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Falta "consenso" sobre a política científica nacional a longo prazo

O também professor catedrático pede mais estabilidade nas políticas ligadas à ciência
O também professor catedrático pede mais estabilidade nas políticas ligadas à ciência
TOMAS ALMEIDA

Claudio Sunkel, diretor do i3S da Universidade do Porto, lamenta que o país tenha “desinvestido” na ciência nos últimos 15 anos e, com isso, perdido competitividade. Ao longo das próximas semanas, publicamos dez artigos sobre vencedores das edições anteriores do Programa Gilead Génese, a que o Expresso se associa como media partner

Sem financiamento, o i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde não teria como cumprir aquele que é, assegura o seu diretor, o seu principal propósito: garantir a transferência de tecnologia e valorização do conhecimento. “O i3S é o resultado de uma ideia pioneira em Portugal: juntar três instituições de excelência para reunir esforços, criar massa crítica e potenciar os recursos científicos e tecnológicos que já possuíam”, resume Claudio Sunkel.

A propósito da cerimónia de entrega de bolsas de investigação e apoio a projetos comunitários da 10ª edição do Programa Gilead Génese, a que o Expresso se volta a associar como media partner, publicamos dez artigos sobre vencedores das anteriores edições da iniciativa. Nesta terceira viagem ao passado, revisitamos o i3S e algumas das seis investigações científicas que desenvolveu com apoio deste programa.

Uma década depois do nascimento, o diretor da instituição e também professor catedrático na Universidade do Porto não tem dúvidas: o projeto “foi e é um sucesso”. O sonho era conseguir reunir, num só espaço, especialistas em ciência fundamental, investigação clínica e engenharia biomédica, de forma a potenciar novas perguntas e, sobretudo, “respostas disruptivas”.

“É fundamental que as políticas implementadas na área da ciência sejam mantidas durante algum tempo e sem grandes alterações, já que mudanças contínuas de políticas não são compatíveis com o desenvolvimento científico a longo prazo”

O caminho para alcançar essas respostas é sempre longo, marcado por avanços e recuos, e exigente do ponto de vista dos recursos, quer financeiros, quer humanos. Apoios à investigação como aqueles conquistados pelo i3S no Programa Gilead Génese são, muitas vezes, essenciais garantir a transferência de tecnologia e de conhecimento. “Estes financiamentos têm permitido iniciar a transferência de conhecimento fundamental para projetos de aplicação real ao serviço da saúde”, explica Claudio Sunkel, que dá como exemplos “o desenvolvimento de novos dispositivos intrauterinos para a prevenção da gravidez, até estudos genéticos sobre o SARS-CoV2, ou mesmo novos mecanismos de diagnóstico de cancro da mama”.

Para que mais projetos como estes possam surgir e levar inovação aos doentes, o diretor do i3S considera que é preciso endereçar desafios básicos: a falta de financiamento e a ausência de rumo. “Nos últimos 15 anos, Portugal tem vindo a desinvestir no seu tecido científico de forma constante e, como consequência disso, os grupos de investigação têm vindo a perder competitividade a nível internacional”, lamenta.

“É urgente que os diferentes atores políticos cheguem a um consenso sobre o que pretendem para a política científica nos próximos 20 anos”, pede o especialista. Nessa visão de futuro não pode faltar “financiamento plurianual de montantes significativos”, mas também estabilidade nas políticas. “É preciso que o país perceba que é essencial manter o investimento contínuo em instituições como o i3S”, conclui.

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