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Ministra da Saúde defende que “o maior desafio” do SNS é atrair e vincular os profissionais

Ana Paula Martins defendeu importância de assegurar o acesso aos cuidados de saúde, em especial aos doentes oncológicos
Ana Paula Martins defendeu importância de assegurar o acesso aos cuidados de saúde, em especial aos doentes oncológicos
Matilde Fieschi
Ana Paula Martins falou ainda na importância de “rentabilizar os recursos” existentes para assegurar o acesso dos doentes. A responsável participou na apresentação do Índice de Saúde Sustentável, organizada pela AbbVie e a que o Expresso se associou como media partner, que decorreu esta manhã em Lisboa
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São “muito poucos” os indicadores disponíveis sobre “o que os nossos doentes sentem quando acedem aos nossos cuidados de saúde”, considera a ministra da tutela, Ana Paula Martins, que sublinhou esta manhã a importância de medir resultados neste sector. A responsável, que participou na sessão de apresentação do Índice de Saúde Sustentável, defende, porém, que “o maior desafio [do SNS] é, sem dúvida, conseguir motivar, captar, atrair, vincular os recursos humanos”.

Na ótica do governo, aumentar a atratividade da profissão para médicos, enfermeiros e outros profissionais permitirá endereçar outros problemas já diagnosticados e que o novo Plano de Emergência e Transformação na Saúde pretende resolver – entre eles, o número de utentes com tempos máximos de espera ultrapassados, em particular na oncologia. “Não os [utentes] podemos deixar sem ter acesso à saúde. Temos de encontrar formas de o fazer”, disse ainda, em referência à colaboração com os sectores social e privado.

Eurico Castro Alves (ex-secretário de Estado da Saúde), Adalberto Campos Fernandes (ex-ministro da Saúde) e Pedro Simões Coelho (Nova IMS) participaram na análise aos resultados do estudo, numa conversa moderada por Paulo Baldaia
Matilde Fieschi

A apresentação do estudo anual Índice de Saúde Sustentável decorreu esta manhã no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e contou ainda com a presença do presidente da República que fez questão de assinalar a “qualidade reconhecida, a confiança criada e mantida e sustentada” dos portugueses em relação ao SNS. O documento, que resulta de uma parceria entre a AbbVie e a Nova IMS, mostra que é a qualidade dos profissionais de saúde e da informação que prestam que dá à maioria dos utilizadores do sistema público a ideia de eficácia dos cuidados prestados. “O SNS é, para a sociedade em geral, um referencial de segurança e confiança”, destacou Marcelo Rebelo de Sousa, que lembrou, contudo, a importância de introduzir melhorias ao sistema. “Há caminho fazer na sustentabilidade”, apontou.

Conheça as principais conclusões da conferência Sustentabilidade em Saúde:

Mais despesa, menos produtividade

  • Pedro Simões Coelho, professor da Nova IMS e coordenador do estudo, destacou a subida de “cerca de 7%” no nível de despesa do SNS entre 2022 e 2023, enquanto a atividade cresceu pouco mais de 1%. “Desde 2018 que temos tido uma queda de produtividade”, apontou. Por outro lado, o défice caiu 59% no mesmo período.
No debate sobre inovação participaram (da esq. para a dir.) João Almeida Lopes (Apifarma), Rui Santos Ivo (Infarmed) e Elsa Frazão Mateus (EUPATI)
Matilde Fieschi
  • Os números ajudam a justificar que, à exceção dos anos diretamente impactados pela pandemia, 2023 tenha registado “o valor mais baixo de sempre” no estudo que é apresentado desde 2014. O valor de referência (100) caiu, nesta última edição, para 84,8 pontos.
  • Adalberto Campos Fernandes diz ser preciso “aprender com o que [o país] fez de mal e de bem no passado” para endereçar os atuais desafios do SNS e reconheceu a importância de implementar uma resposta urgente a esses problemas. “É verdade que o SNS precisa mesmo de um plano de emergência e não é por razões político-partidárias”, sublinhou, lembrando que o atual governo “tem muito trabalho pela frente”.
  • Eurico Castro Alves, antigo secretário de Estado da Saúde e um dos responsáveis pelo plano de emergência desenhado pelo governo, considera que “continuamos a ter um problema de acesso” à saúde em Portugal que importa resolver rapidamente. Mais do que aumentar o financiamento, defende uma melhor gestão dos recursos e mais criatividade “no sentido de inventar recursos”.

Lucie Perrin, diretora-geral da AbbVie, defendeu que "os ensaios clínicos são a oportunidade perfeita para atrair investimento e inovação para Portugal"
Matilde Fieschi
  • Para os dois especialistas, é fundamental alterar o funcionamento das urgências que são apontadas pelos utentes como um dos principais pontos fracos do SNS. Essa alteração pode ser feita, defendem, por via da aposta nas unidades de saúde familiares de tipo C (USF C). “É preciso aliviar esta pressão louca sobre os hospitais diferenciados”, afirma Campos Fernandes.

Há trabalho a fazer nos ensaios clínicos

  • O Índice de Saúde Sustentável acrescentou, este ano, a análise sobre os ensaios clínicos em Portugal e a perceção que a população tem sobre estas formas de investigação. “A perceção global é positiva. Três quartos destes indivíduos tem uma perspetiva positiva”, aponta Pedro Simões Coelho.
  • No entanto, é preciso aumentar o número destes ensaios em Portugal que continua a ser, no panorama internacional, pouco competitivo pela demora na avaliação dos pedidos de autorização. Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed, diz que a instituição precisa de mais recursos e orçamento para conseguir dar melhor resposta e, em consequência, garantir melhor acesso dos doentes aos medicamentos inovadores. “Devemos reduzir os prazos? Com certeza que sim”, considerou.
  • A posição merece concordância de João Almeida Lopes, presidente da Apifarma, e de Elsa Frazão Mateus, presidente da EUPATI, que consideram essencial dar mais autonomia ao Infarmed para que a inovação chegue mais rapidamente aos doentes. “Não podemos estar mais de acordo com o Dr Rui Ivo quando diz que queria ter autonomia e orçamento”, insistiu Almeida Lopes.
  • De acordo com o estudo, apenas 18,4% dos inquiridos diz não estar disponível para participar em ensaios clínicos, ao contrário de 28% das pessoas.

Sustentabilidade em Saúde

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