Viver também é sentir o vento na cara

Envelhecimento. Ajudar a população sénior a ter mais qualidade de vida é a meta destes projetos
Envelhecimento. Ajudar a população sénior a ter mais qualidade de vida é a meta destes projetos
Jornalista
Fotojornalista
Assur dá instruções com toda a calma. O conforto em segurança não conhece pressas e o voluntário italiano (“agora também português!”) que vai conduzir Alzira e Carlos por um passeio de uma hora de trishaw — bicicleta composta por três rodas e um sofá — por Lisboa não deixa nada ao acaso. A Pedalar sem Idade surgiu na Dinamarca em 2012 e Portugal é um dos 54 países onde está presente. A diretora-executiva, Margarida Quinhones, revela que os “passeios gratuitos” contam com mais de 300 voluntários e 18 trishaws espalhados por 10 municípios, com o 11º (Mafra) prestes a chegar. “Vemo-nos como uma resposta inovadora”, considera, num país em que mais de um milhão de pessoas vivem sós, e, destas, 55% são idosos, segundo a Pordata, percentagem que coloca Portugal em 4º lugar na União Europeia.
“A gente vai a todas”, atira Carlos, de 74 anos, cuja hesitação em dizer a idade leva Alzira a exclamar que o seu companheiro “ainda acaba no berço”, para acrescentar que “dizem que as senhoras é que não gostam de contar a idade”. Com 87 anos — “não sinto” —, foi professora, advogada e continua a estudar: “Temos que estar atentos ao mundo.” Se da “janela é possível ver o sol”, há todo um universo de diferença no sentir “o ar na cabeça, na cara”, durante os passeios e cruzar-se com pessoas que “acenam e dizem adeus do coração”. Carlos anui, ou não formasse uma parelha inseparável com Alzira. “É verdade ou mentira?”, questiona mais de uma vez, enquanto conta: “Ela acorda-me e eu acordo-a.” Fez de “tudo um pouco”, das Marchas de Santo António, dos “12 aos 60 anos”, até guarda-redes. “Era maluco”, atira o sportinguista, que ouve sempre os relatos, com Alzira a fazer questão de esclarecer: “Eu sou do Benfica.” A diabetes pode ter roubado a vista a Carlos, mas não o humor: “Eu que não vejo é que trago a senhora a passear.”
Envelhecimento ativo é também “contribuir para que as pessoas mais velhas prossigam vivendo no seu ambiente através da promoção de atividades de estimulação física, cognitiva, emocional e social”, objetivo do projeto Entre Tempos com Suas Gentes, da Cooperativa Operária Portalegrense, explica Abílio Amiguinho. Já o FlorIdade, do Centro Social Paroquial de Ribeirão, segundo a psicóloga Diana Sousa, “consiste na criação de uma unidade de cultivo de flores em estufas hidropónicas orientada para a inclusão”.
Distinguidos no prémio seniores
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt