Estatísticas do agroalimentar português dão panorama real para oportunidades de negócio
José Luis García-Palacios, presidente da Caja Rural del Sur, discursou no início da jornada, referindo que alguns dos grandes objetivos da instituição são a valorização do meio rural, a capacitação dos gestores das empresa e o acompanhamento do desenvolvimento do território rural
Matilde Fieschi
José Luis García-Palacios, presidente da Caja Rural del Sur, discursou no início da jornada, referindo que alguns dos grandes objetivos da instituição são a valorização do meio rural, a capacitação dos gestores das empresa e o acompanhamento do desenvolvimento do território rural
Matilde Fieschi
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A jornada “Alimental Portugal”, organizada pela Caja Rural del Sur e a sua fundação, à qual o Expresso se associou como media partner, decorreu esta terça-feira, e foi palco para apresentação do primeiro anuário estatístico do sector agroalimentar em Portugal
O abandono do território no interior, as alterações climáticas, que vieram trazer ainda mais desafios à gestão dos recursos hídricos, a disponibilidade da mão de obra, o excesso de burocracia e o aumento dos custos de produção foram algumas das dificuldades apontadas pelos especialistas do sector agroalimentar durante a jornada “Alimental Portugal”, organizada pela Caja Rural del Sur e a sua fundação, que decorreu esta terça-feira, no auditório da Fundação Champalimaud, onde a grande novidade foi a apresentação do primeiro anuário estatístico do sector, que reúne todos os dados disponíveis de 2023.
O livro “Alimental” revela os dados do sector agrícola, da água, sector pecuário, florestal, pesqueiro e indústrias agroalimentares apresentando ainda o impacto destes na economia. Além dos números, o projeto conta também com a contribuição de 22 personalidades de referência que representam vários organismos e instituições do sector como Luis Mira da Confederação dos Agricultores de Portugal; José Pereira Palha, presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais ou Filipe Ribeiro, presidente da Associação nacional de Produtores de Pera Rocha. O documento conta ainda com os testemunhos do ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, e de José Luis García-Palacios, presidente da Caja Rural del Sur.
Na abertura da jornada, numa mensagem enviada em vídeo, o ministro da Agricultura e Pescas, reconheceu os desafios do sector e afirmou que o apoio à renovação geracional, e ao desenvolvimento dos agricultores “para reduzir o défice da produção alimentar” é uma prioridade. “Os nossos agricultores produzem com elevados padrões ambientais e são escultores das paisagens de que desfrutamos. É preciso valorizar a dedicação e foco dos agricultores. A agricultura está cada vez mais moderna e sustentável”, diz.
José Luis García-Palacios abriu a jornada reconhecendo a “posição vital” que o sector agroalimentar representa para Portugal e na Península Ibérica. Seguiu-se a apresentação do livro “Alimental” por António Corrêa Nunes, assessor da Caja Rural del Sur e coordenador deste projeto e, na segunda parte da jornada, teve lugar a mesa-redonda com o tema “Portugal e Espanha: oportunidades de negócios fronteiriços”, que contou Guillermo Tellez Vázquez, diretor geral da Caja Rural del Sur, João Mira Gomes, embaixador de Portugal em Espanha (por teleconferência), Juan Fernandez Trigo, embaixador de Espanha em Portugal e Francisco Dezcallar, presidente da Assembleia Geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola, como participantes.
Conheça as principais conclusões.
Investimento
O ministro da Agricultura e Pescas falou na importância do investimento no combate aos efeitos das alterações climáticas, pragas e doenças e alertou que, além dos fundos europeus, são necessários também instrumentos financeiros da banca tradicional.
José Luis García-Palacios insistiu na importância da aproximação da Península Ibérica para a criação de oportunidades num “sector vital” como o agroalimentar.
António Corrêa Nunes alertou para a injustiça da concorrência de países com menos regras e que comisso conseguem produtos a preços mais baixos. “Temos legislação cada vez mais green e burocracia. Mas ao mesmo tempo abrimos fronteiras a importações de países com menos exigências”, diz.
“15% da investimento de Portugal no exterior é em Espanha. Em peso relativo é muito mais importante o investimento português em Espanha, que o investimento espanho em Portugal”, diz Juan Fernandez Trigo, embaixador de Espanha em Portugal.
Desafios
No sector da carne a mão de obra é o desafio apontado bem como a questão do IVA que deve ser revista. dizem os especialistas.
Incapacidade de captar talento jovem para o sector e a melhoria da comunicação enre produtor e clarificando o “radicalismo verde”, foi um dos desafios apontados no sector do leite e derivados.
O mel é uma atividade encarada ainda muito como “hobby” o que dificulta a profissionalização do sector.
No sector florestal foi apontada a necessidade de desenvolver a atividade para reduzir a dependência da importação. A gestão das florestas é o maior desafio.
Os números do projeto
O livro “Alimental” tem como objetivo promover mundo agroalimentar e florestal e apoiar a construção do futuro e de políticas e estratégias para o sector, esclarece António Corrêa Nunes.
O País tem registado um forte crescimento na produção de frutos secos, com a duplicação da área de cultivo de da produção na última década.
“Importamos 90% dos cereais. A China tem stocks para quatro meses e nós para duas semana. Devíamos ter pelo menos 20% de autosuficiência”, diz António Corrêa Nunes.
Na horticultura as exportações mais que triplicaram nos últimos anos.
A azeitona e o azeite fizeram “um caminho muito relevante nos últimos 20 anos”, diz António Corrêa Nunes, acrescentando que Portugal representa 5% da produção mundial e está em sexto lugar no ranking dos países produtores.
Olival foi a cultura com maior área regada (41%), seguida dos citrinos, outros frutos e frutos secos (19%), do arroz (9%) e dos hortícolas (6%).
Na cortiça 75% das exportações são rolhas mas “o resto são outros produtos que têm causado surpresa no mercado mundial”, diz António Corrêa Nunes.
Portugal é o terceiro maior consumidor de peixe nos mundo.
Colaboração transfronteiriça
“É preciso promover um melhor conhecimento entre Portugal e Espanha e entre os sectores industriais, comerciais e serviços. Tem havido um progresso enorme nesse conhecimento mas temos de continuar a trabalhar na marca Portugal em Espanha”, diz João Mira Gomes, Embaixador de Portugal em Espanha, na sua participação na mesa redonda por teleconferência.
Francisco Dezcallar Presidente da Assembleia Geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola, falou na promoção turística conjunta de Portugal e Espanha, nomeadamente nas zonas fronteiriças e da possibilidade dos dois países unirem esforços, tal como existe no sector energético, também em áreas como a indústria de defesa.
Os oradores insistiram na importância no investimento nas ligações entre os dois países a nível de ferrovia mas também a nível rodoviário onde há já projetos em curso que é preciso finalizar.
Guillermo Tellez Vázquez, Diretor Geral da Caja Rural del Sur, apontou como sectores promissores nos próximos anos o financeiro, o sector agroalimentar, o turismo, sector imobiliário e o sector energético.
Juan Fernandez Trigo, embaixador de Espanha em Portugal falou na importância do turismo para os dois países como fonte de rendimento muito importante mas também do grave problema que causa na habitação.
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