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Estado transforma-se com uma pequena ajuda

A Ponte 25 de Abril foi o pano de fundo para a foto que juntou os protagonistas do debate sobre o impacto da IA na administração pública
A Ponte 25 de Abril foi o pano de fundo para a foto que juntou os protagonistas do debate sobre o impacto da IA na administração pública

Ferramentas. Com o auxílio da inteligência artificial, a administração pública tem efetuado um trabalho de renovação 
nas operações internas e na relação com os cidadãos para tentar tirar o melhor partido da revolução tecnológica em curso

Na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma, postula a forma simplificada da lei de Lavoisier. Algo que encaixa que nem uma luva quando olhamos para a ajuda que a inteligência artificial (IA) está a prestar na renovação das operações da administração pública.

“A IA terá um impacto profundo no sector público, transformando não só a prestação de serviços, mas também a organização interna do próprio Estado”, avança a ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro Lopes, com a ressalva que “o digital não vai ser a 100%”. Portugal tem “44% da população sem competências digitais básicas” pelo que é essencial “investir na capacitação das pessoas que ainda não têm condições nem se sentem confortáveis para aceder a estes serviços de forma digital”. Pela sua parte, o Governo “está a elaborar uma abordagem estratégica integrada e transversal que vai conduzir a aplicação de IA nos mais variados sectores do Estado”.

“O recente Índice do Governo Digital da OCDE coloca-nos na linha da frente dos países mais inovadores”, diz o vice-presidente do Instituto dos Registos e Notariado, Jorge da Ponte. Entre as tarefas já desempenhadas no organismo com a ajuda da IA, destaque para “gerar nomes não confundíveis para a bolsa de firmas, automatizar processos de registo no final da tramitação de pedidos de nacionalidade, ou melhorar os canais de contacto com cidadãos estrangeiros que pretendem renovar as suas autorizações de residência”.

Agente virtual

Já no caso de outra entidade do Estado, Sérgio Carvalho, presidente do conselho diretivo do Instituto de Informática da Segurança Social, fala do arranque do “projeto do agente virtual, que irá ter grandes melhorias durante os próximos semestres”. Segundo o responsável, “queremos atender e responder em qualquer idioma, e iremos levar essa experiência para os balcões de atendimento, suportando os nossos profissionais”, garante: “No primeiro semestre de 2024 tivemos 151.706 chamadas e 127.529 resolvidas por este canal”.

Na opinião de Maria Manuel Leitão Marques, professora catedrática da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra “ainda corre tudo muito lento, pelo menos visto de fora”, pelo que “precisamos de várias medidas para acelerar esta transição” tais como “recolha consistente e análise de dados”, “financiamento da prototipagem de mais projetos para a administração pública em diferentes níveis e áreas, com recurso à colaboração de cientistas”, ou “aceleradores e incentivos para escalar os projetos que forem bem-sucedidos”.

“Apesar de um instrumento central de investimento e canalização de verbas e alinhamento estratégico, o PRR, as apostas têm sido, e bem, sectoriais, mas sem um alinhamento ou integração central”, considera o partner e líder da área do sector público da EY, Miguel Amado. Para atingir o sucesso, será precisa “uma abordagem centrada no ser humano e uma capacitação contínua dos funcionários públicos” além de uma “literacia digital abrangente a todos os cidadãos”. Segundo Miguel Agrochão, vogal no Instituto Nacional de Administração, “as evoluções recentes da IA generativa aliada à evolução da capacidade de tratamento e armazenamento de dados permitirá robustecer sucessivamente a tomada de decisão informada aos diferentes níveis de intervenção pública”.

Lino Santos, coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança, afirma que o “santo graal” da utilização de IA em segurança digital é “a deteção imediata de um ataque antes de sentir qualquer impacto”, mas a aposta está a ser feita em “pequenos ganhos”, porque “a introdução de tecnologias disruptivas tem que ser acompanhada por um processo de gestão de mudança”. Claro que “uma coisa é ter uma ferramenta no meu telemóvel, outra é tomar decisões com base em ferramentas destas”, atira o presidente da Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, César Pestana, para recordar que “há sempre riscos associados”, o que não significa que estejamos “na véspera de uma tomada de poder pelas máquinas”.

O que diz o explicador

“A IA alimenta-se dos dados que tem disponíveis. Quando não tem, faz como o ser humano, inventa. Chamam-se alucinações”

Miguel Amado
Partner e líder da área do sector público da EY


O que diz o agitador

“É importante as entidades do Estado falarem entre si e nem sempre isso tem acontecido. Não é o governo A ou B. É o Estado, ponto”

Margarida Balseiro Lopes
Ministra da Juventude e Modernização

O impacto da IA nas grandes apostas do Estado

Uma das faces mais visíveis da influência crescente da inteligência artificial na administração pública são os assistentes digitais IA para automatizar tarefas repetitivas e administrativas, como processamento de documentos, análise de dados ou respostas a consultas de cidadãos.

A aplicação das ferramentas de IA oferece também a capacidade de aproveitar os muitos dados produzidos diariamente pelos cidadãos, através do desenvolvimento de algoritmos cada vez mais sofisticados para acelerar processos e até antecipar eventos.

O serviço ao cidadão torna-se mais eficiente, mais conveniente e mais personalizado, com soluções mais rápidas para problemas que antes eram morosos.

Já se utiliza IA na identificação de fraudes ou na má utilização de recursos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

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