“Não teria sobrevivido sem acesso à inovação”, começa por dizer Luís Mendão, em referência ao diagnóstico de infeção por VIH que recebeu em 1996. Pela mesma altura, surgiu “o tratamento triplo”, uma terapêutica que permitia controlar o vírus e manter qualidade de vida aos doentes. Como ativista, Mendão representou, durante quase duas décadas, o GAT – Grupo de Ativistas em Tratamentos, organização a que continua ligado.
O Expresso associa-se, uma vez mais, como media partner ao Programa Gilead Génese, que regressa em 2025 para a sua 10ª edição de apoio à investigação e a projetos comunitários na área da saúde. Ao longo das próximas semanas, publicamos dez entrevistas curtas com personalidades de renome sobre o que consideram serem os principais desafios do sector.
Para Luís Mendão, o grande desafio da saúde é garantir o controlo da epidemia de VIH no país. “Não é do conhecimento comum, mas Portugal é um dos países com uma das maiores epidemias de VIH”, afirma, lembrando a importância de eliminar as cadeias de contágio em populações consideradas particularmente vulneráveis. Porém, para que isso seja possível há que eleger o combate à infeção como “prioridade nacional” e apoiar o papel das “organizações não-governamentais ou IPSS na área da saúde”.
“Somos o país da Europa que trata mais pessoas com VIH por 100 mil habitantes. A nossa despesa - ou o investimento, como quiserem chamar - com o tratamento do VIH é muito superior dentro da despesa de saúde”
É ainda fundamental que o Estado procure “contratualizar objetivos com as organizações, incluindo uma estratégia baseada no conhecimento e na epidemiologia, que permita monitorizar se o investimento está a ter o retorno pretendido ou não”, sugere o especialista.
Para lá das questões de saúde, Luís Mendão lamenta que continue a existir “discriminação [de pessoas com VIH] dentro dos serviços de saúde”. “Isto é muito importante, porque a perceção das pessoas é determinante para a adesão aos tratamentos”, insiste.
Neste sentido, o ativista vê com preocupação a intenção do Governo em limitar o acesso dos imigrantes não regularizados aos serviços de saúde e considera que “é um mau sinal”, que pode mesmo prejudicar questões de saúde pública como a infeção por VIH, as hepatites virais ou outras infeções sexualmente transmissíveis.
Embora reconheça que “fizemos grandes progressos no VIH associados à inovação terapêutica”, Mendão lembra que continua a ser necessário reforçar o investimento em instrumentos de prevenção como a profilaxia pré-exposição (PrEp) para que o país consiga eliminar o VIH como problema de saúde pública em Portugal. “Podemos fazer melhor”, assegura.
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