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Lisboa e Porto devem ter governos metropolitanos

João Duque, Teresa Almeida, Augusto Mateus e Inês de Medeiros no debate moderado pela diretora adjunta do Expresso Paula Santos
João Duque, Teresa Almeida, Augusto Mateus e Inês de Medeiros no debate moderado pela diretora adjunta do Expresso Paula Santos
João Girão

Intervir nas grandes áreas metropolitanas acarreta desafios distintos de outras regiões do país. Na conferência que assinalou os 50 anos do Expresso e os 50 anos da elevação de Almada a cidade - e que contou com o apoio da Câmara Municipal do município - foi defendida a importância de uma gestão própria nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.

Lisboa e Porto devem ter governos metropolitanos

Marina Almeida

Jornalista

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Foi o economista Augusto Mateus quem primeiro pontuou a ideia: “Não podemos ter parlamentos regionais para as grandes regiões atlânticas e não ter um governo adequado para as grandes regiões metropolitanas”. Num debate sobre os desafios para Almada e para o país, o foco passou do concelho da chamada margem sul do Tejo para as áreas metropolitanas, com a importância de pensar a gestão conjunta.

“Não se pode governar Braga como se governa Almodôvar. No mundo rural temos de levar serviços às pessoas, nas regiões metropolitanas de ter uma eficiência colossal de transportes, estruturas, etc. Temos de acertar no nível a que nos movemos. Se fazemos tudo ao mesmo nível, não resolvemos nada”, sustentou o economista e antigo ministro da Economia do governo de António Guterres.

A perspetiva de colocar a Área Metropolitana de Lisboa (AML), mas também a do Porto, numa gestão autónoma animou o debate, e recebeu a concordância de outro economista, João Duque, bem como da presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros, que sublinhou o facto de “as áreas metropolitanas não darem qualquer sinal de esvaziamento” e que é nestas zonas que se concentra a riqueza, mas também os “grandes problemas”.

Já Teresa Almeida, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) lembrou que estas estruturas de intervenção local acabam de ser reestruturadas, com novas competências, “e têm de ter capacidade para integrar políticas”. Para esta responsável, o país “não pode estar permanentemente a fazer o repensamento dos modelos de organização interna, até porque isso atrasa o desenvolvimento”, sustentou.

Os transportes foram outra tónica do debate, que decorreu esta segunda-feira no Fórum Municipal Romeu Correia, em Almada. Foi destacada a importância de decidir a localização do futuro aeroporto, com a autarca de Almada a defender também uma terceira travessia do Tejo e a extensão do Metro até à Costa de Caparica.

Pensar a AML como um todo, a capacidade de criar novas centralidades e atrair populações, bem como a ligação à universidade foram outros dos pontos apontados pelo painel, que contou com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, na primeira fila. João Duque, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), considerou que Almada está muito dependente de uma “iniciativa única” da Faculdade de Ciência e Tecnologia, da Universidade Nova, e desafiou Inês de Medeiros a pensar em acolher um futuro polo do ISEG no concelho. A autarca lembrou as outras instituições de ensino, como o Instituto Piaget e o grupo Egas Moniz, e sublinhou a importância de abrir mais cursos de Medicina, “uma necessidade absoluta”.

Antes da conferência, foram apresentados quatro projetos imobiliários de investidores privados no concelho: Almar South Living, que prevê a construção de 540 fogos para as classes média e média alta; pavilhão Ricardo Bofill, uma vila privada de luxo desenhada pelo arquiteto espanhol falecido em 2022; uma residência para estudantes no Porto Brandão com 115 camas; o projeto da Quinta do Robalo, que prevê a criação de um parque urbano e de 26 mil metros quadrados de construção na arriba fóssil da Caparica.

Conferência sobre o futuro de Almada e do país decorreu no Fórum Municipal Romeu Correia
João Girão

Principais conclusões

Universidades

A ligação à universidade é essencial para fazer a diferença num território, produzindo conhecimento e cativando jovens. Atrair mais instituições e cursos é uma oportunidade.

Cultura

Um dos motores de desenvolvimento e de diferenciação é a cultura, que permite oferecer uma programação única e cativar públicos fora do concelho.

Instrumentos de gestão

A estabilidade das políticas e dos mecanismos de intervenção nos territórios é fundamental. No caso de Almada, as novas NUT II, com a separação de Setúbal, são encaradas como uma oportunidade no acesso a fundos essenciais para obras estruturais do concelho.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: malmeida@expresso.impresa.pt

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