O arranque da segunda edição do Portugal Export +60’30 decorreu na sede da Fundação AEP, no Porto
Rui Farinha/NFactos
Conjuntura. Crises em França e na Alemanha estão a ter impacto em Portugal e para 2025 há ainda a concorrência da China e as taxas aduaneiras de Trump. Exige-se ao Governo medidas claras e adequadas à diversificação de mercados
Em 2023, quando foi a primeira edição do Portugal Export +60’30 — cujo objetivo é ter as exportações a valer 60% do PIB em 2030 —, as vendas de bens para o exterior tinham acabado de atingir a meta de 50% do PIB em 2022, três anos antes da data definida pelo então Governo de António Costa. Mas 2023 acabou por fechar com um peso no PIB de 47,4% e este ano deverá fechar a valer 47%.
De acordo com Carlos Andrade, economista chefe do Novo Banco, o “pequeno recuo” verificado entre 2023 e 2024 “tem a ver com o facto de o consumo privado — beneficiando de descidas de impostos, subida das pensões e descida dos juros — ter aumentado o seu contributo para o crescimento do PIB”. Mas também foi incrementado por “uma procura externa menos forte de alguns dos nossos parceiros comerciais europeus”, nomeadamente França e Alemanha, que, juntos, representam 50% das exportações portuguesas, acrescenta Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP).
Tal como o Expresso noticiou a semana passada, entre janeiro e outubro deste ano França comprou menos €395 milhões de bens a Portugal face ao período homólogo. Foi a primeira queda nas exportações para este país desde 2020, o ano da pandemia. E para a Alemanha, por exemplo, nota-se já um recuo nas vendas de componentes para automóveis. “Estamos numa fase desafiante e até preocupante. Já há bastantes empresas com dificuldades e quebras nas receitas”, avisa Luís Miguel Ribeiro.
É neste cenário de incógnita em relação ao impacto que a crise em França e na Alemanha terá no desempenho das exportações em 2025 que é lançada a segunda edição do Portugal Export +60’30. O objetivo de chegar a 60% do PIB em 2030, ou seja, daqui a cinco anos, parece um desafio ainda maior do que já é agora. É que aos problemas em França e na Alemanha somam-se o intensificar da concorrência dos produtos vindos da China a preços mais baixos e, mais recentemente, a intenção de Donald Trump de aumentar as taxas para produtos importados, dificultando ainda mais a tarefa que é vender para novos mercados.
De facto, diz Carlos Andrade, diversificar as exportações é um processo “difícil, demorado e muito exigente em termos financeiros”. Porque, acrescenta Luís Miguel Ribeiro, “os produtos podem ter de ser alterados — o que requer alterar processos de produção e apostar em inovação — e depois há certificações próprias e questões culturais”. E este processo é ainda mais difícil para as empresas portuguesas que sofrem de “falta de escala e de fôlego financeiro”, alerta Carlos Andrade. Mesmo assim, ainda têm de lidar com custos de contexto nacionais — como a elevada carga fiscal e os preços da energia — e europeus, como as novas exigências ambientais, nota Luís Miguel Ribeiro.
O que é preciso
Para Carlos Andrade é simples: “Se às empresas portuguesas forem proporcionadas condições adequadas, elas saberão focar-se no crescimento nos mercados externos.” De acordo com algumas empresas ouvidas no almoço de arranque da segunda edição do Portugal Export +60’30, o importante não é tanto haver apoios ao investimento, mas sim haver regras claras, menos burocracia e políticas públicas adequadas. “Ir atrás dos incentivos e dos PT 2030 e PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] desvia as empresas do foco que tem de ser investir por si”, vinca Bruno Azevedo, CEO e cofundador da Addvolt, uma empresa de baterias elétricas para camiões que exporta 95% da produção. Ou, como diz Pedro Pacheco, CEO da BERD, uma organização de engenharia de pontes, “só investimos se considerarmos zero apoios. E se eles vierem, melhor”.
O ministro da Economia, Pedro Reis, esteve no almoço e recordou que em apenas oito meses de Governo já aprovaram a descida do IRC e da tributação autónoma e têm como foco reduzir a burocracia nos licenciamentos, que considera serem “o maior travão ao crescimento”. Mas Luís Miguel Ribeiro nota que as vontades do PSD não chegam, porque “é um Governo de minoria”. E exemplifica com o IRC: “Era uma simples descida de 2%, mas, por questões ideológicas, ficou em 1%.”
NÚMEROS DAS EXPORTAÇÕES
3,6%
foi quanto as exportações cresceram nos 10 meses deste ano, segundo o INE. A expectativa é que o ano acabe com uma subida de 4%
47%
foi o peso das exportações no PIB nos três trimestres de 2024, esperando-se que assim se mantenha no acumulado do ano
€395
milhões foi quanto caiu, entre janeiro e outubro, o valor dos bens nacionais comprados por França. É o valor mais baixo desde 2020
O que vai ser o projeto este ano
A primeira edição do projeto Portugal Export +60’30 decorreu entre o final de 2023 e março deste ano, com o objetivo de ajudar as exportações portuguesas a atingirem um peso de 60% ou mais no PIB. Para isso foram realizados três almoços, onde os empresários convidados tinham a possibilidade de questionar o orador principal sobre o tema em análise. No final, foi apresentado numa conferência um conjunto de recomendações ao Governo, na altura o novo Executivo de Luís Montenegro, para que as políticas públicas apoiassem o aumento das exportações. Na segunda edição, que arrancou a 12 de dezembro, no Porto, a metodologia será a mesma: três almoços, com três temas diferentes, e uma conferência final, nos quais se pretende olhar para os desafios identificados na primeira edição e procurar apresentar medidas para os ultrapassar. Além disso, continuará a ser feita uma monitorização do estado de arte da exportação e internacionalização portuguesa pela AEP e o Novo Banco.