Projetos Expresso

Produção nacional de frutos secos cresce 35%

Alentejo é a principal região produtora. Sector acredita que a amêndoa portuguesa pode ser a quarta do mundo em cinco anos
Alentejo é a principal região produtora. Sector acredita que a amêndoa portuguesa pode ser a quarta do mundo em cinco anos
Getty Images

Agroalimentar. Em 2023, a amêndoa dobrou o crescimento (representa 68% da produção), seguida da castanha (23%) 
e da noz (9%). Anuário revela ainda que produção de azeite e azeitona cresce 51% e já representa 5% da produção mundial

Portugal tem registado um forte crescimento na produção de frutos secos, com a duplicação da área de cultivo e da produção na última década. O sector registou um crescimento de 35% em 2023, face a 2022, com o total da área das principais culturas a crescer 7% no mesmo período, passando de 63.884 hectares para 71.689 hectares cultivados, e de 46.215 toneladas produzidas para quase 70 mil. O crescimento da amêndoa é o que mais se destaca (50%), representando já 68% da produção, seguida da castanha com 23% e da noz com 9%.

“Se houvesse estratégia para frutos secos seríamos o grande fornecedor na estação de toda a Europa”, escreve Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal, no livro “Alimental”, o primeiro anuário estatístico do sector agroalimentar nacional, da autoria da Caja Rural del Sur e da sua fundação, apresentado esta semana, em Lisboa.

Além de reunir todos os dados do sector agrícola, da água, sector pecuário, florestal, pesqueiro e indústrias agroalimentares, o documento conta também com a contribuição de 22 personalidades que traçam o panorama sobre cada um destes sectores, as maiores oportunidades e os principais desafios. “O objetivo é promover o mundo agroalimentar e florestal e apoiar a construção do futuro e de políticas e estratégias para o sector”, diz António Corrêa Nunes, assessor da Caja Rural del Sur e coordenador do projeto.

Cereais dependentes

No que toca aos cereais, António Corrêa Nunes alerta: os dados apontam para uma forte dependência de países terceiros. “Importamos 90% dos cereais. A China tem stocks para quatro meses e nós para duas semanas. Devíamos ter pelo menos 20% de autossuficiência”, diz, acrescentando, porém, que na horticultura, as exportações mais que triplicaram nos últimos anos.

“A nossa latitude e o clima ameno permitem produções precoces em relação ao Norte da Europa e mais prolongadas no tempo relativamente a Espanha”, diz no anuário Luís Mesquita Dias, presidente da Associação de Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos concelhos de Odemira e Aljezur, que aponta a procura de novas fontes de água, a simplificação de processos burocráticos e a articulação entre os vários ministérios e entidades públicas como três dos principais obstáculos.

CORTIÇA E EXPORTAÇÕES

75%

das exportações na cortiça são rolhas e 25% novas aplicações, onde o potencial de crescimento “é enorme”, diz António Corrêa Nunes


113,5%

é o crescimento nas exportações do agroalimentar e pescas. Nas importações, Espanha é o principal fornecedor, com 49,2%


“Pôr o mundo a comer azeite”

No olival, os números são animadores, revelando que a produção de azeite e azeitona cresceu 51% o ano passado, e que já corresponde a 5% da produção mundial. “Tem sido feito um caminho muito relevante nos últimos 20 anos. Estamos em sexto lugar no ranking dos países produtores. Agora o maior desafio é pôr o mundo a comer mais azeite. O consumo está estabilizado. O grau de aprovisionamento é espetacular, estamos em cerca de 200%”, diz António Corrêa Nunes. Em 2023 laboraram 462 lagares, o que representa uma produção total de 1.755.289 hectolitros, com 98% da azeitona direcionada para azeite e 2% para azeitona de mesa. O Alentejo representou 82% da produção, seguido do Norte com 8% e do Centro com 5%.

A água é um tema transversal ao sector agroalimentar, sendo que em Portugal o olival é a cultura com maior área regada (41%), seguida dos citrinos, outros frutos e frutos secos (19%), do arroz (9%) e dos hortícolas (6%).

“Utilizamos apenas 8% dos recursos disponíveis, podendo atingir 15% se Espanha condicionasse totalmente os volumes acordados. Não é um recurso em falta em Portugal, mas sim um problema de dispersão e gestão. Os agricultores não gastam água, transformam-na em alimentos”, emenda.

Na apresentação do livro “Alimental”, houve ainda lugar para uma mesa redonda sobre oportunidades de negócios transfronteiriços entre Portugal e Espanha, que contou com Guillermo Tellez Vázquez, diretor geral da Caja Rural del Sur, João Mira Gomes, embaixador de Portugal em Espanha (por teleconferência), Juan Fernandez Trigo, embaixador de Espanha em Portugal e Francisco Dezcallar, presidente da Assembleia Geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola.

O painel discutiu temas como a promoção conjunta do sector turístico nas zonas fronteiriças, a colaboração na energia, o investimento nas ligações ferroviárias e rodoviárias entre os dois países e a possibilidade de unir esforços na indústria de defesa.

No agroalimentar, os especialistas falam em sector promissor e estratégia de trabalho no investimento em matéria hídrica. “Podemos colaborar e podemos contribuir para o desenvolvimento do campo português. Avançou-se muito no problema do autoabastecimento. Há possibilidades enormes”, refere Juan Fernandez Trigo.

FRASES DA MESA REDONDA

“Além dos fundos europeus, precisamos de instrumentos financeiros da banca tradicional”

José Manuel Fernandes
Ministro da Agricultura e Pescas


“A aproximação da Península Ibérica traz mais oportunidades. Somos mais fortes juntos”

José Luis García-Palacios
Presidente da Caja Rural del Sur


“Espanha é o primeiro cliente de Portugal e primeiro fornecedor. As relações comerciais são fortes”

Francisco Dezcallar
Presidente da AG da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: bcbm@impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate