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“Fizemos grandes progressos no VIH associados à inovação terapêutica”

Luís Mendão, diretor de advocacia, políticas de saúde e relações externas do GAT, vive com VIH há quase três décadas
Luís Mendão, diretor de advocacia, políticas de saúde e relações externas do GAT, vive com VIH há quase três décadas

Luís Mendão foi diagnosticado com VIH em 1996, mas os avanços da indústria farmacêutica permitiram que, quase 30 anos depois, continue de boa saúde. Esta é a quinta de dez entrevistas curtas com personalidades de renome ligadas à saúde sobre os principais desafios do sector, a propósito da 10ª edição do Programa Gilead Génese, a que o Expresso se associa como media partner

“Não teria sobrevivido sem acesso à inovação”, começa por dizer Luís Mendão, em referência ao diagnóstico de infeção por VIH que recebeu em 1996. Pela mesma altura, surgiu “o tratamento triplo”, uma terapêutica que permitia controlar o vírus e manter qualidade de vida aos doentes. Como ativista, Mendão representou, durante quase duas décadas, o GAT – Grupo de Ativistas em Tratamentos, organização a que continua ligado.

O Expresso associa-se, uma vez mais, como media partner ao Programa Gilead Génese, que regressa em 2025 para a sua 10ª edição de apoio à investigação e a projetos comunitários na área da saúde. Ao longo das próximas semanas, publicamos dez entrevistas curtas com personalidades de renome sobre o que consideram serem os principais desafios do sector.

Para Luís Mendão, o grande desafio da saúde é garantir o controlo da epidemia de VIH no país. “Não é do conhecimento comum, mas Portugal é um dos países com uma das maiores epidemias de VIH”, afirma, lembrando a importância de eliminar as cadeias de contágio em populações consideradas particularmente vulneráveis. Porém, para que isso seja possível há que eleger o combate à infeção como “prioridade nacional” e apoiar o papel das “organizações não-governamentais ou IPSS na área da saúde”.

“Somos o país da Europa que trata mais pessoas com VIH por 100 mil habitantes. A nossa despesa - ou o investimento, como quiserem chamar - com o tratamento do VIH é muito superior dentro da despesa de saúde”

É ainda fundamental que o Estado procure “contratualizar objetivos com as organizações, incluindo uma estratégia baseada no conhecimento e na epidemiologia, que permita monitorizar se o investimento está a ter o retorno pretendido ou não”, sugere o especialista.

Para lá das questões de saúde, Luís Mendão lamenta que continue a existir “discriminação [de pessoas com VIH] dentro dos serviços de saúde”. “Isto é muito importante, porque a perceção das pessoas é determinante para a adesão aos tratamentos”, insiste.

Neste sentido, o ativista vê com preocupação a intenção do Governo em limitar o acesso dos imigrantes não regularizados aos serviços de saúde e considera que “é um mau sinal”, que pode mesmo prejudicar questões de saúde pública como a infeção por VIH, as hepatites virais ou outras infeções sexualmente transmissíveis.

Embora reconheça que “fizemos grandes progressos no VIH associados à inovação terapêutica”, Mendão lembra que continua a ser necessário reforçar o investimento em instrumentos de prevenção como a profilaxia pré-exposição (PrEp) para que o país consiga eliminar o VIH como problema de saúde pública em Portugal. “Podemos fazer melhor”, assegura.

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