
(R)evolução. Empresas e governos não podem perder as oportunidades que a inteligência artificial está a criar, alerta Manuela Veloso, responsável pela inovação em IA na JP Morgan Chase
(R)evolução. Empresas e governos não podem perder as oportunidades que a inteligência artificial está a criar, alerta Manuela Veloso, responsável pela inovação em IA na JP Morgan Chase
Fotojornalista
Quando, por volta de 1439, Gutenberg criou a primeira máquina de impressão feita com tipos móveis, o mundo deu o primeiro passo para que a leitura passasse a ser ensinada de forma mais global do que até então. Sete séculos depois, o caminho para a massificação da inteligência artificial (IA) segue, na opinião de Manuela Veloso, um caminho semelhante. “Tal como com a invenção de Gutemberg, é a tecnologia que impulsiona a mudança”, garante a responsável pela inovação em IA na JP Morgan Chase, oradora convidada na edição deste ano das Critical Sessions, promovidas pela Axians.
No entanto, para a cientista, especializada nas áreas da computação e da robótica, o essencial é avançar, fazer, aprender com os erros e ajustar, porque “a IA é incontornável, mas terá o seu caminho”. E esta foi, aliás, a principal mensagem que deixou aos gestores presentes: “Comecem, façam, mexam-se” porque, aponta, “não há tempo para esperar e ter a solução perfeita, e o que estamos a tentar desenvolver são sistemas que melhoram com o tempo”.
Sendo um processo em construção e em constante desenvolvimento, é “uma descoberta coletiva — das empresas, dos cientistas de dados, dos governos — que procura endereçar os desafios que existem e arranjar soluções”, acredita Manuela Veloso, que indica, contudo, a responsabilidade que deve ser igualmente de cada pessoa. A literacia digital é fundamental e é preciso que as pessoas saibam que devem desconfiar sempre e verificar toda a informação fornecida pela IA.
Apesar de defender a regulamentação, Manuela Veloso acredita que, por si só, “os governos nunca vão resolver os problemas pela escala que têm”, reforça. A Europa, recorda, avançou com o AI Act, o primeiro regulamento mundial sobre IA, mas “será impossível controlar tudo o que se faz com esta tecnologia”.
Outra mensagem que a responsável pela inovação em IA na JP Morgan Chase quis deixar aos convidados para esta conversa intimista sobre a aplicação real desta tecnologia nas organizações e o seu impacto no futuro foi a de que “esta vai ser uma viagem e uma aprendizagem longas”. Apesar de se assumir pragmática e adepta de ‘pôr as mãos na massa’, Manuela Veloso recomenda calma, olhar para dentro e ver o que a máquina pode fazer para melhorar os processos na empresa. Uma espécie de autodiagnóstico transversal ao negócio e à equipa, e “pensar nas oportunidades, não nos problemas”, recomenda.
A literacia digital é fundamental e as pessoas têm de desconfiar e verificar sempre a informação fornecida pela IA
O objetivo será sempre libertar as pessoas para tarefas de valor acrescentado que contribuam para o crescimento do negócio, sem ter de investir em recursos humanos adicionais. “A Uber ou o TikTok não foram inventados por computadores, tal como nada do que é mais revolucionário. São sempre as pessoas, que têm uma capacidade fantástica”, exemplifica. A cientista admite que a inércia nas organizações é um dos maiores obstáculos e que para quebrá-la é preciso alguém que acredite na mudança e que tenha a capacidade de conduzir o processo.
Ainda assim, “a tecnologia tem sido a grande força transformadora da economia nas últimas décadas, vai continuar a ser, e a IA vai fazer a diferença nas cadeias de valor e nos negócios”, defende Rogério Henriques, presidente da Comissão Executiva da Fidelidade.
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