Bruno Oberle, Helen Roy e Marco Ree no painel sobre pessoas e natureza. “É preciso reduzir em 50% as espécies invasoras”, alertou a ecologista
Mão humana. É responsável por problemas climáticos, mas é também parte da solução para um mundo melhor. Tecnologia é a ferramenta para acelerar a mudança, para garantir educação mais inclusiva e para desenvolver cidades mais sustentáveis
Em todo o mundo, existem mais de 37 mil espécies invasoras, entre animais, plantas e outros microrganismos, introduzidos pela ação humana. Destes, 80% têm impacto negativo nas pessoas e são responsáveis por 60% da extinção global de espécies. Só em 2019, o custo mundial das invasões biológicas foi superior a 423 milhões de dólares. E, ainda mais preocupante é a presença de mais de 2300 destas espécies invasoras em territórios indígenas.
Os dados foram revelados por Helen Roy, ecologista no Centro de Ecologia e Hidrologia da Universidade de Exeter, no Reino Unido, que alerta ainda para a rápida proliferação destas ameaças que pode crescer um terço até 2050 se nada for feito. “Estas invasões estão a interagir com outros problemas climáticos, como os fogos selvagens, e os riscos estão a aumentar”, avisou na cimeira Digital With Purpose (DWP), que decorreu esta semana no Centro de Congressos do Estoril. A boa notícia? “São as pessoas que, após criarem o problema, estão no centro da solução”, disse.
A biodiversidade foi um dos três temas centrais da 3ª edição do DWP, que tem por missão demonstrar a relevância da tecnologia na aceleração e na concretização de soluções digitais que permitam cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU até 2030. E esta é igualmente a área que, nas palavras de Helena Freitas, professora e investigadora na Universidade de Coimbra, está subjacente e transversal aos outros dois temas — educação e cidades inteligentes —, e é também “o que mais beneficia de um cruzamento forte com a agenda digital”. A verdade é que, refere a investigadora, sem biodiversidade, sem uma agricultura cuidada e sustentável, a espécie humana ficará ainda mais em risco, e as desigualdades entre os países mais e os menos desenvolvidos continuará a agravar-se. “Vivemos num momento perigoso, mas acredito que a perceção das comunidades sobre a necessidade de mudar está a crescer”, salientou.
Educar para a vida real
A educação tem o seu papel, uma vez que é da formação adequada das gerações futuras que depende a continuidade da aposta na sustentabilidade e no equilíbrio do planeta. Mas, uma vez mais, ficou bem patente a insatisfação generalizada sobre a desadequação das metodologias de ensino. “Falta uma preparação digital de muitos professores, essencial para a introdução de tecnologias que ajudam a tirar partido do conhecimento”, apontou Willem Schoors, project manager da EmpowerED, plataforma de ensino que ajuda os estudantes a atingir o seu potencial.
“Nós somos natureza, essa é a mensagem principal. Perdemos a ligação à natureza e é fundamental perceber que fazemos parte dela”, afirmou Helena Freitas, professora e investigadora na Universidade de Coimbra
O fosso digital continua igualmente a ser um problema difícil de resolver. O acesso à internet, fundamental para reduzir as desigualdades, está longe de ser uma realidade, como ilustrou o diretor da Divisão de Inovação e Futuro do Ensino da UNESCO, Sobhi Tawil. “Se 85% ou 90% dos jovens têm ligação à internet em casa na Europa Ocidental e na América do Norte, esse valor pode ser menos de 10% entre jovens de países mais pobres.” Uma questão que necessita de vontade global para acelerar a mudança. Na perspetiva de Sobhi cabe ao chamado “norte global” (conjunto de países mais desenvolvidos) ajudar o “sul global” a desenvolver soluções tecnológicas que permitam reduzir estas diferenças. As tecnologias podem ajudar-nos a fazer as coisas de forma diferente e a “resolver não apenas a falta de acesso à educação, mas também os desafios do abandono escolar”. Contudo, este é um trabalho que, nas suas palavras, se faz com vontade política, partilha de experiências e financiamento.
Cidades para todos
A urgência na transição energética e climática está a contribuir para a perceção de criar cidades mais sustentáveis, eficientes e “amigas” das pessoas. Também aqui, o digital é crucial e, como refere Giorgia Rambelli, “não é apenas uma ferramenta para fazer as nossas cidades mais inteligentes no futuro, mas também para fazê-las mais sustentáveis”. Na opinião da diretora da Urban Transitions Mission — projeto lançado na COP26 em 2021 para capacitar as cidades em todo o mundo para a descarbonização através de um trabalho em rede —, o digital pode ser o grande motor para a descarbonização.
Mas, além deste propósito, a utilização da tecnologia nas cidades permite igualmente resolver problemas sociais (transportes, habitação, etc.), com impacto económico. O 5G, por exemplo, é uma ferramenta essencial, como refere Massamba Thioye. A par com os dados, a conectividade é a base para melhorar serviços, gerir recursos de forma mais eficiente e criar melhores infraestruturas, defende o responsável pelos projetos do Global Innovation Hub da ONU.
Os premiados da DWP
Digital with Purpose Award 2024
A solução de IA da Huawei O primeiro sistema de triagem de salmões baseado em inteligência artificial do mundo, desenvolvido pela Huawei, foi implementado em dois rios naturais na Noruega e ganhou a grande distinção dos prémios DWP.
Biodiversity Award
A solução de IA da Huawei Foi premiada numa segunda categoria pelo trabalho manual para isolar salmões-rosa, espécie invasora que ameaça sobrepor-se ao salmão-do-atlântico selvagem e a outras espécies de peixes nativas.
Education Award
Plataforma UBBU Concebida pela Unicorn Treasure e destinada a crianças dos 6 aos 12 anos para aprenderem informática e desenvolverem a literacia digital através da gamificação.
Smart Cities Award
MyCharge Rede de carregamento integrada para os proprietários de carros elétricos, da Taiwan Mobile. Simplifica o processo de pagamento e melhora a experiência do cliente.