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O sucesso destas empresas “será o sucesso de Portugal”

Joana Paiva e João Marcos posam após subirem ao palco da Estufa Fria em nome dos projetos vencedores das suas startups
Joana Paiva e João Marcos posam após subirem ao palco da Estufa Fria em nome dos projetos vencedores das suas startups

Impacto. Há a expectativa de que a nova geração de startups a emergir possa utilizar tecnologias como a inteligência artificial para crescer mais rapidamente e galgar fronteiras, enquanto contribui para um mundo mais inclusivo

O sucesso destas empresas “será o sucesso de Portugal”

Tiago Oliveira

Jornalista

João Girão

Fotojornalista

O objetivo não podia ser mais simples: “Ajudar Portugal a ouvir! E qualquer pessoa por este mundo fora.” Palavra de João Marcos, cofundador da I can hear you, my son! / LYNX, empresa que pretende “universalizar o acesso a sistemas de apoio auditivo de qualidade e baixo custo”, com o aproveitamento “de produtos eletrónicos de consumo normalmente utilizados, como os auscultadores comuns ou um smartphone”.

“Todos temos pessoas queridas que queremos ouvir, que queremos que nos oiçam” e que também não conseguem aproveitar sons, como é o caso da “música de fundo num qualquer lugar público” ou do “típico som do amola tesouras e afia­dores de facas”. É a “melodia da vida”, como sintetiza João Marcos, e cuja solução para que não se esfume resulta de uma experiência muito pessoal “há uns 10 anos”. Foi “numa altura”, conta, “em que se tornava evidente que a minha avó não me ouvia bem, sobretudo do outro lado do telefone”. Com formação em engenharia de telecomunicações e informática, lançou-se então numa aventura que já conta com cinco soluções para chegar aos ouvidos de quem mais precisa. E que espera alavancar com os €25 mil recebidos como um dos dois vencedores do Altice Internatio­nal Innovation Award.

Inovação inclusiva e sustentável é também preconizada pela Seedsight. A empresa foi a outra grande distinguida e arrecadou €75 mil que serão utilizados, explica o cofundador e chief comercial officer, Gonçalo Ramos, para “o desenvolvimento contínuo da tecnologia” e para “o fortalecimento da presença nos mercados internacionais”. Tecnologia essa que “combina sensores de fibra ótica avançados e de inteligência artificial para fornecer análises precisas e em tempo real sobre a qualidade dos grãos” e que “pretende revolucionar o controlo de qualidade nos sistemas agroalimentares”.

O “que torna o projeto verdadeiramente inovador é a capacidade de otimizar um processo de análise de qualidade que historicamente dependia de avaliações de parâmetros singulares, com custos elevados e resultados morosos”.

Um contributo para a sustentabilidade, com Gonçalo Ramos a admitir que “a inclusão não é apenas uma questão ética”, mas “também uma oportunidade de mercado”. A justificação é que os “projetos inclusivos têm o potencial de alcançar populações anteriormente negligenciadas, sejam pessoas com necessidades específicas ou regiões geográficas menos desenvolvidas. Isso cria novos mercados e promove um crescimento mais equitativo”.

É um novo mundo a construir-se, com Margarida Balseiro Lopes, ministra da Juventude e da Modernização, a vincar que “não há grandes diferenças ideológicas em fazer da transição digital uma oportunidade para o nosso país” e que o sucesso destas empresas “será sempre o sucesso de Portugal”.

Já Ana Figueiredo, CEO da Altice Portugal, lembra que “é necessário dar tempo para que a inovação floresça” porque o “ciclo de tentativa e erro é fundamental para descobrir e inovar”. Ganham as pessoas: “Tenho cinco irmãos e sete sobrinhos, mais dois que nascerão muito em breve e a quem dedico este prémio. A outra pessoa a quem dedico o prémio é a minha avó, Alda de Nazareth. Está agora ansiosa para que lhe leve as nossas soluções”, confessa João Marcos.

OS VENCEDORES

Prémio Startup

Seedsight Internet das coisas e análise orientada por IA são algumas das soluções inovadoras para a avaliação de qualidade no sector dos cereais e grãos que esta empresa do Porto traz. O objetivo é definir impressões digitais imutáveis de mercadorias ao fornecer informações em tempo real para que as empresas possam otimizar os seus processos, reduzir o desperdício e melhorar a qualidade do produto.

Prémio INCLUI by Fundação Altice

I can hear you, my son! / LYNX Nascida em Coimbra, quer aproveitar os aparelhos eletrónicos de consumo, como auriculares e smartphones, para criar soluções de aparelhos auditivos acessíveis a pessoas com limitações. Oferecer soluções auditivas eficazes e de reduzido custo a famílias ou instituições é a meta para combater o isolamento e as fases iniciais da demência.


TRÊS PERGUNTAS A

Camille Landau

Conselheira estratégica de startups

O que distingue os empreendedores portugueses?

São empreendedores que se preocupam em construir conhecimento, apoiar a inovação real e levam a educação e a execução de tarefas muito a sério, com a máxima qualidade.

Como é que uma startup pode ter mais hipóteses de sucesso?

Quando és forçado a entrar no mercado mais cedo do que gostarias, vais encontrar-te mais rapidamente com aquilo que será identificado como um problema. Assim, terei um caminho mais eficiente e, por isso, alcançarei uma melhor tração mais rapidamente.

Quais são as principais tendências neste campo?

Ouvi a inteligência artificial (IA) ser mencionada em praticamente todas as apresentações. O que penso que vai acontecer é que haverá menos barreiras para iniciar uma empresa e testar. Atualmente, quando ajudo uma startup, conseguimos fazer três sites numa manhã por causa da IA. Mas há aqui um ponto subtil, que é: se a IA pode dizer-te algo num minuto que antes demorarias, digamos, 1000 horas ou 1000 anos a aprender, é fantástico. O que perderás é a oportunidade de aprender ao longo do caminho. Esse é o perigo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

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