Recuemos três anos e lembremo-nos de qual era, à época, a nossa condição: estávamos fechados em casa, impedidos de sair à rua, inquietos pela transmissão de um vírus sobre o qual pouco se sabia. Esta realidade montou o cenário perfeito para fazer explodir o comércio eletrónico e foi aí que a maioria dos portugueses — e o mundo em geral — percebeu a comodidade, a rapidez e a segurança de fazer compras online. Mas, após o salto dado com a pandemia, o ano de 2022 evidenciou uma desaceleração do crescimento do comércio eletrónico, amplificado pela guerra da Ucrânia e os seus impactos na economia. O ano passado foram gastos €5,3 mil milhões em produtos comprados no digital por parte dos portugueses, o que representa um recuo de 2,8% face a 2021. “O ano de 2023 já evidencia alguma retoma, ainda que tímida”, refere Alberto Pimenta. De acordo com o “e-Commerce Report”, apresentado pelo diretor de e-Commerce dos CTT, estima-se que o universo de compras online global (produtos e serviços) ultrapasse, no país, os €10 mil milhões no final de 2023.
O relatório mostra que os fatores preponderantes que determinam o perfil de quem compra online são a idade e a localização geográfica: há uma incidência nos grupos etários entre os 25 e os 54 anos (75%), mas já se nota um crescimento nos escalões etários mais elevados; no que diz respeito à localização geográfica, Lisboa e Porto representam mais de 50% do total de compras online. O telemóvel é o meio mais utilizado para realizar pesquisas de produtos ou serviços, mas o computador está na frente quando chega a hora de concretizar a compra. Facebook e Instagram são as redes sociais mais relevantes para o sector, embora o TikTok apresente um grande crescimento.
Dar uma nova vida aos produtos
Além dos avanços do e-commerce em si, há outra tendência que o estudo evidencia: a preocupação com a sustentabilidade de quem compra online — os e-buyers — e, por consequência, de quem vende online — os e-sellers. Segundo o relatório, cerca de 33% dos e-buyers portugueses compraram produtos em segunda mão e 45% vendem-nos do mesmo modo. Além disso, 70% dos compradores preferiam ter processos de entrega mais livres de emissões de carbono e 40% dizem que estão dispostos a pagar mais para ter soluções de entrega “mais verdes”. Para Sebastiaan Lemmens, strategy director da Vinted, o transporte é uma das coisas que mais o preocupa. “Estamos sempre a incentivar os nossos compradores e vendedores a usarem os pontos de recolha e os cacifos.” Estes estão cada vez mais espalhados pelas cidades, porque desta forma a viagem para transportar o produto acaba por ser mais curta do que quando é entregue ao domicílio.
A verdade é que a Vinted — loja online de produtos em segunda mão — tem em Portugal uma presença considerável (segunda plataforma deste género mais usada depois do OLX), mas ainda muito aquém de França, Reino Unido ou Países Baixos, onde a marca tem maior penetração. “A Vinted — com 80 milhões de membros — é a definição de sustentabilidade e é provavelmente a maior plataforma de segunda mão na Europa”, afirma Sebastiaan Lemmens. O interesse por parte dos e-buyers em comprar em segunda mão, o que aumenta o ciclo de vida do produto, explica-se não só pelo interesse em relação às questões sustentáveis, mas também “pelo aumento da inflação”, aponta, uma vez que estes produtos têm, à partida, um preço mais baixo e uma boa qualidade.
Outro dado relevante, apresentado por Inês Costa, associate partner para Climate & Sustainability da Deloitte, é que 89% dos consumidores pesquisam informações sobre o produto antes de o comprarem. “Isto tem uma relação direta com o ecodesign”, explica. O facto de as empresas não colocarem certas informações sobre o produto — como foi feito ou transportado — é considerado, nos dias de hoje, um “ponto negativo”.
A inteligência artificial vem mudar sobretudo a experiência do consumidor. Hoje, o e-buyer quer ser “orientado e compreendido”, explica Rogério Canhoto, chief business officer da PHC Software. Para isso, as empresas devem conseguir traçar o perfil de cada usuário, recolhendo e trabalhando os dados para personalizar ao máximo o serviço que entregam. Estas novas tecnologias são uma oportunidade, porque “permitem-nos repensar todo o processo de compra”, garante, acrescentando que haverá crescimento significativo nas vendas com a utilização das novas tecnologias.
Comércio digital
69,5%
apontam a facilidade como principal razão da adesão aos canais online. O preço mais baixo é o segundo fator (61,6%), seguido da possibilidade de fazer a compra a qualquer hora (60,4%)
70,2%
dos que compram online fizeram-no para adquirir vestuário/calçado. Seguem-se os equipamentos eletrónicos (55,4%) e, para fechar o top 3, os produtos de higiene e cosmética (44,4%)
39,4%
dos portugueses pagam por PayPal, 39% fazem a compra por referência multibanco e 38,8% pagam por MB Way, sendo este último o método que mais tem crescido em comparação ao ano passado
Os prémios do comércio eletrónico
A 3ª edição dos CTT e-Commerce Awards — a que o Expresso se associa como media partner — foi, pela primeira vez, em formato ibérico. A competição reconheceu as melhores práticas de comércio eletrónico e modelos de negócio digitais tanto em Portugal como em Espanha. Os três painéis de debate focaram-se nos desafios do e-commerce nos próximos tempos.
Textos originalmente publicados no Expresso de 17 de novembro de 2023