Competição. Em novembro, a melhor ideia de negócio escolhida por um júri nacional vai representar o país num frente a frente que junta empreendedores de 24 nações. Oportunidade única para a captação do que mais falta: investimento
Francisco de Almeida Fernandes
Jornalista
O mercado de financiamento de startups parece estar com mais oxigénio no primeiro semestre deste ano — só durante os primeiros seis meses Portugal já conta com €284 milhões angariados por empresas ou fundadores portugueses. De acordo com os dados da Dealroom, o número é já superior ao registado em 2023 (€198 milhões), mas ainda muito longe dos valores movimentados em 2022 (€942 milhões) e 2021 (€1500 milhões). A dimensão do país é uma limitação para maiores investimentos. “Preparámos bem o país para acolher as startups numa fase inicial de vida, mas após o seu desenvolvimento não conseguimos trazer esse benefício para cá, sobretudo por ausência de mercado de capitais”, lamenta Filipa Alarcão, especialista de gestão de investimentos na Horizon Equity Partners.
Os empreendedores conhecem bem esta realidade e sabem que todas as oportunidades para mostrar o seu projeto podem ser douradas, mais ainda se isso significar subir ao palco da Web Summit Lisboa. Que o diga a Musiversal, plataforma de criação e produção musical que venceu a fase nacional da Global Tech Innovator (GTI) em 2022 e teve oportunidade de estar na cimeira tecnológica para se apresentar ao mundo. “Pouco depois do nosso pitch na competição, fomos capazes de fechar a nossa ronda de investimento inicial”, recorda o cofundador Xavier Jameson, que considera que a participação “reforçou a credibilidade” do negócio perante os investidores.
Graças a esse investimento, a plataforma conseguiu lançar, meses mais tarde, o primeiro serviço de subscrição, que, um ano depois, está a gerar €1,5 milhões em receitas anuais recorrentes. “Estamos a crescer mais de 15% todos os meses”, assegura. No início do mês, a Musiversal anunciou nova ronda de investimento de €2,8 milhões e planeia triplicar o número de subscritores para três mil, o que significa chegar às 18 mil sessões musicais mensais. “A Musiversal tem crescido cerca de 300% por ano”, acrescenta o CEO e cofundador André Miranda.
Experiências semelhantes tiveram os vencedores nacionais de outras edições, como a Defined.ai, liderada por Daniela Braga, que coordena um dos maiores consórcios internacionais de inteligência artificial (IA) e tem hoje escritórios em Seattle, Lisboa e Porto. “Esse reconhecimento fortaleceu a nossa presença e credibilidade no mercado”, aponta Teresa Andrade. A diretora financeira sublinha que “a capacidade de nos adaptarmos rapidamente é fundamental para o sucesso” e a melhor dica que pode deixar aos empreendedores que se submetem este ano ao escrutínio da competição promovida pela KPMG.
“O maior conselho que podemos dar é que apresentem uma solução verdadeiramente inovadora e capaz de causar impacto no mercado e na economia”, sugere o vencedor do ano passado, Jon Fath. O CEO e fundador da Rauva, uma fintech que quer desburocratizar a gestão das empresas, não tem dúvidas de que a participação no GTI e na Web Summit Lisboa “abriu oportunidades” apenas quatro meses depois de ter sido lançada no mercado. De lá para cá, a Rauva adquiriu a licença bancária do banco de empresas do Montepio por €35 milhões e tem já cerca de 60 colaboradores.
Filipa Alarcão, que integra pela primeira vez o júri da fase nacional da competição (ver caixa), vê a iniciativa como “um acelerador de inovação” que inspira outros empreendedores a avançar com as suas ideias. “Espero que surjam ideias disruptivas, inovadoras e bem fundamentadas que nos faça a nós, Portugal, orgulhar da candidatura que levaremos à fase seguinte”, diz.
Números vencedores
€2,8
milhões angariados pela Musiversal, que ganhou em 2022, em recente financiamento. Triplicou subscritores
€80
milhões conquistados pela Defined.ai, que venceu em 2021, em investimento para desenhar ferramentas de inteligência artificial do futuro
10.000
são as empresas que a Rauva espera ter como clientes até dezembro. Ganhou o GTI nacional em 2023
Startups A quarta edição do KPMG Enterprise Tech Innovator Portugal procura um projeto inovador com potencial para se tornar um gigante tecnológico. Os vencedores anteriores atuam no campo da inteligência artificial, da música e das finanças
Finalistas Serão conhecidos no final deste mês, depois de uma seleção criteriosa por um painel de jurados que inclui personalidades ligadas ao empreendedorismo, à academia e à tecnologia. Anúncio está previsto para dia 22
Vencedor Após a fase final do Tech Innovator Portugal, o empreendedor que sair vitorioso vai representar Portugal numa exigente e competitiva final internacional que juntará 24 países em novembro
Web Summit Vencedores de cada país vão subir ao palco da cimeira tecnológica para disputar o primeiro lugar. Os finalistas vão integrar uma rede internacional de empreendedores onde podem partilhar ideias e estabelecer parcerias
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