irreversível em Portugal”
A investigação destaca o impacto da degenerescência macular da idade (DMI) na população portuguesa, afetando aproximadamente 400 mil pessoas com mais de 55 anos. O trabalho conclui que manter uma alimentação saudável, como comer frutas, vegetais e peixe, bem como fazer exercício físico, pode ajudar a proteger os olhos. Além disso, o estudo aponta hábitos a evitar e a necessidade de intervenção precoce através de rastreios regulares. Assim, o estudo propõe ainda um modelo integrado de colaboração entre cuidados de saúde primários e oftalmologistas para acelerar o diagnóstico e tratamento da DMI. Ao promover hábitos de vida saudáveis e estratégias de deteção precoce, este trabalho pode reduzir significativamente o número de casos de cegueira irreversível causada pela DMI.
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