5G para todos até 2030 “é possível”

Futuro. Em Portugal, infraestrutura e bons exemplos existem, mas falta mais financiamento para aumentar soluções com impacto real. Reforçar parcerias e investigação é o caminho a trilhar
Futuro. Em Portugal, infraestrutura e bons exemplos existem, mas falta mais financiamento para aumentar soluções com impacto real. Reforçar parcerias e investigação é o caminho a trilhar
Fotojornalista
Um anúncio da operadora italiana TIM Mobile de 2018 apresentava um cenário futurista, no qual um médico apoiava uma cirurgia de urgência, através de realidade aumentada e de uma ligação 5G, enquanto participava no casamento da filha. Há seis anos a tecnologia não permitiria concretizar esta imagem, mas atualmente tal já é possível.
A Fundação Champalimaud realizou, em 2022, a primeira cirurgia remota de cancro da mama com 5G. A doente de 55 anos estava no bloco operatório, em Belém, acompanhada pelo cirurgião Pedro Gouveia, que foi assistido em tempo real a partir do Congresso da Associação Espanhola dos Cirurgiões da Mama, na Faculdade de Medicina de Zaragoza, pelo cirurgião Rogelio Andrès-Luna. “Foi um sucesso, apesar das dificuldades prévias de garantir o acesso de cabos 5G ao bloco operatório”, revela o responsável pela Unidade da Mama no Centro Champalimaud, que marcou presença na 11ª Conferência da ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações).
Apesar do sucesso da experiência e do financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para parte do projeto MetaBreast — um dos que integra a Agenda Mobilizadora ‘Health from Portugal’, constituída por mais de 90 entidades públicas e privadas —, o cirurgião e investigador acredita que o mercado “ainda não está preparado para adotar a tecnologia 5G em larga escala nos blocos cirúrgicos, que são espaços estanques e com características muito específicas”. Na sua perspetiva, “estamos numa fase de imaturidade” pelo que “é necessário reforçar a investigação e criar mais parcerias para ultrapassar as dificuldades”.
Mecanismo Interligar a Europa — Digital dispõe de um orçamento de quase €2000 milhões para soluções 5G
Ainda assim, são estes pequenos passos que aos poucos demonstram o impacto do 5G na economia e na vida das pessoas. E este foi também o mote para esta conferência anual que sob o tema ‘5G em ação’ trouxe a palco mais de três dezenas de soluções em piloto ou fase inicial de implementação. “O consumidor apenas terá a perceção da importância do 5G através dos serviços e soluções lançados”, sublinha Filipe Martins, da APDL — Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo SA, que falou sobre as oportunidades da utilização do 5G nas atividades portuárias. “A infraestrutura está lá, mas é preciso casar oferta e procura”, reforça Hugo Pinto, partner da Deloitte Portugal.
No entanto, a instalação da infraestrutura necessária avança a diferentes velocidades na Europa e, sem ela, não existem soluções que explorem conceitos para testar a sua aplicabilidade, afirma Jan Dröge. O responsável pelo Broadband Competence Office (BCO) — rede de competência de banda larga criada em 2020 para acelerar a adoção do 5G nos Estados-membros — explicou que a Europa precisa de acelerar a criação de infraestrutura 5G para cumprir com as metas definidas. Estes objetivos previam que, em 2025, todos os lares tivessem acesso a velocidades de 100Mbps e que em cinco anos fosse de 1Gbps. “Este é um grande desafio para todos os países, porque a maior parte ainda tem poucos utilizadores, mas é possível atingir a meta para 2030 com a ajuda dos diferentes parceiros que compõem o BCO” e de outros programas de financiamento comunitários disponíveis, acrescenta.
Entre os mais relevantes, destaque para o Mecanismo Interligar a Europa — Digital, que dispõe de um orçamento de cerca de €2000 milhões para apoiar projetos de criação de infraestruturas, corredores 5G, e comunidades smart até 75% do seu valor global. Em simultâneo, os ramos do BCO (que interligam todos os países da UE) continuam a trabalhar em conjunto para melhorar o serviço 5G em zonas remotas sem interferir com os investimentos privados. “Portugal é um dos países no bom caminho, como mostram estas apresentações”, conclui Jan Dröge.
Tornar os negócios mais eficientes, o planeta mais protegido e facilitar a vida é o propósito destas soluções em marcha
Eficiência Otimizar cadeia de valor reduz custos na fatura para consumidores
Sustentabilidade Produção de energia ‘limpa’ com menos impacto ambiental
Manutenção Antecipação de avarias para evitar quebras no fornecimento
Emergência Ambulâncias ligadas a hospitais para maior rapidez de informação clínica
Telemedicina Monitorizar e dar qualidade de vida a doentes crónicos e melhores diagnósticos
Custos Melhor triagem à distância evita sobrecarga das urgências hospitalares
Território Gestão de transportes públicos, de tráfego, e identificação de pontos de acidentes
Serviços Comunicação entre cidadão e administração pública mais rápida e eficiente
Qualidade de vida Cidade dos 15 minutos em todas as zonas urbanas
Segurança Serviços de proximidade através das forças de segurança
Proteção Catástrofes e emergências com resposta mais rápida
Mar Patrulhamento da zona exclusiva nacional através de pontos de monitorização
Fabrico Testar antes de produzir com recurso a provas de conceito digitais
Digital Reproduzir a realidade para melhorar e adaptar unidades industriais
Monitorizar Acompanhar produção em tempo real para antecipar avarias
Drones Utilização para entregas ou vigilância
Dados Permitem planear mobilidade urbana e suportar futuros veículos autónomos
Aeronáutica Satélites para identificar problemas na Terra e gerar soluções mais eficientes
Oceanos Rastreio da poluição marítima e apoio a animais ou pessoas em dificuldades
Pesca Gestão de recursos mais eficiente e rastreabilidade da origem
Biodiversidade Monitorização inteligente de florestas e de zonas protegidas
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt