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“Que a ciência oriente as decisões políticas”

Estudo diz que Portugal ganha com o investimento na vacinação do adulto: “Menos pessoas internadas ou internamentos mais curtos”
Estudo diz que Portugal ganha com o investimento na vacinação do adulto: “Menos pessoas internadas ou internamentos mais curtos”
Pornpak Khunatorn/Getty Images

Vacinação. Estudo científico mostra que um adulto, quando vacinado, tem melhor qualidade de vida enquanto envelhece. Especialistas falam na importância de investir na prevenção (não nos tratamentos) e, assim, poupar milhões de euros

Uma equipa multidisciplinar concluiu que a vacinação no adulto desempenha um papel importante no envelhecimento saudável, ajudando as pessoas a viver de forma mais protegida e com melhor qualidade de vida enquanto os anos passam. Os especialistas do projeto + Longevidade, iniciativa da NOVA IMS que contou com o apoio da GSK, esperam agora que os decisores políticos reconheçam essa evidência científica e adotem políticas que promovam a vacinação como uma medida fundamental para a saúde da população sénior.

“É fundamental que a ciência orien­te as decisões políticas. Este é um estudo assente não apenas na opinião dos peritos mas com base na melhor literatura científica. E também naquilo que é a experiência de quase 50 por cento dos países europeus, que já estão na linha da frente na vacinação do adulto”, diz Ricardo Baptista Leite, chairman do NOVA Center for Global Health. O médico lembra que Portugal “tem muito sucesso na vacinação das crianças e deve seguir o caminho de olhar para a ciência, no sentido de continuar a investir para garantir que as pessoas mais idosas do país, as pessoas com mais de 65 anos, possam, também elas, não só viver mais, mas viver melhor”. O “apelo que se faz é que se olhe para a ciên­cia, que se olhe para os dados, e que se perceba que este é um investimento no presente e no futuro da população”.

Henrique Lopes, diretor do centro de estudos que assina este projeto, reforça: “Agora é necessário fazer a transposição do pensamento académico para aquilo que acontece no terreno.” E acrescenta: “São necessárias duas coisas: primeiro, a recetividade do poder político ao que lhe é proposto. Naturalmente, terá de incluir a sua ‘pincelada’, os seus contributos. Depois um segundo passo, que é como aplicar no terreno. E aí talvez haja novo espaço para trabalho com a academia... Há muita coisa a fazer em Portugal.”

O especialista acredita que haverá desenvolvimentos e lembra um encontro com os partidos no Parlamento, durante o qual a equipa multidisciplinar apresentou algumas recomendações: “Estiveram vários partidos presentes, inclusive a exprimirem a sua posição, e tivemos a presidente da Comissão Parlamentar de Saúde a acompanhar os trabalhos. Creio que, do ponto de vista conceptual, não haja nenhum partido em Portugal que seja desfavorável ao aprofundamento da vacinação e das campanhas de vacinação.”

Investir para poupar

Para Nuno Marques, coordenador do Plano de Ação para o Envelhecimento Ativo e Saudável, Portugal tem a ganhar com o investimento na vacinação do adulto: “Vamos ter menos pessoas internadas ou internamentos mais curtos. Tudo isto, em poupança, que está devidamente quantificada, são muitos milhões de euros ao longo do tempo. Logo no ano a seguir à vacinação conseguem ver-se dados e resultados de poupanças de várias dezenas de milhões de euros”, acrescenta.

Nuno Marques realça que “o Governo tem tido um discurso de grande aposta nesta área da vacinação e proteção” e acredita que existe “sensibilidade” para a matéria. “Espera-se que seja efetivada nos próximos anos”, diz. Ao proferir a expressão “mais vale prevenir do que remediar”, João Almeida Lopes, vice-presidente da Confederação Empresarial de Portugal, assinou uma das frases da cerimónia. “Se pudermos investir mais na prevenção, poupamos nos tratamentos. É claramente mais económico fazer a prevenção do que depois tratar a doença. Ao fim e ao cabo, a saúde é cara, mas a doença é muito mais cara. Essa é a questão”, afirma.

As grandes conclusões do estudo

LONGEVIDADE Especialistas de várias áreas concluíram no estudo “A vacinação do adulto como prioridade da saúde e da economia” que a vacinação permite maior longevidade e qualidade de vida.

VACINAÇÃO De acordo com o estudo, as vacinas atuam na redução do contágio de doenças, diminuem o risco de hospitalizações, reduzem a necessidade de cuidados intensivos e as pessoas vacinadas apresentam menor probabilidade de morrer.

PROTEÇÃO Na apresentação dos resultados, Francisco George, presidente da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública, defendeu que “o envelhecimento protegido é indispensável”, posição reforçada pelo pneumologista Filipe Froes.

QUALIDADE DE VIDA Além da vacinação, de acordo com Francisco George, o adulto também deve ter emconta a alimentação, o exercício físico e o sono para ter uma boa qualidade de vida.

DEMÊNCIA Os especialistas referem que o risco de demência diminui através da vacinação contínua, que também reduz problemas cardiovasculares agudos (as infeções respiratórias em idades avançadas, como a gripe, estão associadas a um maior risco de complicações cardíacas).

SENSIBILIZAÇÃO Os profissionais de saúde, médicos, enfermeiros ou farmacêuticos, assumem papel de absoluta importância no que diz respeito à sensibilização da população para a vacinação.

BARREIRAS O acesso, os recursos, a literacia, a informação e a heterogeneidade são as principais barreiras na vacinação do adulto.

LITERACIA É preciso fazer-se um esforço para promover o conhecimento em saúde, uma vez que a desinformação, os mitos e as crenças devem ser combatidos com mensagens baseadas em evidência científica robusta, de acordo com os especialistas.

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