Projetos Expresso

Os sonhos de quem quer “ser muita coisa”

Há tempo para estudar e brincar no novo espaço que alberga o TASSE
Há tempo para estudar e brincar no novo espaço que alberga o TASSE
Nuno Botelho
Crianças: dar condições para o desenvolvimento infantil em contextos muitas vezes adversos é o objetivo destas quatro associações para garantir igualdade de oportunidades. O Expresso é media partner do BPI//Fundação “la Caixa” para debater os desafios da solidariedade
Os sonhos de quem quer “ser muita coisa”

Tiago Oliveira

Jornalista

Todos os sonhos do mundo cabem em Alícia que desde outubro está no TASSE para os fazer cumprir: “Quero ser muita coisa”, atira sem rodeios. “Modelo, cantora, designer, esteticista”, tudo é possível para a rapariga de 13 anos que desde outubro é um dos 140 jovens entre os 6 e os 18 anos que fazem do TASSE a sua casa.

Trata-se de um projeto da Fundação Santa Rafaela Maria que foi criado em 2004 na Quinta da Fonte da Prata, na Moita, para apostar na melhoria da inclusão escolar e no aumento das competências e das oportunidades da população da comunidade onde está inserido. É às portas do bairro (“moro no último prédio” conta Alícia) que somos recebidos por crianças como Jefferson, com 12 anos. “Queres jogar?”, pergunta enquanto atira uma bola de râguebi. Chegou do Brasil com a família há dez anos, porque o pai “queria arranjar uma vida melhor” e foram as “dificuldades na escola” que o levaram a entrar no TASSE, onde faz “trabalhos de casa, tarefas no computador” e brinca com os colegas. Nos intervalos, joga futebol como ponta de lança no Moitense e assume que o seu sonho é esse mesmo: “Ser futebolista profissional.”

Quem partilha essa ambição é Melissa, de 10 anos, verdadeira assessora dos colegas que por vezes parece saber mais sobre eles do que os próprios. Atleta do Benfica (é destra e joga a lateral também à esquerda se for preciso) sem esquecer a importância dos estudos. Está “quase todos os dias” na associação com metas bem definidas: “Se não for futebolista, quero ser professora de Matemática, se não médica, se não cantora, se não polícia”. Também quer dar uma mão na reconstrução do palacete cujo terreno alberga as novas instalações do TASSE, e onde até já fizeram uma piscina a partir de um antigo tanque. “Fomos nós que pintamos o nome”, diz, com orgulho. “Promover o sucesso escolar é o nosso objetivo primordial”, explica a coordenadora, Ana Nogueira. Para continuar a crescer lançaram agora as Academias do TASSE, programas focados nas áreas do “desporto, artes, cidadania e informática” e que foi um dos vencedores do Prémio BPI Fundação “la Caixa” Infância, que distribuiu mais de €1,4 milhões por 38 associações.

É o caso da Esposende Solidário, que através do Power Rise apresenta um projeto que visa a “intervenção especializada junto de crianças, jovens e famílias que se encontrem em situação de vulnerabilidade pessoal” ou a “capacitação de agentes locais com vista à criação de redes de suporte comunitário”, explica a diretora-geral, Paula Barbosa.

Já o Response & Ability foi a proposta vencedora da Associação Social e Cultural de Louredo, como uma forma de “incentivo à parentalidade positiva”, explica a diretora técnica, Diana Maia, que prevê ações como a elaboração de um “manual de apoio” ou “a disponibilização de coaching psicológico aos pais que o solicitem”.

“Minimizar situações de risco e de vulnerabilidade social” é o foco do Espaço K, centro da responsabilidade da Casa da Primeira Infância em Loulé, explica Mariana Teiga, coordenadora técnica. Com o financiamento, será possível realizar “atividades de dança, de nutrição, higiene oral, ioga e meditação, bem como realizar uma atividade dinamizada por um membro da comunidade”.

