Água: que futuro?

Ana Baptista
Há três semanas, a propósito de uma entrega de prémios, um produtor antecipava ao Expresso que o preço do azeite - que subiu quase o dobro em 2023 - pode aumentar ainda mais este ano e que há mesmo o risco de escassez no verão. Tudo porque há falta de água. Ou, mais precisamente, porque Espanha - que é o maior produtor - entrou num período de grave seca e passou a produzir apenas um terço do que produzia.
Se havia dúvidas do peso e da relevância da água, elas dissiparam-se quando, nas prateleiras dos supermercados, uma garrafa de azeite de marca branca - por norma as mais baratas - passou dos cerca de €5 para uns €7 ou €8. De facto, nos países desenvolvidos, onde existem modernas redes de distribuição, a população em geral tende a dar importância à água quando ela falta na torneira. Esquecem-se, contudo, que se não houver água para a agricultura e para a indústria, o impacto rapidamente chega à saúde e à economia de um país.
Como não se pode fazer chover, a resposta dos governos de países em situações de seca extrema tem passado por uma gestão mais rigorosa dos consumos e pelo aumento dos preços. É isso que se passa em Portugal, em particular no Algarve, para onde foram anunciados cortes de 25% no fornecimento de água no sector agrícola e de 15% no sector urbano (que inclui o turismo), e com aumentos dos preços até 50%, tanto para consumidores domésticos (que inclui comércio e hotelaria) como para a indústria.
Parece muito, mas em declarações recentes ao Expresso, o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), António Pina explica que "o razoável de uma família é o segundo escalão [de consumo de água]. O terceiro já é alguém que tem jardim, que lave o carro à porta, que tem piscina. Acima disso é inconsciente, só quem tem uma grande piscina e um grande jardim”.
Outra resposta à falta de água são os investimentos. Os mais comuns têm sido na rede de distribuição e a portuguesa conheceu um franco desenvolvimento nos últimos 20 anos, mas fala-se cada vez mais em sistemas de captação das águas da chuva para a agricultura e indústria (porque também chove quando não é preciso); no tratamento e reutilização de águas sujas ou ainda na dessalinização.
Projetos “que têm de continuar a ser apoiados e reforçados” e para os quais “existem muitos apoios disponíveis, seja a nível dos fundos europeus e nacionais, seja através de financiamento bancário”, repara o administrador executivo do BPI, Pedro Barreto.
“No entanto, tem de existir um muito maior alinhamento estratégico da parte de todos - Estado, autarquias, empresas e particulares – para que não existam dúvidas em relação às prioridades de investimento, numa área determinante para o futuro de todos”, ressalvou.
25%
O investimento será, assim, um dos quatro temas principais do Fórum “O futuro da água” que o BPI organiza com o Expresso como media partner na próxima quinta-feira, 22 de fevereiro. Uma conferência onde se discutirão ainda exemplos de boas práticas, as políticas públicas, preços, gestão de consumos e as consequências sócio-económicas da escassez de água, tanto a nível internacional - pela economista Mariana Mazzucato - como a nível nacional - pelo ex-ministro do Ambiente do Governo de Passos Coelho e atual diretor-executivo da United Nations Office for Project Services (UNOPS), Jorge Moreira da Silva.
O Fórum terá, por isso, 16 oradores distribuídos por seis painéis de debate, a saber: A escassez de água; O presente e o futuro da água; Onde devemos investir?; Boas práticas a nível nacional; O que é prioritário? O preço deve subir? - e ainda um painel de conclusões, a cargo do ex-ministro da Defesa, Paulo Portas.
“Decidimos utilizar o nosso poder de convocatória para trazer, para a praça pública, a discussão positiva e alargada de quais devem ser as prioridades para o nosso país”, explicou Pedro Barreto, acrescentando que também a banca pode contribuir para a “participação ativa na discussão frequente e alargada deste tema, na sensibilização de todos para a urgência da mudança, no financiamento de projetos que contribuam para uma gestão mais eficiente da água e no destaque de bons exemplos que já existem em Portugal”, explicou Pedro Barreto.
Fórum: “O futuro da água"
O que é?
Uma conferência organizada pelo BPI com o Expresso como media partner para debater os problemas do abastecimento e da escassez de água
Quando, onde e a que horas?
Dia 22 de fevereiro de 2024, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, das 09h30 às 16h30.
Quem vai estar presente?
Porque é que este encontro é central?
Portugal tem 38% do território em seca meteorológica, com especial incidência no Algarve, uma situação que já levou a cortes no fornecimento de água e a um aumento significativo dos preços para os consumidores domésticos, onde se inclui o comércio e o turismo.
Onde posso seguir?
No site do Expresso e na antena da SIC Notícias, ao longo do dia da conferência, assim como nas edições impressas de 23 de fevereiro e de 1 de março.
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