Já há quilómetros cumpridos, mas caminho está longe do fim
O evento contou com 23 stands, um espaço onde se realizaram workshops para crianças e duas áreas para rastreios (diabetes e cancro de mama)
Visões. Especialistas defendem que, apesar da evolução que se tem registado na sustentabilidade, o comportamento das pessoas tem de continuar a mudar. A mensagem é clara: tudo começa na responsabilidade de cada um
Há pessoas que aproveitam a calada da noite para abandonar em plena rua grandes eletrodomésticos em vez de informar uma das entidades respetivas para recolher os aparelhos ou entregá-los num local para isso destinado. Destes ‘pontapés’ na reciclagem e sustentabilidade há exemplos vários. Como aquele casal que não quer nem saber de uma coisa tão simples como separar o lixo em casa, ou mesmo aquele sujeito mal formado que saciou a sede numa viagem de barco para ver os golfinhos e, no fim, atirou a garrafa para o oceano.
“De facto é um estigma que existe e alguma diabolização que ocorre relativamente ao material de plástico e cabe-nos, enquanto indústria, promover e desmistificar tudo o que se diz. A poluição plástica é algo que existe, a própria indústria o reconhece, embora o contributo da Europa para esse problema seja diminuto, fruto de toda a regulamentação que existe, esquemas e sistemas de tratamento. O problema está em países em desenvolvimento nos quais esses sistemas não existem. Mas é um problema global. Cabe-nos também ajudar esses países a resolver o problema”, diz Nuno Aguiar, diretor técnico da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP), um dos vários especialistas que participou no projeto “Visões de Futuro — Rumo à Sustentabilidade”, organizado pela Deco Proteste e que contou com o Expresso como media partner.
Excessiva burocracia e conservadorismo
Carlos Lobo, outro dos oradores, professor e comentador político, deixa algumas críticas. “Portugal tem sido um bom aluno, tem feito o seu caminho, mas pode fazer muito melhor, não só em termos de oportunidades que dispõe, quer ao nível da velocidade da própria adaptação”.
“Portugal é abençoado ao nível da sua posição geográfica, das suas capacidades endógenas, tem sol, vento, mar, água, tem toda a capacidade para, nas novas fontes de energia, e nas novas regras de crescimento verde, atrair empresas. Porém, tem um problema grave, típico do nosso país, que é uma excessiva burocracia e excessivo conservadorismo nas apreciações e adaptações burocráticas dos serviços”, afirma.
Carlos Lobo defende que “os agentes económicos estão a querer acelerar, mas o Estado não está a acompanhar o que os agentes económicos pretendem. Não por questões de agendas escondidas ou bloqueios burocráticos, mas por desconhecimento. Ou seja, há uma diferente velocidade da adaptação das estruturas públicas relativamente aos movimentos privados”, afirma.
O antigo secretário de Estado aponta caminhos. “Temos de lutar contra isso. Há muito trabalho a fazer, nomeadamente ao nível da desburocratização e da confiança. Os agentes têm de confiar mais uns nos outros”. Carlos Lobo pede, por isso, “bom senso, ponderação e visão holística, tendo em consideração o crescimento que queremos sustentável”.
Gestos, civismo e cidadania
A palavra sustentabilidade foi a mais vezes repetida nos dois dias das “Visões de Futuro” e ficou claro que a mesma depende, primeiro, dos atos e atitudes de cada um, “de civismo e cidadania”, como defendeu João Dias, um dos participantes.
O presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, não participou em qualquer debate no evento, mas visitou o espaço. “O que fazer para ter uma sociedade mais sustentável? É preciso mudar os hábitos das pessoas, adotar práticas ambientalmente corretas, evitar o desperdício, fazer o aproveitamento dos resíduos, reciclar, fazer a chamada economia circular, adotar as medidas que sejam condizentes para um melhor aproveitamento dos nossos recursos”. O autarca acrescenta que “estamos no domínio do comportamento das pessoas” mas também das entidades: “Um município, por exemplo, pode fazer muito pela sustentabilidade, seja o ambiente, a plantação de árvores, a utilização energética, a intervenção na recuperação de prédios reutilizando materiais, aproveitando os que seriam desperdiçados”, afirma.
65
por cento das embalagens colocadas no mercado devem ser recicladas até final de 2025. É este o objetivo definido pela UE para os Estados-membros
No encontro apontaram-se aspetos positivos e negativos relativamente a esta matéria, destacou-se o trabalho feito e o que há a fazer. Ana Carreto, diretora de relações externas do Mercadona, que foi igualmente oradora no evento, deu o exemplo de boas práticas da sua empresa: os preços dos produtos são menores quando se aproxima o final do prazo de validade, enquanto os excessos são doados a instituições IPSS próximas da área de cada loja, evitando, dessa maneira, o desperdício.
Em sentido contrário, no caso dos aparelhos elétricos reconheceu-se a dificuldade dos consumidores os entregarem nos locais adequados. Rosa Monforte, country general manager da European Recycling Platform, que também participou num dos painéis das “Visões do Futuro”, lamentou que boa parte das pessoas continue a guardar os pequenos aparelhos avariados em casa. Defendeu que “é preciso estar mais perto” dos consumidores, “mas o primeiro passo é dado por cada um de nós”, reforçou.
João Ribeiro, country manager da Deco Proteste, destaca no evento o “sentido para a ação, o fazer acontecer. Falou-se em vários painéis sobre a importância do fazer acontecer, a importância do eu, aquilo que cada um de nós tem de contribuir para esta mudança. A sustentabilidade começa em cada um de nós, reflete comportamentos e uma ação comum. E isso é que vai fazer a diferença”.
Metas da ONU até 2030
Objetivos interligados e devem ser trabalhados de forma conjunta para a promoção do desenvolvimento sustentável social, económica e ambiental