A importância do trabalho qualificado no crescimento das exportações foi o tema em debate no almoço que decorreu na NERLEI, em Leiria
Produtividade. Maior flexibilidade nos horários dos trabalhadores é uma das alterações que continuam a ser pedidas, porque a lei “é muito rígida face ao mundo atual”. Governo diz para lhe enviarem “propostas concretas”
Quando o tema são as exportações, os empresários concordam todos numa coisa: para aumentar as vendas para o exterior é essencial ter um produto inovador, de valor acrescentado. Mas concordam também que não é fácil consegui-lo. Porque não basta ter uma máquina nova ou uma fábrica digitalizada. Também é preciso ter trabalhadores qualificados, e há muitos por aí. “No ensino superior temos uma sobrequalificação”, diz o secretário de Estado do Trabalho, Adriano Moreira, lembrando que, apesar disso, Portugal tem “140 mil jovens que não trabalham nem estudam. É um dos problemas mais graves que encontrei na Secretaria de Estado: o desemprego jovem”.
O problema é que, num país de pequenas e médias empresas, nem sempre há dinheiro que chegue para aumentar os salários. Leiria, escolhida para receber o segundo almoço desta edição do Portugal Export +60’30, é um exemplo disso. De acordo com Henrique Carvalho, diretor executivo da NERLEI — Associação Empresarial da Região de Leiria, esta zona do país é “fortemente exportadora” e até “paga um bocadinho acima da média nacional às qualificações mais baixas”, mas exporta pouco “[produto] de valor acrescentado” e paga abaixo da média nacional a quem tem mais qualificações — “menos 18% às pessoas com bacharelato e menos 20% às pessoas com licenciatura e mestrado”.
O salário não é, contudo, o único entrave à contratação de talentos. “Os jovens tiram a licenciatura, mas desconhecem a realidade das empresas e do mundo do trabalho. Deviam fazer visitas às empresas logo a partir do 12º ano, mais ainda nesta região, onde temos tantos sectores diferentes, como os moldes, os vidros, a cerâmica, os plásticos”, comenta Manuel Novo, presidente da Erofio, uma empresa de moldes. Além disso, é também preciso mexer na legislação laboral. “Concordo com os valores da lei, a segurança e o rendimento, mas é muito rígida face ao mundo atual”, diz Pedro Custódio, CEO da Manulena, uma empresa que fabrica velas.
Já na edição anterior do Portugal Export +60’30, um dos principais pedidos das empresas ao Governo foi, precisamente, para que tornasse a lei mais flexível, por exemplo, nos horários de trabalho. Porque, diz Manuel Novo, “não é preciso estarem muito tempo na empresa, é preciso é estarem lá a trabalhar”. Esta semana, no almoço em Leiria, o secretário de Estado do Trabalho deu nota de que leu esses pedidos, mas deixou um recado: “Ajudem o Governo a concretizar essa vontade. Façam chegar uma proposta concreta do que querem mudar”, diz, explicando que precisa de perceber melhor se o objetivo é mexer “nos turnos, nos tempos de descanso, nas férias”. Até menciona a semana de quatro dias e o teletrabalho: “Não precisam do Estado para vos dizer quantos dias devem ou não trabalhar.”
Mas há mais a alterar na legislação laboral, diz Pedro Custódio. “Se tivermos um mau trabalhador, a lei não deixa despedi-lo. Temos de entrar com um processo disciplinar e ir para tribunal. É um procedimento dispendioso que nem sempre dá frutos”, repara. “E são precisas testemunhas... E depois é como nos filmes: nunca ninguém viu nada”, observa Manuel Novo. Ora, “tudo isto pesa na produtividade”, diz Pedro Custódio. E “a baixa produtividade é o grande problema do país e até da Europa”, acrescenta Manuel Novo.
SALÁRIOS E DESEMPREGO
€1251
é o salário médio na região de Leiria, o que se compara com os €1352 do salário médio nacional, segundo dados do INE citados pela NERLEI
140
mil é o número de jovens que não estudam nem trabalham em Portugal, segundo dados recentes do INE citados pelo Governo
FRASES DO ALMOÇO-DEBATE
“Tornámos o humano num elemento da economia. Talvez seja preciso fazer uma inovação na semântica”
Luís Febra
Presidente da NERLEI
“É preciso olhar para o catálogo das formações existentes por cada região e ver se se adequam ao tecido empresarial”
Adriano Moreira
Secretário de Estado do Trabalho
“Um país com o nível de investimento e de produção que nós temos tem de se apoiar noutros mercados”