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Água: que futuro?

As barragens do Algarve estão com os volumes de água a 25%, obrigando a planos de contingência para o ano inteiro
As barragens do Algarve estão com os volumes de água a 25%, obrigando a planos de contingência para o ano inteiro
LUÍS FORRA/LUSA
Vamos ter de falta de água? Vamos ter de racionar ou pagar mais? Conseguiremos transformar a água do mar em água para beber ou guardar a água da chuva? E quem vai investir nisto? Serão os contribuintes a pagar? Num momento de seca em Portugal, o BPI organizou uma conferência - que conta com o Expresso como media partner - para debater estes e outros temas

Ana Baptista

Há três semanas, a propósito de uma entrega de prémios, um produtor antecipava ao Expresso que o preço do azeite - que subiu quase o dobro em 2023 - pode aumentar ainda mais este ano e que há mesmo o risco de escassez no verão. Tudo porque há falta de água. Ou, mais precisamente, porque Espanha - que é o maior produtor - entrou num período de grave seca e passou a produzir apenas um terço do que produzia.

Se havia dúvidas do peso e da relevância da água, elas dissiparam-se quando, nas prateleiras dos supermercados, uma garrafa de azeite de marca branca - por norma as mais baratas - passou dos cerca de €5 para uns €7 ou €8. De facto, nos países desenvolvidos, onde existem modernas redes de distribuição, a população em geral tende a dar importância à água quando ela falta na torneira. Esquecem-se, contudo, que se não houver água para a agricultura e para a indústria, o impacto rapidamente chega à saúde e à economia de um país.

Como não se pode fazer chover, a resposta dos governos de países em situações de seca extrema tem passado por uma gestão mais rigorosa dos consumos e pelo aumento dos preços. É isso que se passa em Portugal, em particular no Algarve, para onde foram anunciados cortes de 25% no fornecimento de água no sector agrícola e de 15% no sector urbano (que inclui o turismo), e com aumentos dos preços até 50%, tanto para consumidores domésticos (que inclui comércio e hotelaria) como para a indústria.

Parece muito, mas em declarações recentes ao Expresso, o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), António Pina explica que "o razoável de uma família é o segundo escalão [de consumo de água]. O terceiro já é alguém que tem jardim, que lave o carro à porta, que tem piscina. Acima disso é inconsciente, só quem tem uma grande piscina e um grande jardim”.

Outra resposta à falta de água são os investimentos. Os mais comuns têm sido na rede de distribuição e a portuguesa conheceu um franco desenvolvimento nos últimos 20 anos, mas fala-se cada vez mais em sistemas de captação das águas da chuva para a agricultura e indústria (porque também chove quando não é preciso); no tratamento e reutilização de águas sujas ou ainda na dessalinização.

Projetos “que têm de continuar a ser apoiados e reforçados” e para os quais “existem muitos apoios disponíveis, seja a nível dos fundos europeus e nacionais, seja através de financiamento bancário”, repara o administrador executivo do BPI, Pedro Barreto.

“No entanto, tem de existir um muito maior alinhamento estratégico da parte de todos - Estado, autarquias, empresas e particulares – para que não existam dúvidas em relação às prioridades de investimento, numa área determinante para o futuro de todos”, ressalvou.

25%

foi o corte anunciado no fornecimento de água no sector agrícola no Algarve como resultado da situação da pressão sobre os recursos hídricos na região

O investimento será, assim, um dos quatro temas principais do Fórum “O futuro da água” que o BPI organiza com o Expresso como media partner na próxima quinta-feira, 22 de fevereiro. Uma conferência onde se discutirão ainda exemplos de boas práticas, as políticas públicas, preços, gestão de consumos e as consequências sócio-económicas da escassez de água, tanto a nível internacional - pela economista Mariana Mazzucato - como a nível nacional - pelo ex-ministro do Ambiente do Governo de Passos Coelho e atual diretor-executivo da United Nations Office for Project Services (UNOPS), Jorge Moreira da Silva.

O Fórum terá, por isso, 16 oradores distribuídos por seis painéis de debate, a saber: A escassez de água; O presente e o futuro da água; Onde devemos investir?; Boas práticas a nível nacional; O que é prioritário? O preço deve subir? - e ainda um painel de conclusões, a cargo do ex-ministro da Defesa, Paulo Portas.

“Decidimos utilizar o nosso poder de convocatória para trazer, para a praça pública, a discussão positiva e alargada de quais devem ser as prioridades para o nosso país”, explicou Pedro Barreto, acrescentando que também a banca pode contribuir para a “participação ativa na discussão frequente e alargada deste tema, na sensibilização de todos para a urgência da mudança, no financiamento de projetos que contribuam para uma gestão mais eficiente da água e no destaque de bons exemplos que já existem em Portugal”, explicou Pedro Barreto.

Fórum: “O futuro da água"

O que é?

Uma conferência organizada pelo BPI com o Expresso como media partner para debater os problemas do abastecimento e da escassez de água

Quando, onde e a que horas?

Dia 22 de fevereiro de 2024, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, das 09h30 às 16h30.

Quem vai estar presente?


  • Mariana Mazzucato, professora de Economics of Innovation and Public Value na UC London
  • Jorge Moreira da Silva, diretor-executivo United Nations Office for Project Services (UNOPS)
  • Inês dos Santos Costa, sócia da Deloitte
  • Álvaro Mendonça e Moura, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP)
  • Joaquim Poças Martins, professor de Hidráulica e Ambiente na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP)
  • João Mello, CEO da Bondalti
  • José Theotónio, CEO do Grupo Pestana
  • Alexandra Serra, administradora-executiva, Águas de Portugal
  • Pedro Siza Vieira, sócio na sociedade de advogados PLMJ e ex-ministro da Economia
  • Assunção Cristas, sócio na sociedade de advogados Vieira de Almeida e ex-ministra do Ambiente, Mar e Ordenamento
  • Dulce Pássaro, ex-ministra do Ambiente
  • José Eduardo Martins, sócio na Abreu Advogado
  • Pedro Perdigão, CEO da Indaqua
  • Ricardo Leão, presidente da Câmara Municipal de Loures
  • Paulo Portas, ex-ministro da Defesa

Porque é que este encontro é central?

Portugal tem 38% do território em seca meteorológica, com especial incidência no Algarve, uma situação que já levou a cortes no fornecimento de água e a um aumento significativo dos preços para os consumidores domésticos, onde se inclui o comércio e o turismo.

Onde posso seguir?

No site do Expresso e na antena da SIC Notícias, ao longo do dia da conferência, assim como nas edições impressas de 23 de fevereiro e de 1 de março.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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