“Apanho o autocarro, vou e venho sozinho”

Associações. Integram população com debilidades físicas e mentais. Henrique é um exemplo
Associações. Integram população com debilidades físicas e mentais. Henrique é um exemplo
Jornalista
Fotojornalista
A manhã era de chuva quando Henrique nos recebeu, com um sorriso bem aberto, na Unidade da Juventude da Câmara Municipal de Oeiras. “Já sou famoso”, lançou em tom de brincadeira. Entre digitalização de documentos e atendimento ao público, fala de uma experiência que “tem sido muito boa”. Foi um ano de espera até arrancar esta nova fase, com 20 anos, algo difícil porque não gosta “de estar parado”, mas sim “de se mexer”. “Tem aquilo que se chama bicho-carpinteiro”, diz um amigo em jeito de interrupção.
A oportunidade de Henrique, que tem paralisia cerebral, é resultado do projeto Link da EMDIIP — Equipa Móvel de Desenvolvimento Infantil e Intervenção Precoce. “Eu tenho este problema, como é que se resolve?” Foi assim que a vereadora da Ação Social da Câmara Municipal de Oeiras, Teresa Bacelar, desafiou, em 2019, a associação a ajudar na dificuldade de integração desta população, o que passou por capacitar também “os locais de trabalho”, explica o presidente da direção, André Rica, porque, lembra a vereadora, “é muito fácil que as coisas não corram bem”. Não tem sido o caso. 17 a 20 jovens têm participado todos os anos e a meta com o financiamento do Prémio Capacitar 2024 (cujos 28 vencedores — que no total receberam cerca de €1,1 milhões — pode conhecer em baixo) é alargar o programa e fazer “a ponte com a comunidade empresarial”, avança André Rica.
Tal como acontece com o programa Rolling Stone — Gathers no Moss, da Abrigo Seguro, que aposta na “capacitação para a empregabilidade de pessoas com doença mental”, revela Joana Castro, responsável pelo departamento de psicologia. No caso da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Viseu, o projeto premiado (Cafetaria Inclusiva — DoceMente II) “consiste na criação de um serviço de cafetaria inclusiva fundamentado no princípio da empregabilidade de pessoas com deficiência”, conta a diretora-executiva, Emília Dias. É esse também o foco do Colheitas do Norte, da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, que tem como base “a criação de uma horta pedagógica e sensorial e de um galinheiro como eixo gerador de uma prática pedagógica participativa e inclusiva”, conta o consultor técnico, Ricardo Teixeira, com a certeza de que integração é sinónimo de mais autonomia. Palavras de Henrique: “Apanho o autocarro, vou e venho sozinho.”
Distinguidos no prémio capacitar
● Abrigo Seguro — Associação de Solidariedade Social
● Associação Abundant Quotidian
● Acapo — Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal
● Afaram — Associação de Familiares e Amigos do Doente Mental da Região Autónoma da Madeira
● Amigos dos Pequeninos
● ANPAR — Associação Nacional de Pais e Amigos Rett
● APCB — Associação de Paralisia Cerebral de Braga
● APPACDM de Valpaços
● APPACDM de Viseu
● APPDA Setúbal
● Associação Cabra Cega
● Associação Novamente
● Associação Recreativa Cultural e Social de Silveirinhos
● Casa de Saúde do Telhal
● Centro de Recuperação Infantil de Ponte de Sor
● CERCI Braga — Cooperativa de Educação e Reabilitação para Cidadãos Mais Incluídos
● CERCIESTREMOZ — Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados
● CERCIPOM
● Compassio — Associação para a Construção de Comunidades Compassivas
● Comunidade Vida e Paz
● EMDIIP — Equipa Móvel de Desenvolvimento Infantil e Intervenção Precoce
● Fundação do Gil
● Leque — Associação de Pais e Amigos de Pessoas com Necessidades Especiais
● Lisbon Institute of Global Mental Health
● Musa — Associação Artística e de Intervenção Social
● RD-Portugal, União das Associações das Doenças Raras de Portugal
● Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande
● Teia D’impulsos — Associação Social Cultural e Desportiva
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