O futuro chegou ao bloco operatório do Santo António

Jornalista
Tudo começou em junho de 2021, quando os profissionais e o Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUdSA), no Porto, se reuniram para pensar o bloco operatório do futuro. Da troca de ideias nasceu o iBird, que surgiu não só para modernizar o hospital como também para dar resposta à lacuna mais premente que persiste no SNS: a falta de recursos humanos. Como explica Ivone Silva, diretora do bloco operatório do CHUdSA, esta aposta forte na inovação, na transformação e na diferenciação tecnológica — através do iBird — é uma maneira alternativa e estratégica de “motivar os profissionais e de reter talento”.
Robôs, 5G e novos sistemas
“Hugo” e “Rosa” são os nomes dos robôs que ajudam a dar corpo a toda esta modernidade. O primeiro serve a urologia, a ginecologia e a cirurgia geral e o segundo dedica-se às cirurgias do joelho. “Somos o único hospital público que tem dois robôs”, diz Ivone Silva. A cirurgia robótica apresenta várias vantagens: é mais segura, mais precisa, menos invasiva, permite uma recuperação mais rápida do doente e acarreta menos complicações pós-operatórias.
O bloco está apetrechado com tecnologia 5G, utilizando-se óculos de realidade mista para realizar as cirurgias, e em breve o hospital avançará para o metaverso. Estas inovações permitem formar mais rapidamente os aprendizes — visto que é um hospital universitário —, sendo que “80% dos alunos dizem estar satisfeitos com este método”, conta a especialista. Favorece, igualmente, a redução do número de pessoas no bloco operatório, o que diminui a quantidade de infeções cirúrgicas.
“O CHUdSA é o único hospital público que tem o CollaboratOR1”, esclarece a diretora do bloco. É um sistema que promove a interoperabilidade entre dispositivos médicos, aglutinando a informação e facilitando a cirurgia, ao mesmo tempo que permite que outros especialistas — fora do bloco — possam assistir ou até intervir à distância.
Outra das soluções incorporadas no iBird é a app “Get Ready”, que acompanha o doente digitalmente desde que é inscrito para cirurgia robótica até ao pós-operatório. “Isto cria um canal de comunicação entre os doentes e a equipa cirúrgica”, afirma Ivone Silva. Há outras vantagens associadas a esta tecnologia como a redução do papel em 40%, diminuindo a pegada ecológica. Além disso, a instituição lançou um planeamento cirúrgico inteligente, que fez com que as cirurgias aumentassem em cerca de 8%, o que equivale a 242 intervenções.
Dada a sua pertinência e complexidade, o iBird foi a solução tecnológica que conquistou o prémio de Melhor Projeto de Transformação Digital nos Portugal Digital Awards, competição que pretende reconhecer aqueles que mais se destacam neste domínio. A verdade é que o júri não ficou indiferente à inovação aplicada a uma das áreas mais cruciais da medicina — a cirurgia —, sendo a saúde, no geral, um dos sectores que mais mudanças tem sofrido no caminho que a sociedade traçou rumo à digitalização. Além do galardão principal, o projeto somou mais duas distinções: Melhor Projeto de Saúde e Melhor Projeto de Futuro das Operações. “O iBird é pago pelos contribuintes, para uso dos contribuintes”, lembra Rita Veloso, vogal executiva do Santo António.
Personalidade digital do ano
Teresa Rosas, head of IT na Fidelidade, foi eleita a Melhor Líder Digital, outra das categorias mais importantes dos Portugal Digital Awards. Com uma carreira longa nesta área, a vencedora foi das primeiras a frequentar o curso de Engenharia Informática no país e sempre achou que a tecnologia “iria ser algo com um impacto único no mundo”. Teresa Rosas mostrou, desde muito cedo, vontade de “ver a tecnologia ao serviço de uma organização, transformando-a”, e é isso que tem tentado fazer na Fidelidade. “Este prémio é um incentivo para continuarmos a nossa transformação”, conclui.
A E-Redes esteve igualmente em destaque ao levar dois galardões para casa com o projeto GridWise, solução que venceu nas categorias de Melhor Projeto de Futuro da Inteligência e Melhor Projeto de Energia & Utilities. Esta é uma plataforma de monitorização e controlo que “irá ter um impacto nas redes de baixa tensão”, garante Ricardo Santos, diretor do departamento de inovação da empresa. Por fim, o Open Data, também da E-Redes, foi considerado o Melhor Projeto de Ecossistema Digital.
Locky Cacifos automáticos, criados pelos CTT, com horário alargado, sem filas e em locais de fácil acesso e com muitas pessoas para receção e/ou envio de encomendas.
Mobi CTT Aplicação para a Península Ibérica, também dos CTT, desenvolvida para suportar a atividade de entrega de correios e encomendas expresso em Portugal e na vizinha Espanha.
iFishCan Software, da Foodintech, de gestão de produção industrial e de qualidade que permite sustentar ou acelerar a tomada de decisões das empresas.
ALYA Plataforma do Banco de Portugal, dotada de sumarização, identificação de palavras-chaves, entidades e extração e classificação de informação.
Cognitive Operations Projeto da CGD com o objetivo de automatizar operações que consistem no tratamento de documentos heterogéneos, que implicam muito tempo de realização.
Ecossistema MyPets Plataforma, criada pela Fidelidade que se centra numa solução integrada para a saúde, o bem-estar, a fidelização e a gamificação dos animais.
GenAI — New Service AI Assistante Projeto que disponibiliza aos agentes da Ascendum um motor de IA que otimiza a identificação de problemas nas máquinas e seleciona a melhor resolução.
Apps for Good Portugal Programa educativo da CDI Portugal que desafia alunos e professores a desenvolverem apps, mostrando-lhes o poder da tecnologia na transformação do mundo.
Ambiente Digital da Tração Solução criada pela CP, para os maquinistas, que visa a transformação digital da atividade da tração, onde cada colaborador está afeto a um tablet.
Distinção digital
Já são conhecidos os vencedores dos Portugal Digital Awards 2023 — uma iniciativa conjunta da IDC e da Axians, à qual o Expresso se associa como media partner —, competição que já vai na 8ª edição e cuja missão é divulgar e distinguir as empresas nacionais que mais se destacam na área da transformação digital.
Textos originalmente publicados no Expresso de 8 de dezembro de 2023
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