Entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pelas Nações Unidas, três deles tocam no conceito de diversidade, equidade & inclusão no local de trabalho. A paridade de género é a métrica mais popular a ser avaliada para a classificação. Esta tarde, no edifício Impresa, foi apresentado um estudo da farmacêutica Merck que avaliava precisamente como as empresas alemãs a operar em Portugal refletem este conceito.
A maioria, cerca de 88%, tem nos cargos de chefia homens, apesar de as mulheres terem mais formação. A apresentação do estudo serviu de ponto de partida para uma mesa redonda e vários oradores, entre os quais Pedro Moura, diretor-geral da Merck Portugal; António Coutinho, investigador; João Almeida Lopes, presidente da Apifarma; Hong Chow, executive vice president da Merck; Margarida Alves, coutry business unit controller da Siemens; Dieter Neuhaeusser, board member and human resources organization director da Wolksvagen, Autoeuropa e; Teresa Manso, communication & continuous improvement director da DHL.
Estas foram as principais conclusões:
Estudo
Realizado a propósito dos 90 anos da farmacêutica Merck, em Portugal em parceria com a Câmara do Comércio Luso-Alemã, para avaliar a diversidade nas empresas alemãs em Portugal, o estudo revela que em 88% deste universo empresarial - num total de 25.000 - o top management continua a ser dominado pelos homens apesar, das mulheres terem maior grau de escolaridade, percentagem bem distante da defendida pela Estratégia para a Igualdade de Género da Comissão Europeia, que define uma representatividade mínima feminina de 40%. Os dados permitem ainda verificar que a faixa etária dos 56-65 anos é a que menos prioriza os conceitos de Diversidade, Equidade (71%), sendo os mais jovens (dos 35-45 anos) os que mais importância lhes dão (100% de prioridade). "Diversidade, equidade e inclusão não pode ser um "nice to have” mas sim um “must have”. Não podemos fechar os olhos às necessidades atuais e ao fazermos estes estudos e atuarmos internamente com os nossos colaboradores, estabelecendo metas, mostramos o quão empenhados estamos em fazer a diferença dentro da Merck", diz Pedro Moura.
Paridade
Quem olha para Hong Chow, percebe não apenas a importância da palavra diversidade, como o entusiasmo com que fala sobre diversidade, equidade e inclusão (DEI). Nascida na China, cresceu na Alemanha e afirma-se uma cidadã globalizada. "É um tema muito importante numa sociedade tão polarizada. Para mim, DEI significa também melhor relações profissionais. Ouvir opiniões diversas cria equipas mais criativas e com melhores resultados financeiros", afirmou. “Na Merck abraçamos esse compromisso: somos 38% de mulheres em cargos de top management, queremos chegar aos 50% em 2030. Os nossos CEO e CFO são mulheres”.
Cuidadores
"Temos 1,3 milhões de cuidadores informais e foi porque querer cuidar destas pessoas que criamos uma parceria", disse Pedro Moura, cuja missão, reforçou, "é não apenas melhorar a qualidade de vida dos doentes mas abrir o debate este debate aos cuidadores informais". A Merck tem desenvolvido um importante junto desta população, tendo realizado um inquérito, em 2023, com o apoio do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, para apresentar o estudo sobre a Saúde Mental e Bem-Estar nos Cuidadores Informais em Portugal. 83,3% admitiam ter-se sentido em estado de burnout/exaustão emocional em algum momento. Segundo um levantamento feito também no ano passado, estimava-se que Portugal existe um milhão de cuidadores informais, mas apenas 1643 eram reconhecidos pelo estatuto, e só 5480 recebiam subsídio de apoio.
Ciência
António Coutinho começou a sua comunicação com uma frase de antologia: "não há nenhum biólogo que não esteja apaixonado pela diversidade". "É a base estrutural da evolução mas sobretudo é a base da cooperação. Pessoas idênticas só competem, a diversidade é a base da evolução", disse o investigador. Sobre o assunto, o médico criticou o baixo investimento na indústria farmacêutica em Portugal: “hoje, metade do desenvolvimento é pago por esta indústria, mas o país investe apenas 1%”.
Longevidade
O progresso de um país também se mede pela longevidade dos seus habitantes. E, em Portugal, como notou João Almeida Lopes, há 100 anos a esperança média de vida rondava os 36 anos. "À nascença, hoje uma pessoa tem uma esperança de viver 81 anos em Portugal. E ao longo deste período é indiscutível o contributo das empresas farmacêuticas. Mas apesar do que se conquistou até agora, ainda há um longo caminho a percorrer. "Investimos em saúde 70% da média da UE e da OCDE. Estamos nem a 1,5% em termos de prevenção", afirmou Almeida Lopes.
Empresas
As multinacionais são as empresas que mais adotam a diversidade equidade e inclusão nas suas políticas de recursos humanos. Motivação, sentimento de pertença, produtividade, criatividade, os ganhos estão em vários planos. "Na Siemens trabalhamos este tópico há muitos anos. Temos movimentos feitos por colaboradores, que apresentam propostas de alterações à administração, disse Margarida Alves. "Há 30 anos numa empresa de engenharia havia maioritariamente homens. Hoje é totalmente diferente, encontramos muito mais mulheres nas universidades", acrescentou Dieter Neuhaeusser. Na DHL, disse Teresa Manso, incorporar este conceito "é natural" "Empregamos 600 mil pessoas em 200 países, temos mais de 170 nacionalidades no mesmo edifício. E por isso sempre foi algo habitual".
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