No encontro estiveram presentes os CEO da CGD, Paulo Macedo, do BCP, Miguel Maya, e do BPI, João Pedro Oliveira e Costa
Nuno Fox
A Century 21 organizou, esta manhã, uma conferência a que o Expresso se associou como media partner e que teve como ponto de partida um estudo sobre habitação jovem
O problema não é de habitação, mas sim de acesso à habitação”. A frase foi ouvida, pelo menos, três vezes na conferência que a Century 21 organizou esta manhã no Casino de Lisboa para debater o estudo “Habitação para jovens em Portugal: desafios e tendências atuais”, também desenvolvido por esta mediadora.
O tema acabou, contudo, por ser apenas o mote para discutir o problema de acesso à habitação que existe em Portugal: a falta de oferta, os preços elevados das casas, os salários baixos, a cidade de 15 minutos e a importância da mobilidade. Para isso, estiveram presentes Patrícia Gonçalves Costa, secretária de Estado da Habitação; Ricardo Sousa, CEO da Century 21; Carlos Moreno, urbanista; Pedro Siza Vieira, ex-ministro da Economia; Pedro Marques Lopes, comentador SIC Notícias; João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI; Miguel Maya, CEO do Millenium BCP; Paulo Moita de Macedo, CEO da Caixa Geral de Depósitos e, a encerrar, Paulo Portas, ex-ministro de Estado. Estas são as principais conclusões.
Os apoios do Governo
“O que se fez é positivo. Levaram a que os jovens tivesse um aumento de procura muito expressivo”, diz Miguel Maya referindo-se à isenção de IMT e de Imposto Selo na compra de casa e à garantia pública no crédito à habitação para jovens até aos 35 anos.
Os jovens é que parece discordar. De acordo com o estudo da Century 21 que foi apresentado esta manhã, 68,5% dos 808 inquiridos considera as medidas “insuficientes”, e dos cerca de 24% que dizem que são suficientes, a maioria entende que “demoram muito a ser efetivas”.
João Pedro Oliveira e Costa também vê o tema de forma diferente: “Estas medidas são paliativos que só abrangem uma pequena fatia de jovens”. Além disso, vê-se muitos que “hipotecam quase todo o rendimento” para comprar uma casa de 200 mil euros, que é a média de preço dos imóveis disponíveis no mercado e um mercado que é cada vez mais alargado e distante do centro de Lisboa ou do Porto.
Paulo Portas até comentou que Vila Nova de Gaia já destronou o Porto como cidade principal a norte e que a linha de Sintra irá fazer o mesmo em relação a Lisboa.
De facto, “eles esgotam as poupanças na compra de casa”, diz Ricardo Sousa, referindo-se a uma das conclusões do estudo sobre habitação jovem. Isto porque apenas 1% das casas à venda nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto custam menos de 125 mil euros. A maioria custa mais de 300 mil euros.
Há contudo sinais positivos. Paul Macedo diz que nota-se “um aumento do rendimento disponível dos jovens, que têm melhores capacidades de endividamento e que o emprego e tem mantido”.
E as descidas das taxas de juro fizeram as taxas de esforço recuar até aos 36% e ainda deverão cair até aos 30%, diz Paulo Macedo, o que “é importante para financiar os jovens" que, por norma, têm menos capacidade para taxas de esforço elevadas.
“As taxas de esforço estarem a descer permite dar respostas a quem tem rendimentos mais baixos”, acrescenta Miguel Maya.
A cidade 15 minutos
Com ou sem apoios do Governo e com ou sem taxas de juro e de esforço mais baixas, o problema da habitação em Portugal é estrutural e carece de outras medidas, “como incentivos à natalidade, apoios específicos para quem tem baixos rendimentos, ou investimento em mobilidade”, diz Ricardo Sousa.
A mobilidade é, de facto, crucial para resolver o acesso à habitação. O conceito de cidade 15 minutos, ou seja, ter tudo o que é essencial a 15 minutos ou menos de distância sem ser preciso usar carro, está muito ligado à importância de se ter uma boa rede de transportes que permita morar mais longe do centro, onde há mais oferta de casas a preços mais acessíveis, mas com a certeza de que, rapidamente, se consegue chegar ao local de trabalho ou à escola das crianças.
“A questão é a aproximação da nossa qualidade de vida, é reduzir o tempo das deslocações diárias”, diz Carlos Moreno.
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