Trabalho positivo combate exclusão

Em contraciclo com a média da UE, Portugal regista uma diminuição do risco de pobreza infantil, apesar dos riscos

Para Carla Fernandes, fundadora e presidente da direção da Adolescere — Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente, não há dúvidas: “Portugal, em comparação com alguns países europeus, tem feito um percurso brilhante na promoção, na proteção e na defesa dos direitos das crianças e jovens.” Mesmo que subsistam problemas, o caminho trilhado tem sido positivo.

É de resto o que indicam os dados. Segundo um relatório divulgado recentemente pela UNICEF, a taxa de pobreza infantil em Portugal foi de 19,3% na média do período 2019-2021, o que significa uma descida de 22,5% em relação à dos anos 2012-2014. Está na 13ª posição entre 39 países e foi apenas um de seis a ter sucesso na redução das taxas de pobreza acima da média da UE em 2021. A taxa europeia subiu 0,3%, mas de acordo com o Eurostat, em Portugal, o número de crianças e jovens em risco de pobreza e exclusão infantil diminuiu de 22,9% em 2021 (388 mil) para 20,7% (339 mil) em 2022.

Parte da mitigação do risco deve-se às prestações sociais e Carla Fernandes lembra que “garantir que todas as crianças tenham acesso a um conjunto de serviços essenciais contribuindo para a defesa dos seus direitos tem estado na agenda das últimas legislaturas e isto traz-nos, a profissionais da área, algum conforto e alguma esperança”. Até porque os perigos estão bem identificados: diz o estudo “Portugal e o elevador social: nascer pobre é uma fatalidade?”, da Nova SBE, que em Portugal, um quarto das crianças não consegue sair da situação de pobreza na idade adulta.

Distinguidos no prémio infância

  • A Mutualidade de Santa Maria — Associação Mutualista
  • AADC — Crescerbem
  • ABLA — Associação deBeneficência Luso-Alemã
  • Amor Pequenino
  • ANADIC — Associação Nacional de Apoio ao Desenvolvimento, Investigação e Comunidade
  • Aplausos Prometidos — Associação de Dança e Arte
  • APPDA — Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (Algarve)
  • Associação Bagos d’Ouro
  • Associação Calioásis
  • Associação Cova do Mar
  • Associação Outsiders Art and Dance Studios
  • Associação Social e Cultural de Louredo
  • Casa da Primeira Infância
  • Casa de Vilar — Associação Cultural e Artística
  • Centro de Animação e Apoio Comunitário da Freguesia de Alte
  • Centro de Solidariedade de Braga — Projeto Homem
  • Centro Social de Soutelo
  • Centro Social e Paroquial da Polvoreira
  • CiRAC — Círculo de Recreio, Arte e Cultura de Paçosde Brandão
  • CPR — Conselho Português para os Refugiados
  • Cruz Vermelha Portuguesa — Centro Humanitário de Elvas
  • Delegação da Amadora da Cruz Vermelha Portuguesa
  • Encontrar+se — Associação Para a Promoção da Saúde Mental
  • Escolíadas — Associação Recreativa Cultural
  • Esposende Solidário — Associação Concelhia para o Desenvolvimento Integrado
  • Fundação Santa Rafaela Maria
  • Instituto de Desenvolvimento e Inclusão Social — IDIS
  • Instituto Renascer - Associação Desenvolvimento Social de Barcelos
  • Kairós
  • OperaWave
  • ParadigmaJusto —Associação
  • Representação Permanente da Fundação Ayuda en Accion — Portugal
  • Sabiá Cooperativa Cultural e de Solidariedade Social CRL
  • Santa Casa da Misericórdia de Barcelos
  • Santa Casa da Misericórdia de Vale de Cambra
  • Santa Casa da Misericórdia de Vila Pouca de Aguiar
  • Talentifenómeno — Associação Desportiva
  • TreeTree2
  • União das Mutualidades Portuguesas

Projeto solidariedade

O Expresso é media partner do BPI//Fundação “la Caixa” para debater os desafios da solidariedade, do terceiro sector, das instituições que apoiam a infância, os jovens, os adultos, os seniores e as pessoas com deficiência.

Textos originalmente publicados no Expresso de 15 de dezembro de 2023

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate