“O papel do sector social nas comunidades” será o primeiro tema de conversa no encontro em que será discutido “O papel e o futuro do sector social”, que decorrerá quarta-feira, da parte da tarde, no Palco Impresa, e no painel, entre os oradores, estará Pedro Mota Soares, antigo ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social – Maria do Rosário Palma Ramalho, que tem atualmente essa pasta, entrará em ação mais da tarde, protagonizando o momento “À conversa com...”.
“Ao contrário do Estado, as instituições de economia social, podem chamar-se IPSS, misericórdias, mutualidade, caixas económicas ou cooperativas, proveem da base, das pessoas, são associações de pessoas que se juntam para poder ajudar a resolver os problemas das comunidades”, explica, defendendo que hoje em dia, sem economia social, “as comunidades em Portugal, muito especialmente no interior do país, estariam a viver com muito maior dificuldade”. E prossegue: “A economia social tem esse enorme potencial, acredita e investe em Portugal”.
Pedro Mota Soares dá um exemplo: “Se olharmos para o interior do país, hoje, sem economia social, que muitas vezes é o primeiro ou segundo maior empregador, praticamente não existiria. Quando olhamos hoje para o interior do país tenho a noção que muitas vezes, mesmo antes do próprio poder público, o maior empregador é uma IPSS, misericórdia ou mutualidade, que existem, acima de tudo, para poder dar respostas aos problemas das pessoas”.
O antigo governante apelida mesmo a economia social como “um dos laços que une as nossas comunidades, o cimento de muito do que nós temos nas nossas comunidades". “Portugal tem, face a outras geografias, a enorme vantagem de poder ter uma economia social forte e pujante, que responde aos problemas das pessoas, muitas vezes antes do Estado e para além do próprio Estado. Tenho a certeza de que, sem a dimensão da economia social, a vida dos portugueses em comunidade seria muito pior e muito mais difícil”, acrescenta.
são aproximadamente, de acordo com Pedro Mota Soares, os postos de trabalho no sector social. “Muitas vezes representam uma segunda oportunidade para quem perdeu a primeira”, diz o antigo governante
A economia social tem, por isso, um papel “fundamental e insubstituível”. “Não quero com isto desresponsabilizar o Estado, que tem um papel muito importante como financiador ou fiscalizador, não quero retirar a sua importância, mas sei que um euro investido chega muito mais rapidamente, e com mais efeitos e capacidade de multiplicação, às pessoas e comunidades, quando é feito através da economia social, do que quando é feito através do Estado ao nível central”, afirma. E conclui: “O meu ponto não é desresponsabilizar o Estado, mas sim, acima de tudo, elogiar o papel fundamental e insubstituível da economia social, que é prévia ao próprio Estado social como nós o conhecemos hoje. As instituições existiam antes do próprio Estado social e representam a dimensão social do Estado”.
Envelhecer com mais qualidade
“O papel do terceiro sector na proteção social e longevidade” será outro dos assuntos em cima da mesa e neste painel, entre os oradores, estará Maria de Belém Roseira, antiga ministra da Saúde. “Uma coisa é a ação estruturada do Estado, com base numa evolução que foi construindo para concretizar princípios e valores que ficaram considerados através do reconhecimento dos direitos humanos, e o terceiro sector pode não só ser um aliado do Estado para garantir esses mesmos direitos humanos, como, pela especificidade da sua natureza, pode adaptar-se com muito mais velocidade que o Estado a circunstâncias que mudam repentinamente”, diz a antiga governante.
Maria de Belém Roseira afirma que “na evolução dos indicadores de saúde, estamos cada vez mais próximos dos países desenvolvidos”, mas reconhece que, “se formos comparar a qualidade de vida, ou os anos de vida com saúde depois dos 65 anos, percebemos que temos tido condições de vida muito difíceis”.
No seu entender, “as instituições do sector social que têm interesse público reconhecido são, à partida, as que melhor se podem ajustar na ajuda e articulação com o Estado para resolver problemas não resolvidos”. “Cada vez vemos que há mais necessidades, com estas alterações a nível demográfico, de encontrar formas mais próximas das pessoas, mais personalizadas, mas também de chegar ao coração das dificuldades”, conclui.
“Na evolução dos indicadores de saúde, estamos cada vez mais próximos dos países desenvolvidos, mas se formos comparar a qualidade de vida, ou os anos de vida com saúde depois dos 65 anos, percebemos que temos tido condições de vida muito difíceis”, diz Maria de Belém Roseira
Virgílio Boavista Lima, presidente do Montepio Associação Mutualista, por seu turno, afirma que “o Estado social, que procura garantir a educação, a segurança, a saúde e a previdência social de forma universal, foi um avanço civilizacional extraordinário, mas está confrontado com ameaças à sua sustentabilidade financeira, pois é muito difícil dar tudo a todos”. “Já a economia social, partindo dos cidadãos, vai, certamente, desenvolver-se como caminho auxiliar complementar, de fundamental relevância no apoio à ação pública, ao serviço do Estado social”, acrescenta.
Este evento pretende, por isso, “colocar em discussão o futuro do Estado social no quadro dos novos riscos que têm vindo a surgir, ligados à sua sustentabilidade financeira, ao impacto do aumento da longevidade, às transições tecnológicas e ao papel que a cidadania e a economia social podem ter neste contexto”.
Este encontro visa debater o papel e o futuro do sector social em Portugal. É preciso preparar o país para novos desafios.
Quando, onde e a que horas?
Quarta-feira, 15 de janeiro, no Palco Impresa, às 14h30.
- Virgílio Boavista Lima, presidente do Montepio Associação Mutualista
- António Brito Guterres, assistente social e investigador de Estudos Urbanos
- Pedro Mota Soares, antigo ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
- Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas
- Nuno Marques, cardiologista e coordenador do Plano Envelhecimento Ativo e Saudável
- Maria de Belém Roseira, antiga ministra da Saúde
- João Duque, professor catedrático de Finanças, ISEG-Ulisboa
- Vítor Melícias Lopes, padre franciscano
- José Eduardo Franco, investigador-coordenador na Universidade Aberta
- Maria do Rosário Palma Ramalho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
- Francisco Pedro Balsemão, CEO Grupo Impresa
Porque é que este tema é central?
Este sector tem sido fundamental para a coesão social, especialmente durante períodos de crise.
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