Transformação pela IA é “um processo em construção”
A 4ª edição das Critical Sessions juntou uma dezena de gestores para falar de inteligência artificial
Matilde Fieschi
O caminho está a ser percorrido por muitas organizações, mas ainda há inércia e resistência porque falta estímulo. Esta foi uma das conclusões do jantar que decorreu ontem em Lisboa, integrado na 4ª edição do evento ‘Critical Sessions’, promovido pela Axians, e a que o Expresso se associou como media partner
‘Quando a inteligência artificial (IA) é uma realidade – que futuro antecipamos para a IA?” foi o mote para um debate à mesa, que juntou esta quarta-feira cerca de uma dezena de gestores de grandes organizações, públicas e privadas. Para lançar a discussão sobre o tema do momento esteve Manuela Veloso que avançou, desde logo, com a ideia de que a integração desta tecnologia nas empresas “é um processo em construção”, e um caminho de adaptação que, defende, “será longo”.
A verdade é que, como refere a cientista e responsável pela inovação em IA na norte-americana JP Morgan Chase, as empresas sem IA funcionam e apresentam resultados o que, muitas vezes, as impede de avançar para esta transformação por falta de estímulo. “A necessidade desta mudança é uma coisa que não é óbvia e que é difícil, pelo que as organizações têm de sentir que existe um estímulo para transformar verdadeiramente e mudar”, aponta.
Aliás, como revela Carmo Palma, “essa transformação, e a profundidade da transformação, é um caminho que ainda está a ser iniciado por muitas empresas” e foi, até, um dos temas que dividiu a sala. Segundo a managing partner da Axians, alguns dos participantes neste debate defendem que é claro para qualquer líder que a IA é necessária para sobreviver e que, por isso, o caminho está a ser feito, enquanto outros assume que, apesar do trilho estar a ser percorrido, ainda há muita inércia e muita resistência, sobretudo humana. Por isso, acredita a responsável da Axians, “não vale a pena iludirmo-nos e dizer que já está a acontecer uma profunda transformação porque não é verdade”.
Desafios que também são oportunidades
Fazer uma boa transformação digital dos negócios é, na opinião de Rogério Carapuça, um desafio que, na realidade, é também uma oportunidade. “É uma alavanca que se prevê que mexa muito com a produtividade”, afirma o presidente da APDC (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações). “Há muito espaço para trabalhar”, acrescenta Nadim Habib. O professor na NOVA SBE acredita que as oportunidades começam, desde logo, na possibilidade de “olhar para processos internos, ver onde é possível usar a IA para tirar complexidade e para melhorar a relação com os stakeholders”. Contudo, admite, “para empresas que não têm os seus processos claros vai ser mais difícil”.
Do lado da administração pública, a perceção sobre as oportunidades que nascem de desafios também é clara. “As entidades públicas e privadas devem vê-la como uma forma significativa de aumentar os seus modelos de negócio e os seus mecanismos de produtividade”, afirma César Pestana. No essencial, salienta o presidente do Conselho Diretivo da ESPAP (Serviços Partilhados da Administração Pública), “com a incorporação da IA nos seus modelos de negócio, as organizações conseguem servir melhor os seus clientes ou, no caso público, o cidadão”.
Jorge Rodrigues da Ponte acrescenta outro desafio para a Administração Pública. “É necessário conseguirmos explicar como é que o processo corre, porque estamos a aplicar modelos de IA, e porque estamos a seguir esse caminho, demonstrando o que é útil para o serviço”. Para o vice-presidente do Conselho Diretivo do IRN (Instituto dos Registos e do Notariado), mais do que focar “na espuma dos dias”, é necessário compreender o caminho.
Conheça outras conclusões:
As empresas estão a fazer o seu caminho, ao seu ritmo, e tudo depende da maturidade e do sector. “Um grande desafio é ter algoritmos de dados com informação fidedigna”, aponta João Amaral Gomes, da equipa executiva da Axians Digital Consulting.
Este é um mundo novo e as empresas têm que se adaptar para tirar o maior proveito de uma tecnologia “que tem muito potencial, de acelerar os processos internos e de dar melhor resposta aos clientes”, diz Jorge Rodrigues da Ponte. “É um processo que vai demorar algum tempo, mas quem aplicar bem estas ferramentas vai tirar proveito disso”, reforça.
A economia portuguesa precisa de atingir outro patamar de desenvolvimento e de produtividade e a IA é mais uma ferramenta que pode fazer a diferença. “Em Portugal precisamos todos de nos virar mais para o exterior porque o mercado é pequeno, e temos que fazer a diferença pensando de forma global”, assegura Rogério Campos Henriques. O presidente da Comissão Executiva da Fidelidade acredita que a IA é uma alavanca fundamental para fazer esse caminho.
Outro desafio é, na opinião de Carmo Palma, a resistência humana. “Há a resistência natural de porquê transformar, porquê utilizar determinado automatismo”.
O investimento é incontornável, mas a capacidade de fazê-lo existe nas grandes empresas, que estão a investir. “A preocupação é com as pequenas e médias empresas”, alerta a responsável da Axians.
Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.