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Não é possível escrever transição sem pessoas

Futuro. Com o aproximar das metas climáticas, consumidores querem desempenhar um papel ativo nas decisões energéticas

Não é possível escrever transição sem pessoas

Tiago Oliveira

Jornalista

Não é possível escrever transição sem pessoas

Nuno Fox

Fotojornalista

Colocar as pessoas no centro da transição energética é o novo mantra transversal do sector energético. Portugal não é alheio a estas dinâmicas e, segundo um estudo da Accenture que junta oito países europeus, é quem mais valoriza o papel das pessoas na transição energética e o único que as coloca acima das empresas. “São as pessoas que geram a economia e os fluxos de bem”, reforça Hugo Espírito Santo, secretário de Estado das Infraestruturas. Por isso se fala cada vez mais de comunidades inteligentes, cooperativas e autónomas, quer no consumo, quer na produção energética, com recurso às novas tecnologias.

Veja-se o “controlo em tempo de real de baterias que estão em casa das pessoas”, descreve Luísa Matos, CEO da Cleanwatts, com “benefícios não só para os membros da comunidade mas também para as próprias redes” municipais ao “evitar problemas de congestionamento” no fornecimento, por exemplo. “Eventualmente daqui a um ano estaremos a falar de ‘prossumidores’”, assume o head of customer success da Galp, Nuno Costa, com José Ferrari Careto, CEO da E-Redes, a defender que “é muito importante que as autarquias se pronunciam no decorrer destes processos”, como é o caso dos contadores inteligentes.

38% dos consumidores portugueses dão maior importância à poupança na fatura energética do que a média da amostra europeia e para o vice-presidente da Accenture Portugal, Nuno Pignatelli, “há uma relação muito mais fragmentada entre os consumidores e as empresas de energia” com contributo da digitalização, mas que não deve escamotear a realidade alargada de Portugal, onde “a preferência pelo balcão de atendimento é o dobro da média europeia”. Já para a jurista da Deco, Mariana Almeida, é claro que “os comercializadores não têm interesse em ser imparciais. Temos que ver a realidade, têm interesse em que o consumidor participe no mercado”.

Preocupação com o futuro do planeta

Em percentagem

“Quem é que há uns anos acreditaria que teríamos [Portugal] mais de 70% de energia [elétrica] a vir de renováveis. Ninguém!”, exclama Rodrigo Costa, CEO da REN, para lembrar os progressos. Mas os avanços e recuos são a marca de uma transição em que “na Europa primeiro regulamenta-se e depois inova-se”, na opinião do presidente da Câmara Municipal de Aveiro, José Ribau Esteves. “Estamos agora a investir menos do que investimos antes”, alerta o CEO da EDP, Miguel Stilwell Andrade, que elabora que as “empresas estão a rever objetivos em baixa” e menciona uma “mudança de prioridades” porque os objetivos de 2030 são “difíceis de atingir”.

Disponibilidade para apoiar transição energética

Em percentagem

É o caso do Objetivo 55 da União Europeia — que pretende a redução das emissões líquidas de gases com efeito de estufa em, pelo menos, 55% até 2030 — e que está em vias de não ser cumprido com a Agência Europeia de Ambiente, perante os dados disponíveis a apontar apenas para 49%. Dificuldades reconhecidas por Paula Abreu Marques, chefe de unidade no departamento de Energia da Comissão Europeia, que considera terem sido “dados passos notáveis em termos de política energética. Talvez por causa da crise, mas crises geram sempre oportunidades”. Importa agora “atuar como um bloco coeso” e apostar na “eletrificação em grande escala”.

O QUE SE OUVIU

“O caminho para um futuro mais sustentável implica colocar o cidadão no centro 
da transição energética”

Maria João Pereira
Secretária de Estado da Energia


“A literacia é um problema. Energética, financeira e ambiental”

Gabriel Sousa
CEO da Floene


“É um privilégio termos em Portugal um plano de ação energético (PNEC 2030) que reúne consenso”

João Torres
Presidente da Associação Portuguesa da Energia


“O principal problema da nossa sociedade é o medo. Custa-nos uma fortuna gerir”

José Ribau Esteves
Presidente da Câmara Municipal de Aveiro

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

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