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PME. O difícil equilíbrio entre o querer e o poder

A empresa O Melro — Frutas e Legumes produz e exporta pera-rocha e maçã de Alcobaça e importa frutas de caroço, entre outras. Trabalha o ano inteiro e já emprega cerca de 350 pessoas
A empresa O Melro — Frutas e Legumes produz e exporta pera-rocha e maçã de Alcobaça e importa frutas de caroço, entre outras. Trabalha o ano inteiro e já emprega cerca de 350 pessoas

Crescimento. As pequenas e médias empresas vencedoras dos prémios Expresso PME | Caixa TOP procuraram novos mercados e clientes, o que culminou em mais faturação e emprego num momento complexo do ponto de vista financeiro

PME. O difícil equilíbrio entre o querer e o poder

Ana Baptista

Jornalista

PME. O difícil equilíbrio entre o querer e o poder

Nuno Botelho

Fotojornalista

Por definição, uma pequena e média empresa (PME) — onde se incluem também as microempresas — tem, no máximo, 250 trabalhadores e uma faturação anual de €50 milhões, o que faz com que existam cerca de 1,4 milhões de PME em Portugal, as quais empregam 3,5 milhões de pessoas. Ora, se o tipo de emprego que criam não fosse sazonal, a O Melro — Frutas e Legumes já tinha deixado de ser uma PME. Desde 2022 que emprega 350 pessoas ao longo do ano, não só porque aumentou a produção e exportação de pera-rocha e maçã de Alcobaça, mas também porque começou a importar outras frutas, tendo agora “12 meses de trabalho” completos, conta o administrador, João Paula.

Na Fortiustex, uma empresa de confeção têxtil, passa-se mais ou menos o mesmo. No total, dão emprego a 300 pessoas, mas apenas 170 são trabalhadores diretos, o restante é outsourcing, diz o presidente do Conselho de Administração, José Teixeira. Ainda assim, o número de empregados próprios cresceu 15% em 2022, o ano a que diz respeito o prémio Expresso PME | Caixa TOP, que destaca as empresas que mais cresceram em volume de negócios e emprego. E a Fortiustex também cresceu em volume de negócios “mais 95%”, nota José Teixeira, porque angariaram “clientes novos”, para quem fabricam “peças de valor acrescentado”.

E por falar em clientes novos, foi também isso que fez a Mariano Ramos, uma empresa de transporte de madeira com 18 anos de vida e, maioritariamente, exportadora. “Na pandemia procurámos logo novos mercados e quando as coisas abriram desenvolvemo-nos muito”, conta o sócio-gerente, Sérgio Ramos. Foi de tal forma que em 2022 cresceram em volume de negócios e em emprego, tendo agora mais de 100 trabalhadores diretos. Na VLB o crescimento também foi rápido. Criada em 2015, “num curto espaço de tempo passa de meia dúzia para 120 colaboradores, todos jovens, entre os 20 e os 30 anos”, conta a diretora financeira, Tânia Pereira. E não foi tanto pelos novos clientes angariados, mas sim porque, “no mundo da metalomecânica, a VLB é um género de um alfaia­te, porque faz máquinas à medida”, explica.

A O Melro, a Fortiustex, a Mariano Ramos e a VLB são exemplos de PME que criaram emprego nos últimos três anos, em particular em 2022. E o mesmo aconteceu na JSC Engenharia, na Reload Consultoria Informática ou na Dreamplus, uma empresa de distribuição de produtos alimentares para restaurantes italianos.

Investir na melhoria das condições dos trabalhadores é atualmente uma das principais preocupações das empresas, pequenas e grandes

Mas é sempre uma batalha entre o querer e o poder. Porque crescer, inovar e contratar mais pessoas é um investimento. Mas, mesmo com o negócio a aumentar, as taxas de juro elevadas, a inflação ou os preços dos combustíveis e da energia tendem a afetar o resultado final.

Por isso é que a responsável de recursos humanos da Dreamplus, Sara Rodil, diz que o grande desafio das PME “é tentar equilibrar a parte financeira com a parte dos recursos”, porque é preciso “garantir que os colaboradores têm boas condições”. Aliás, acrescenta o presidente do Conselho de Administração da JSC Engenharia, Pedro Santos, “a única forma de aumentar a quantidade de recursos humanos é investindo mais neles, no seu bem-estar, segurança, saúde”. Esta é uma das soluções — se não a melhor — para contratar e reter mão de obra num momento em que ela é tão difícil de encontrar, principalmente com formação, repara José Teixeira, da Fortiustex.

Quando a inflação ajuda

Se para uns a subida dos preços dificulta o negócio, para outros é uma vantagem, mesmo que passageira. “O nosso crescimento tem a ver com o aumento do preço do azeite, mas não é real. Nós falamos em quilos de azeite em vez de litros, e há três anos vendia a €2,5 o quilo e agora vendo a €10. Este prémio [referente a 2022] é de azeite a €3,5 o quilo. Isto não me dá estabilidade. Devia haver um consenso a nível mundial, um preço médio acordado por um regulador”, considera o administrador da Lagar do Vale, Pedro Marques. Até porque os preços podem subir ainda mais este ano, admite. “Espanha é o ­maior produtor e, com estas alterações climáticas, estão em grave seca e a produzir apenas um terço do que produziam. Pode mesmo haver escassez de azeite este verão”, conclui.

DADOS DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

1,4

milhões era o número aproximado de PME em Portugal em 2022, segundo dados disponíveis na Pordata; destas, 1.396.335 são microempresas


99,9%

é quanto representam as PME no tecido empresarial português, não só em 2022, mas pelo menos desde 2004, quando começaram as estatísticas da Pordata


1300

é o número de grandes empresas em Portugal (com mais de 250 trabalhadores e com €50 milhões de faturação), segundo a Business Roundtable Portugal

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