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Secretário da Educação diz que há falhas “inaceitáveis” no ensino

Começa a ser normal os alunos queixarem-se da falta de professores no início de cada ano letivo
Começa a ser normal os alunos queixarem-se da falta de professores no início de cada ano letivo
Tiago Miranda

Cultura e identidade. Reflexão em Aveiro permitiu falar-se de inclusão, cidadania e mobilidade social. Alexandre Homem Cristo aproveitou a reunião para pedir a colaboração “de todos” para resolver os problemas na pasta que tutela

Educação foi um dos temas em destaque na conferência “Cultura e Identidade” e Alexandre Homem Cristo, secretário de Estado que tutela a pasta do ensino, não teve papas na língua: “Continuo sem perceber porque é que o sistema de matrículas online cracha de dois em dois dias. Isso é inaceitável. Tal como não é aceitável que os alunos cheguem às salas de aula e não tenham professores, que não se reconheça o esforço dos professores, que o ensino se esteja a deteriorar e que se ache normal que tantos alunos fiquem para trás”, apontou o governante, que responsabilizou “todos, pais, professores e diretores” no sentido de se encontrar soluções para resolver os problemas.

Ao mesmo tempo que defendia no evento — organizado pela Câmara Municipal de Aveiro e que contou com o Expresso como media partner — que “a nossa identidade, como parte da sociedade, começa nas escolas”, Homem Cristo realçava que se a educação falhar, falhamos todos: “Temos de remar para o mesmo lado, tragam soluções e nós cá estaremos. Este é o princípio de uma longa caminhada.” O secretário de Estado da Educação garante que apresentará soluções “dentro de 10 a 15 dias”.

A integração no ensino de jovens imigrantes é outra preocupação. “Constatamos que o número de alunos migrantes está a crescer de uma forma acelerada e isso dificulta o trabalho das escolas, que não estavam preparadas para esse crescimento, não tinham meios de apoio aos alunos nem estratégias instaladas.” O governante reconhece: “É uma prioridade nossa mexer nesse dossiê.” Já os professores “vão ter melhores ferramentas” para lidar com alunos imigrantes. “Estamos a falar de algum acompanhamento que os professores precisam. Têm responsabilidades na parte da aprendizagem, e queremos ajudá-los, mas vamos olhar também para outras partes. Isto não se resolve só a dar mais ferramentas aos professores, é preciso dar uma estratégia às escolas no seu todo para os alunos terem uma resposta eficaz, que possamos monitorizar e responder enquanto essa monitorização vai surgindo”, reforçou.

Integração de imigrantes “com grande facilidade”

Inserida no ciclo de debates da programação do Aveiro 2024 — Capital Portuguesa da Cultura, a conferência “Cultura e Identidade” decorreu esta semana (depois de “Cultura e Democracia” e antes de “Cultura e Sustentabilidade” e “Cultura e Tecnologia”). José Ribau Esteves, presidente da autarquia aveirense, destaca que a “cultura é um instrumento estratégico para o desenvolvimento, é uma aposta prioritária” e sente-se honrado por a cidade ter recebido o título de Capital Portuguesa da Cultura este ano.

Capital portuguesa em 2024. A conferência “Cultura e Identidade”, que decorreu em Aveiro e teve duas mesas redondas, serviu para uma reflexão na procura de soluções, perspetivas e abordagens tanto na região como no país. A cidade é a Capital Portuguesa da Cultura em 2024 Foto Rui Farinha/NFactos

O autarca elenca “dois dos principais desafios” que esta década nos trouxe: “Tem a ver com os imigrantes e os turistas. Não tínhamos fluxos migratórios relevantes há dez anos e o crescimento foi brutal após a pandemia”. José Ribau Esteves congratula-se com a integração das comunidades imigrantes: “Em Aveiro está a ser feita com grande facilidade, quer nas escolas quer no mercado de trabalho. E hoje uma percentagem relevante dos apoios sociais que a câmara dá é à comunidade imigrante. Faz parte do processo de integração. Procuramos cuidar bem. Não há guetos. A integração tem sido equilibrada na relação com os residentes”, acrescentou. Quanto ao turismo, “é um crescimento brutal e vai continuar. De 30 camas há 10 anos passámos para 2600”.

A importância de envolver jovens nas iniciativas culturais

A conferência teve duas mesas redondas. A primeira foi dedicada à ‘Inclusão e Cidadania’. Participaram Teresa Grancho (vereadora e presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Aveiro) e José Pina (coordenador do Aveiro 2024), que defendeu que “é importante envolver os jovens nas iniciativas culturais”. Já Teresa Grancho classificou de “desafio permanente” o querer acolher bem e encontrar soluções para os imigrantes.

‘Educação e Mobilidade Social’ foram as temáticas do segundo debate que contou com a participação de Rui Costa (diretor de Recursos e Projetos Especiais da Fundação Serralves) e Mónica Vieira (coordenadora da Iniciativa Educação, da Fundação Francisco Manuel dos Santos). Ambos aplaudiram o facto do número de alunos ter crescido nos últimos anos, “mas agora há o desafio da qualidade na educação”, anotou Mónica Vieira, que considerou a literacia fundamental “para os alunos conseguirem outro nível de aprendizagem” e que é decisivo “combater as desigualdades”. A inteligência artificial foi abordada e Rui Costa foi claro: “É algo inevitável e pretende-se que melhore a nossa vida, com todos os riscos que tem.”

Identidades em Aveiro

16.000

é o número estimado de imigrantes que vivem, neste momento, em Aveiro, provenientes do Brasil (é a comunidade mais numerosa), Ucrânia e várias nações africanas e que já representam 12,7% da população total da cidade


54

são os “aveirenses ilustres” que a autarquia destaca no site oficial, entre eles Eça de Queirós, Egas Moniz ou Zeca Afonso


1881

foi o ano da inauguração do Teatro Aveirense, mais concretamente no dia 5 de março — a casa-mãe da cultura da cidade tem 143 anos

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