O primeiro dia da Portugal Renewable Energy Summit contou com cinco painéis de debate e perto de 30 oradores
Matilde Fieschi
Começou esta segunda-feira, na Culturgest, em Lisboa, mais uma edição da Portugal Renewable Energy Summit, organizada pela Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) e à qual o Expresso se associa como media partner. Encontro decorre também amanhã, com a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, a encerrar
O primeiro dia da Portugal Renewable Energy Summit não podia ter sido mais abrangente. Em debate estiveram temas como o mercado elétrico europeu, a nova diretiva para as energias renováveis, o plano de ação para as redes de distribuição, os desafios do Plano Nacional Energia e Clima para 2030 (PNEC2030) e ainda a fiscalidade no sector da eletricidade. Cinco painéis de discussão que contaram com a presença de perto de 30 oradores (veja a lista completa de participantes AQUI). Estas são as algumas das principais conclusões.
O novo desenho do mercado
A Comissão Europeia (CE) aprovou este ano um novo desenho do mercado elétrico com medidas para proteger os consumidores, mas com menos alterações naquilo que os produtores mais queriam e que, dizem, também serviria para proteger os consumidores: o mercado diário onde se compra e vende a eletricidade produzida.
“Deixaram demasiado do desenho anterior”, diz Jorge Vasconcelos, presidente da NEWES, acrescentando que isso impede de fazer progressos.
Contudo, para Ricardo Nunes, diretor de estratégia do Operador do Mercado Ibérico de Energia (OMIP), o novo desenho incentiva ao recurso a outros mecanismos de compra e venda como os contratos por diferença (CFD na sigla em inglês), o mercado de futuros ou os contratos de venda de longo prazo (PPA na sigla em inglês). “Temos novos players e novos tipos de contratos, o que antes não acontecia”.
Ainda assim, para Maria de Athayde Tavares, responsável de regulação e direito publico na sociedade de advogados Linklaters, em Portugal não temos muitos PPA porque temos muitos projetos com tarifas garantidas (feed in tarif) e não temos super empresas que façam esses PPA.
Maria de Athayde Tavares, da Linklaters
Matilde Fieschi
A importância das redes
Para Luís Cunha, vogal da direção da DSO Entity, apesar de já se falar da transição energética há muitos anos, só a partir de 2019 é que se começou a falar mais nas redes de distribuição e por causa do empoderamento dos consumidores, ou seja, por causa do aumento dos projetos descentralizados (produção solar em casa, por exemplo), das comunidades de energia ou dos carros elétricos. Tudo novas realidades que pesam nas redes, não só pelo aumento do consumo que trazem, mas também porque também injetam eletricidade na rede, o que antes não acontecia.
Além disso, percebeu-se que, para fazer todos os investimentos que estão previstos nas renováveis na Europa é também preciso investir em redes e, segundo Eduardo Teixeira, diretor de mercados e consumidores da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), o encargo previsto é de 584 mil milhões de euros.
Por isso é que diz que, “faz sentido ver de que forma estão os sistemas regulatórios e não estão preparados para este nível de investimentos”.
Já os operadores das redes dizem estar preparados para o aumento de produção renovável previsto e “sem custos adicionais” para o consumidor, diz o COO da REN, João Conceição.
Há, contudo, quem defenda que não há assim tanta necessidade de investimento as redes. “O kw mais barato é o que combina solar com armazenamento. Se tenho armazenamento não preciso de tanta rede”, diz Patrick Clerens, secretário-geral da Associação Europeia para o Armazenamento de Energia.
Luís Cunha, vogal da direção da DSO Entity
Matilde Fieschi
As previsões de aumento de consumo
As metas traçadas pelos Governos europeus para a transição energética têm por base uma previsão de aumento do consumo que ainda deixa na dúvida alguns dos especialistas e atores do sector da energia e das renováveis em particular. Por isso é que, no painel sobre os PNEC de Portugal e Espanha, os representantes de ambos os países foram consensuais ao dizer que o que sempre pediram aos governos é que não definissem objetivos irrealistas.
Mas mesmo assim, “aumentar o consumo dos 50 TWh que temos hoje para 90 TWh em 2030 é um pouco irrealista em Portugal”, diz Jorge Mendonça e Costa, diretor executivo da Associação Portuguesa dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Eléctrica (APIGCEE). E mesmo que se consiga aumentar esse consumo, “como é que vamos partilhar o fardo” dos investimentos que vão ser necessários fazer para satisfazer esse consumo.
De facto, diz Cristina Torres Quevedo, diretora de regulação e finanças da União Espanhola Fotovoltaica, “no PNEC em Espanha falta ambição na procura”, ou seja, haver medidas para estimular ao consumo elétrico, principalmente quando a eletrificação renovável é considerado o principal meio para atingir a transição energética.
Porque diz Pedro Amaral Jorge, presidente da APREN, “sem procura, não há energias renováveis”.
Cristina Torres Quevedo, diretora de regulação e finanças da União Espanhola Fotovoltaica
Matilde Fieschi
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