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Aumentar as exportações é “desígnio nacional” e condição para a sustentabilidade económica do país

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Esta terça-feira, o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões recebeu a conferência que marca a conclusão do projeto Portugal Export +60’30, uma iniciativa conjunta da Associação Empresarial de Portugal (AEP) e do Novo Banco, à qual o Expresso se associou como media partner. Depois de três meses de debate, empresários e entidades não governamentais apresentaram o fruto do seu trabalho, apontando bloqueios, mas também soluções

Inês de Almeida Fernandes (texto) e Fernando Veludo (fotos)

No início do século, as exportações representavam 28% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, mas a importância de ganhar escala, para uma pequena economia como a de Portugal, tornou-se evidente e estabeleceu-se que até 2027 as exportações passariam a representar metade do PIB. A meta acabou por ser cumprida em 2022, mas o patamar dos 50% não é de todo confortável, particularmente quando se pretende cada vez maior quantidade de exportações, com maior valor acrescentado e com crescente diversificação de mercados.

O novo objetivo é que em 2030 as exportações sejam 60% do PIB, mas para lá chegar urge reafirmar a importância da aposta na inovação e no capital humano, bem como a cooperação entre Estado e empresas deve imperar para cumprir objetivos e fazer crescer a economia. Até ao final da década, a que já só restam mais seis anos, há que assumir de corpo e alma "a missão das exportações, reforçando o apoio às empresas", afirmou Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, organização que, de resto, tem vindo a trabalhar junto dos empresários nos últimos quase 175 anos.

Ao longo da tarde desta terça-feira, a AEP promoveu uma vez mais o debate e a reflexão para incentivar os decisores políticos a olhar para as exportações com uma visão estratégica e de longo-prazo. Durante a conferência, intervieram Luis Miguel Ribeiro, presidente do conselho de administração da AEP; Andrés Baltar, administrador do Novo Banco; Ricardo Costa, diretor de Informação da SIC Noticias; João Neves, presidente executivo da Administração do Porto de Leixões; Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos; Paulo Vaz, administrador da AEP; Paula Arriscado, diretora corporativa de pessoas, marca e comunicação do Grupo Salvador Caetano; Jorge Portugal, presidente da COTEC; Sérgio Silva, CEO do Vigent Group; Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República (em vídeo); Alberto Castro, professor na Faculdade de Economia da Universidade Católica do Porto; João Mira Gomes, embaixador de Portugal em Madrid e José Manuel Fernandes, presidente do conselho geral da AEP. Conheça as principais conclusões apresentadas.

Os números e os desafios

  • Cumprir a meta dos 60% é possível, mas é preciso “alargar a base de empresas exportadoras”, explicou Paulo Vaz. Atualmente, são menos de 2% o total de empresas que contribuem com quase metade de todo o valor exportado.
  • A elevada concentração do valor exportado num número reduzido de empresas (cerca de 50 são responsáveis por praticamente ⅓) impede uma maior criação de valor, englobando mais empresas, incluindo as pequenas e médias empresas (PME).
  • A diversificação de mercados é um outro problema: 56% das exportações concentram-se em apenas quatro mercados, "sendo a Zona Euro o que apresenta peso mais expressivo", reforça Paulo Vaz.
  • A modernização e alargamento das infraestruturas é outra questão que impede o crescimento das exportações. João Neves, da APDL, fez questão de sublinhar o Porto de Leixões como "um dos grandes motores da economia" embora, apontou, não tenha crescido "um único metro quadrado" em área desde há 14 anos.
  • Alberto Castro, professor da Universidade Católica do Porto, destacou ainda a "paralisação e descontinuidade de políticas" como dois grandes "perigos", causadas particularmente pela interrupção dos ciclos políticos.

Jorge Portugal, presidente da COTEC, Paula Arriscado, diretora corporativa de pessoas, marca e comunicação do Grupo Salvador Caetano, Sérgio Silva, CEO do Vigent Group e Alberto Castro, professor na Faculdade de Economia da Universidade Católica do Porto, debateram as medidas mais urgentes
Fernando Veludo

Que caminho seguir?

  • Criar políticas públicas orientadas para a estimulação do tecido empresarial, sobretudo das PME. Pôr fim à “balcanização e lógica de desconexão” entre os incentivos a Investigação e Desenvolvimento (I&D) e as exportações, sublinhou Jorge Portugal.
  • Promover a crescente colaboração entre empresas e criar uma ponte sólida entre academia e tecido empresarial. Marcelo Rebelo de Sousa, que deixou uma mensagem em vídeo a todos os presentes, reforçou que a criação de valor é a chave para atrair e reter talento. No entanto, só com "mais inovação se consegue criar valor diferenciado", e o impulso para que as empresas inovem mais está também dependente da relação com academia.
  • Rever o regime fiscal para atrair e reter talento, incentivando os jovens portugueses altamente qualificados a ficar e a contribuir para recuperar produtividade. Portugal tem sido bom a exportar talento, cerca de 25% dos portugueses trabalham lá fora", afirmou Paula Arriscado, do Grupo Salvador Caetano. Contudo, no seu entender, é hora de trazer de volta o talento que fugiu e criar condições atrativas para o que cá fica, trabalhando a parte fiscal, mas também preparando "as lideranças do futuro" para a mudança na cultura de trabalho, que se deve tornar "mais humana".
  • Embora o debate tenha sido o "ponto de partida que só terminará com o sucesso em 2030", é preciso que Portugal se torne mais ambicioso. Quem o diz é José Manuel Fernandes, da AEP, referindo-se à meta dos 50% atingida em 2022: "se cumprimos a meta anos antes, é porque havia pouca ambição e porque Portugal pode mais".

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